2018
foi um ano bastante movimentado na produção rocker local. Como
muita gente já sabe, a Bahia é uma terra frutífera em termos
culturais e, no que se refere à musica, a diversidade de gêneros
encontradas por aqui é ilimitada. Dentro do rock, as suas várias
vertentes não param de dar as caras e o numero de trabalhos lançados
no ano passado se manteve em um nível igualitário em relação a períodos anteriores. Talvez até maior, devido a quantidade de
singles que foram lançados no último ano. Essa é uma boa
alternativa diante de orçamentos apertados e demandas de tempo
escassa, realidade de muito artista da cena local.
Então,
essa matéria de fato propõe o que o seu titulo sugere, ser um guia
com breves comentários de alguns singles lançados no ano que se
passou. O critério usado por mim para esta ocasião foi de apenas
falar sobre trabalhos que tivessem somente uma música lançada, ou
que fossem EPs que possuíssem até três faixas. E tem de tudo um
pouco nesta lista de dez nomes, tem banda nova, banda veterana
quebrando jejum, canções de amor, canções de protesto e registros
aguardados há muito tempo. Uma pequena, porém muito boa mostra de
alguns sons baianos. Faltou algo? Provavelmente sim! Mas, se você sentiu a ausência de alguém, é só me falar que incluo aqui, você
sabe onde me encontrar. Boa leitura e boa audição!
Kharbon
- O Homo Deus
Banda
novíssima na cena, a Kharbon chega com o single O Homo Deus fazendo
um som fincado no metal moderno com um pé no trash, influenciada por
bandas como Mastodon e Metallica. As paletadas seguras, de acordes
distorcidos e cozinha grave dão um tom sombrio à faixa, que possui
também referencias literárias inspiradas pela obra do historiador
israelense Yuval Noah Harari na sua letra. Existencialismo em alta em
uma trilha pesada criam uma atmosfera densa, com arranjos requintados
e um bom solo no seu climax. Boa estréia!
The
Honkers - Nothing Will Ever Change the Way
O
mais recente registro dos veteranos da cena roqueira da Bahia
termina, enfim, com um jejum de quase dez anos sem o quinteto lançar
algo inédito. Nothing Will Ever Change the Way, mostra uma The
Honkers ainda com gás e capaz para produzir mais sons garageiros de
primeira qualidade, uma riqueza que somente anos e anos de estrada
podem dar a um conjunto. As guitarras em cima e brilhando, a linha de
baixo lindona, bateria raivosa e o vocal insano, tudo sem firula, sem
freio de mão e sem inventar moda. E o melhor, divertido como sempre!
Nalini
Vasconcelos - Espera
Diferente
do seu single anterior, a cantora e compositora Nalini Vasconcelos
disponibilizou nas plataformas digitais uma canção de característica folk, com bastante instrumentos de cordas abraçando a
sua voz doce e suave. A musica, de atmosfera leve e otimista, possui
um bom arranjo de ukelele na sua sequencia final e envolve a singela
letra, que versa sobre como é bom seguir adiante em uma vida à
dois, aproveitando o que há de bom nisso e encarando os desafios do
caminho. Uma calmaria de fim de tarde em um final de semana
tranquilo, mesmo que o final de semana dure todos os dias!
Calafrio
- Primitivos
Aqui,
a feirense Calafrio surge com Primitivos, uma canção que fala sobre
os comportamentos humanos mais primais envoltos aos vícios, ou
"steps", da vida moderna. O desejo de fazer algo e a
ligação disso com os adicionais dos "alquimistas consultados",
para não entrar no vazio da existência, norteiam o sentido
desenfreado e veloz do ser humano em seu dia a dia. A canção imprime
bem essa velocidade com um new rock de guitarras marcantes, bons
riffs e com pitadas de stoner na cozinha, além de um refrão radiofonicamente grudento.
ExoEsqueleto
- ExoEsqueleto
Depois
de quase cinco anos do seu cd de estreia, a Exoesqueleto enfim lançou
o seu segundo trabalho. Com um título homônimo e com uma
significativa mudança em sua formação, com a entrada de Cadinho
Almeida (baixo) e Heverton Didoné (percussão), André Dias
(guitarra/vocal) e Renato Almeida (bateria) lançaram dois petardos
do rock baiano.
