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Série “Mais uma Cara do Rock Baiano”: Wilson PDM, baterista da Pastel de Miolos.


A nossa série de entrevistas está de volta com uma das pessoas mais atuantes do cenário rocker baiano. Wilson PDM, baterista à frente da Pastel de Miolos e gestor da Brechó Discos há mais de duas décadas, fala aqui sobre o novo disco da banda, sobre a condição dela ser agora um duo, como é empreender na cena, sobre a nova turnê e também a respeito da campanha do Reação! no Catarse (https://www.catarse.me/pasteldemiolos). Se ajeite onde estiver e se jogue nessa entrevista!

SOTEROROCKPOLITANO - Wilson, gostaria de começar o papo falando sobre o novo disco que a Pastel de Miolos está preparando. Com o formato atual da banda como um duo vocês têm mostrado uma ótima desenvoltura ao vivo, mas como tem sido a experiência de ser uma dupla dentro do estúdio, nesse formato de bateria, baixo e vocal?

WILSON PDM - Olá, sobre o disco novo, será nosso 5º disco e um lance interessante: estamos gravando o 1º disco de punk rock brasileiro de uma dupla com formação baixo e bateria. A experiência de gravar nesse formato foi quase o mesmo de tocarmos ao vivo em um show, captamos a parte instrumental tocando como se fosse show e depois gravamos as vozes, basicamente o que ouvirem no disco, ouvirão tudo no show, quando começamos o processo de composição, pensamos nisso, não podíamos gravar coisas que não teríamos condições de executar ao vivo, então, todos os arranjos que estão no disco, as pessoas ouvirão nos shows, por isso o disco é bem direto, bem algo tipo “chegando de voadora com os 2 pés”, saca? Tivemos também a colaboração de Irmão Carlos na produção e de Pekka Laine na mixagem e masterização do disco, tanto pra gente, quanto pra eles, foi e tá sendo uma experiência nova, todos somos calouros nesse tipo de formatação “duo punk bass & drum”.

SRP - Quais as possibilidades sonoras que a banda tem explorado nas sessões de gravação? E quais as novas referências musicais que a banda tem buscado para deixar o som mais conciso?

WPDM - Acho que respondi boa parte na questão anterior, mas vamos lá: pra gente tem sido uma coisa única, acredito que crescemos de forma absurda, falo musicalmente, somos dois, que temos que fazer papel de quatro caras, basicamente isso, desde o primeiro momento, desde o primeiro ensaio, sabíamos que seria um grande desafio pra gente, e também, quando decidimos seguir nesse formato, conversamos e fizemos um pacto: que faríamos bem feito, não seria nada nas cochas, armengado, saca? Muitos pensam que é apenas um baixo com pedal distortion, mas não é tão simples assim não, tem distortion, mas tem outros pedais e elementos, que sem eles, não conseguiríamos ter a sonoridade que temos, mas acima de tudo, tem a forma que André toca, ele está se reinventando e eu (bateria) tenho também que ser mais preciso, estou buscando formas para o som ficar mais coeso, mais colado, tornando o som mais encorpado e pesado. Quanto as referências, acredito que continuam as mesmas, o punk rock, o hardcore, o metal, o rock de uma forma geral, acho q novas referências partem mais pelo lance da parte técnica, de equipamentos, pesquisamos muitas bandas nesse formato, buscamos referências de set de pedais, essas coisas.

SRP - O nosso país vive um momento político muito conturbado e negativo, com uma evidente apatia da população brasileira sobre esse fato, e é neste contexto que surgirá o quinto disco da PDM, Reação! Como isso tem incidido no processo criativo da banda e do novo disco em si?

WPDM - A escolha do nome do disco “REAÇÃO!” vem disso também, da atual situação que se encontra nosso país, tínhamos outros nomes, mas esse foi o que mais bateu com o momento que vivemos, falo também do momento que a banda passa, nossa REAÇÃO diante do fato de seguirmos no formato “duo” também contou muito para a escolha do nome REAÇÃO. Quanto ao processo de composição das músicas ocorreram de forma natural, André mandava as ideias, sempre construídas no violão e marcávamos ensaio, ele fazia a transposição para o baixo, tocávamos e daí íamos mudando e acrescentando algo na ideia original, a maioria já tinha a letra, outras, apenas instrumental e escolhíamos uma letra que melhor combinava. Teve umas 2 músicas que mostrei a levada de bateria e André fazia a base, o riff baseado no que eu construí. Todo processo de criação do disco foi feito por nós. Pedimos algumas letras a uns amigos, queríamos algo de alguém de fora da banda desde parte gráfica até mesmo letras e assim Edu Revolback, Bruno Aziz, Ilsom assinam a essa parte gráfica e Lima Trindade, Sandro Ornellas, Tony Lopes e Bidido mandaram algumas letras e musicamos, das 16 faixas do disco, 2 são de Tony, 1 de Lima, 1 de Sandro e outra de Bidido com algumas intervenções que fiz, as demais são de André e umas poucas feitas por nós 2.

