Sou
um apreciador recente de quadrinhos, e já há algum tempo venho acompanhando o
que vem sendo feito de bom neste ramo e fico salivando por novidades dos meus autores
preferidos. Ao mesmo tempo que, assim como no rock, é muito bom saber que há
uma movimentação local na produção de HQ’s e que essas produções saem de mãos
talentosas e possuidoras de uma liberdade criativa que se iguala à música que
aprecio.
A
mais recente novidade é a edição de número zero da revista Ozadia, que é uma
compilação de cinco histórias eróticas escritas pelas mãos de sete quadrinistas
e roteiristas daqui da Bahia. Lançada com o apoio do selo Quadro a Quadro e
ganhando popularidade a cada dia que passa, a revista tem dois aspectos
importantes para ser lida mais de uma vez: uma ótima fluência no seu texto e
traços inspiradíssimos de seus desenhos.
De
Ricardo Cidade e Alex Lins, “Especimen” abre a Ozadia com uma ótima ficção
cientifica pornográfica, onde a heroína sai em busca de coleta de amostras de
um certo material e se depara com um desfecho no melhor estilo Stephen King. Por
Bruno Marcello, “A Partir de 5” possui diálogos visuais nos quais os leitores
podem apreciar com mais liberdade a sacanagem que acontece a cada quadro.
“Sucumbir”, de Leonardo Maciel e Neto Robatto, traz uma história de proteção
que cairia muito bem em um filme da Emmanuelle. “Descaradagens na Bahia
Colonial”, de Sávio Roz, conta uma história de época, com um bom humor peculiarmente
baiano na qual uma dama é julgada por atos de comportamento considerados
avançados para o seu tempo. E por último, de Dan Cesar, tem “3 Real” que conta
a história de Mirandão, um detetive particular que sai em busca de respostas
para a sua cliente em uma perigosa Carlos Gomes noir. A revista ainda conta com
um bônus, um interessante classificados que vale a pena ser conferido.
Como
já vem sugerido no título, a HQ é imprópria para menores de idade e os rapazes
não economizam na explicitação da ideia original por meio dos seus desenhos e
por meio dos diálogos dos personagens. As histórias são curtas, mas possuem
profundidade no seu conteúdo proporcionando ao leitor uma nova oportunidade de
ler a obra outra vez e de levar a própria imaginação a lugares sugestivos para
pôr em prática o que veio à cabeça em um momento à dois, à três ou até mesmo à
quatro. Só senti falta de uma presença feminina no seu quadro de compositores.
A
baianidade também é uma marca forte da revista, que pode sim ganhar o mundo e
mostrar como é a safadeza por aqui, pois no momento em que escrevo essas
linhas, os rapazes estão no FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos, de Belo
Horizonte) autografando e propagando a sua obra. Para uma produção
independente, eles começaram muito bem, exatamente como em uma boa preliminar.
Que venham as próximas edições.