A
forte característica da musica regional candomblecista misturada ao
rock aparecem aqui amadurecida, mais redonda e coesa, um provável fruto do entrosamento dos rapazes. Em Outros Corpos, Vários Corpos,
o riff de guitarra empolgado anuncia o swing e o peso da musica, com
a banda chegando de galera na sequencia para não deixar dúvida
alguma sobre o impacto da canção. A veia setentista é bem evidente
nesta faixa de bastante fuzz, baixo preenchendo bem os espaços e
percussão e bateria dialogando certo. Isso embala a letra psicodélica-amorosa, que embarca em uma trip perceptiva dos melhores
sentidos vindos de quem se relaciona, ao ponto de querer um pouco
mais dessa pessoa. Em Ijexá, o quarteto desacelera um pouco, criando
uma atmosfera mais calma, com uma canção que remete aos melhores
trabalhos da Rita Lee no final dos anos 1970 e inicio dos anos 1980.
Suave sem abrir mão da personalidade musical, embalando uma boa
melodia tranquila para ouvidos bem apurados.
Búfalos
Vermelhos e a Orquestra de Elefantes - Bagaxa
O
duo soteropolitano lançou seu segundo EP com três faixas
poderosíssimas. Os irmãos Jende não economizaram peso para
registrarem o seu som pomposo e impactante, que mescla blues rock e
rock setentista, executado apenas por bateria e guitarra. Esse é o
exemplo sonoro de que menos é mais!
Duas
delas já são bem conhecidas daqueles que frequentam os seus shows.
Vida Alheia é empolgante e mostra toda a versatilidade da dupla,
começando lentamente para logo surpreender com um diálogo eloquente
entre os dois instrumentos, seguindo como um galope para o seu fim,
que parece explodir de riffs e viradas de bateria poderosos. Em A
Farsa, o duo não demora a mostrar o seu virtuosismo nervoso e mais
uma vez impressiona na precisão e combinação simétrica da guitarra
e da bateria, dando espaço para um interlúdio psicodélico que
prepara a musica para a entrada de acordes ainda mais pesados e
goovados, até. Na letra, os rapazes criticam a hipocrisia perceptível
na cara daqueles com segundas e obscuras intenções. Com Madame
Sophie, a mais nova das três, a banda chega com uma pegada mais
arrastada, com um rock no melhor estilo "bar de beira de
estrada", sem pressa de terminar e cantando sobre uma mulher
sempre presente no pensamento.
Pastel
de Miolos - Mate um Político por Dia
Com
a Pastel de Miolos o recado é direto e reto, sem enrolação ou
papas na língua. Também como um duo, só que com um baixo e bateria
em sua formação, toda a indignação com as atrocidades que ocorrem
em decorrência do descaso dos políticos para com setores importantes
da sociedade, é voltada neste verdadeiro mantra que é o desejo de
muita gente. A rapidez brutal da canção expressa muito bem o que de
fato muitos querem, diante da falência politica na qual vivemos. A
realidade é cruel e a gente, enquanto cidadão, está fadado a ter
representantes que só almejam o poder e nada mais. É certo o que
diz a letra: "um politico é um idiota vazio".
Os
Elefantes Elegantes - Colostomia Cerebral
Os
Elefantes Elegantes, aka Tony Lopes, assume todos os instrumentos
para realizar uma parceria com o artista Bruno Aziz, que assinou a
letra deste single que bate certo na cara da politica nacional e no
maior representante da nação. Provocativo e sarcástico, Colostomia
Cerebral escancara os absurdos reais dos esquemas políticos e
homenageia o resultado das urnas da mais recente eleição para
presidente, mandando mensagens de "carinho" para o
presidente do Brasilsilsilsil. É um rock divertido e acelerado, que
vai se manter atual por, pelo menos, quatro anos.
Meus
Amigos Estão Velhos - Coragem
Grupo
formado por vários músicos veteranos oriundos de antigas bandas
locais, a Meus Amigos Estão Velhos estreia com o single Coragem de
pé direito, acertando em uma sonoridade encorpada, de bastante
referencia musical. Os rapazes não negam a bagagem sonora que seus
antigos grupos garantiram para eles, porém apontam para frente no
caminho do seu som, que passa pelo indie, rock noventista de batida
lenta seguida de trechos explosivos, bons riffs e efeitos de
guitarra, e bateria inteligente. Boa novidade!
Tryxx
Bomb - Não Existem Amores
Mais
um duo, dessa vez formado pelo guitarrista Thiago Guimarães (Meus
Amigos Estão Velhos) e o baterista Breno Pires (Malgrada), fez a sua
primeira investida com a canção Não Existem Amores. O single segue
uma velocidade desenfreada bastante fincada no blues rock e no
stoner, sem ter receio de soar suja, um rockão forte sem dar pausa
para descansar ou deixar cochilar. Intenso como a narrativa do seu
texto sugere e requintado em sua sonoridade, a dupla não perde os
ganchos dos arranjos e fazem uma composição firme!