SRP - Vocês estão prestes a começar uma nova turnê, quais são as expectativas da Pastel De Miolos sobre essa tour?

WPDM - Estamos na maior instiga pra pegar a estrada com músicas do novo disco, já temos alguns shows agendados na Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, ainda não saímos da Bahia com essa formatação duo, já temos um público bem legal em alguns lugares que a turnê vai passar, muitos tem nos mandado mensagens sobre o quanto estão ansiosos pra ver nosso show, e isso nos deixa bastante felizes.

SRP - Para além de músico, você também mantem na ativa há muito tempo o selo Brechó Discos, lançando muita banda/artista ao longo desses anos, o que prova que estar no rock também é empreender. Atuando em diversas pontas na cena, quais as dificuldades que você acredita ser mais presente no meio e o que te faz seguir adiante nesta labuta?

WPDM - Sou gestor do Selo Brechó Discos, desde 1989 venho apostando em bandas sem futuro e vou continuar até quando puder, pra mim é muito prazeroso manter o selo, é algo que sinto que estou contribuindo pra cena, já fizemos mais de 170 lançamentos, de todos os formatos que existem ou até mesmo existiram, atuamos tanto no meio musical, quanto também na literatura, sobre as dificuldades, as mesmas de sempre, a “fela da putagem” da monocultura do axé, a falta de lugares para as bandas se apresentarem, a ausência de um público que gere um consumo do que é produzido, acredito que se conseguirmos ter algo girando forte, com certeza chamaríamos a atenção de gente com interesse para se juntar a música independente que está sendo feita na Bahia, temos boas bandas, temos gente fazendo e lutando para um cenário melhor, a Bahia tem um lastro de bandas fantásticas, mas falta apoio, respeito, e grana!!!

SRP - Estando a frente do selo, como você enxerga a coexistência dos novos e velhos formatos de música? Streaming, cd, k7 e vinil se complementam, ou um ou outro é dispensável?

WPDM - Parece um ciclo, cada época, surge um formato ou algo parecido para fazer com que prevaleça a vontade da indústria, penso que, esses serviços de streaming de hoje em dia, fazem o papel das grandes gravadoras do passado, isso é fato, vejam, ultimamente grandes bandas soltam o novo álbum por algum desses serviços, está sendo raro, sair por todos de uma vez só, então, isso né a monopolização da obra? Né contrato? Né o que as gravadoras faziam e fazem? Acho importante e valido esses serviços, pois, hoje, qualquer banda pode ter acesso a isso, claro que não terá a máquina pra empurrar, mas tem acesso e pode, de forma criativa divulgar seus trabalhos, fazer com que possa chegar em todos os lugares inimagináveis, mas também acho importante q a banda continue produzindo CDs, LPs, Cassetes, DVDs e qualquer outro formato “físico”, acho papo furado esse lance que o Vinil morreu, o CD morreu, a puta que o pariu morreu!! Foda-se, sempre existirão consumidores para todos os tipos e formas de distribuição da música.

SRP - A banda está com uma campanha no Catarse para financiar o projeto do seu novo disco. Nos fale sobre as recompensas que terá aquele, ou aquela, que vai contribuir com a realização do Reação!

WPDM - Decidimos lançar a campanha “crowndfunding” após pensarmos muito muito sobre, mas foi a única forma que encontramos para gravarmos e prensarmos o novo disco, na real, é uma pré venda do disco, atrelados a outros produtos da banda, alguns desenvolvidos exclusivamente para a campanha como é o caso das camisetas, ensaio com as músicas do novo álbum, palhetas e cervejas, tem várias recompensas, com certeza existirá uma que caberá no orçamento de quem se interessar, esperamos atingir o maior número possível, isso nos ajudaria muito.

SRP - Para finalizar, deixo sempre essa espaço para um recado final do nosso entrevistado, fique à vontade para deixar o seu!

WPDM - Gostaria de dizer que: nunca desistam, insistam, façam bem feito, falta de grana não é justificativa para fazer um trampo malfeito, planejem e sejam sinceros no que se propuserem a fazer, atitude é tudo!


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