Nesta
próxima sexta feira (12/04/2019), às 20:00 horas, na Bardos Bardos,
Rio Vermelho, o compositor, guitarrista, e agora cantor, Leonardo
Panço lança o seu mais recente trabalho, Sombras, assim como o seu
fanzine Esopsa (com fotografias e textos de sua viagem à Berlim há
alguns anos) e também o livro-disco Superfícies. A noite ainda
conta com os soteropolitanos da Rosa Idiota, que se apresentam na
casa tocando o seu mais recente repertório.
Este
é o terceiro disco da carreira solo do ex-guitarrista da banda
carioca Jason e o primeiro assumindo os vocais de suas composições.
Tempos (2014) possui cantores convidados e Superfícies (2016) é
completamente instrumental. Sombras se distancia bastante do som do
grupo que o Panço fez parte e para a sua nova investida, em termos
de formato, aposta em uma mídia que, aos poucos, vem ganhando espaço
novamente: a fita K7. Um formato físico diferente e interessante (a
depender de como você vai usa-lo) em um meio no qual o CD e o LP
ainda são muito fortes.
O
disco abre com Um Tanto de Mim, faixa com energia e pegada
post-hardcore. As texturas do sintetizador que permeiam a composição
indicam o psicodelismo presente nela, assim como o teor igualmente
psicodélico da letra, contendo reflexões existenciais! Em seguida,
cantada em espanhol e em português, vem Nadie Te Quita Lo Bailado,
evocando um ambiente predominantemente mais atmosférico, lembrando o
Porno for Pyros em um bom momento da sua fase Good God's Urge, isso
em meio a guitarras de timbres sonicyouthianos. Assim segue em Por
Aí, que possui guitarras em eco, com sonoridade que se relaciona à
musica vinda do oriente médio, com nuances de sons de percussão e
piano, e batidas dançantes de maneira vagarosa, como em um sentido
inverso de uma música eletrônica em uma anti-rave, entonando o
mantra "feeling free to walk/andando livre". Interessante!
Technicolor, a menor faixa do cd, tem parceria do Panço com o
Rodrigo Sputter (The Honkers) na letra e aparece como um indie/dream
pop, com timbres nostálgicos e vocais melancólicos. Em seguida, vem
a belíssima Like Sunday, onde Panço divide os vocais com Marcelo
Xhá (que também assina a letra), trazendo uma melodia misteriosa,
bons insights vocais e linha de baixo bem construída. Ela segue a
corrente alternative rock noventisa norte americana, uma balada que
em seu texto se refere as atribulações do cotidiano, mas que
caminha esperançosa em seu fim.
Um
Ódio Tranquilo é mais tensa e chega com uma temática que reflete a
situação politica atual que vive o país e o mundo, onde o
desrespeito, a intolerância e convicções unilaterais acabam por legitimar o
ódio, que muita gente comete ou replica gratuitamente por esporte.
Com Mais uma Vez, Panço traz uma canção que lembra sons low-fi,
porém longe de ter baixa qualidade sonora. Novamente em parceria com
Sputter, Quando pinta uma paisagem surreal, sombria e de certa
maneira triste, com bons arranjos de guitarra com uma pegada guitar
band. Ainda com a letra do vocal da Honkers, João traz uma ótima
interpretação da composição, uma balada genuinamente shoegaze,
que evoca a força da órbita de Júpiter e vocalizações
melancólicas. Encerrando a obra, Mais Livre se inicia e termina com
guitarra e sintetizador criando uma atmosfera psicodélica espacial,
quase em transe, embalando uma letra que narra rapidamente uma trip
suave.
Em
pouco mais de vinte minutos, Sombras é um prato cheio para quem
gosta de indie rock e que, ao mesmo tempo, não quer se prender a
formatos musicais estabelecidos. O disco não soa contra cultural e é
rico em referências. Os vocais são despretensiosos e verdadeiros, e
as composições do Panço visitam de maneira moderna e madura o
ambiente noventista do rock, além de abrir espaço para outros
compositores abrilhantarem este seu recém lançamento. A obra acerta
em melancolia, psicodelismo, certa atmosfera sombria, guitarras e uma
cozinha objetiva, tudo dentro de uma sonoridade coesa. Neste momento
em que termino de escrever esta resenha, a rádio toca 7 Seconds, do
Youssou N'Dour com a Neneh Cherry, já é final de tarde e começa a
escurecer. Então, toco Sombras novamente!