Sempre
quando escuto a um disco da banda Vômitos me vem à cabeça o lembrete do quanto
o rock também pode ser divertido quando ele é descompromissado com os aspectos
externos de uma banda, como: empresários, gravadoras, rótulos, regras do
cenário musical e formulas encontradas em cartilhas para se fazer algo que, em outra
época, se fazia pelo simples gesto da atitude de gritar contra aquilo com o que
se incomodava.
O
mais recente trabalho dos rapazes da cidade de Barreiras, intitulado “O Padre me
Estuprou”, transparece essa condição e ainda mantêm firme o caráter ainda mais
irônico e sarcástico de suas letras. Ao todo são dezoito músicas, dezesseis inéditas
(dentre elas uma cantada em inglês) e duas faixas ao vivo encerrando a
sequência do disco, as já conhecidas “Camisa de Abadá” e “Frank” (ambas do
antecessor “Punk Rock pra Mendigo”). Este cd também estabelece a formação do
grupo como um trio, com o Tito Scuum assumindo o baixo e o George Sthênio se
firmando de vez na bateria...
Aqui,
a Vômitos se mostra mais calejada e mais pesada na execução do seu punk rock,
algo já evidente no cd “Ao Vivo na Noite do Terror”. Vocais mais agressivos,
guitarras mais rápidas, viradas de bateria velozes e uma sutil, porém
perceptível influência do metal no som dos caras dão o clima que permeia o
álbum. A primeira canção é uma introdução que eles poderiam ter deixado de lado
e é seguida por duas faixas que trazem historias do cotidiano da banda. “CD da
Feira” narra a experiência de alguém ter comprado um cd de “rock pauleira” na
feira e, ao chegar em casa percebe que era, na verdade, um cd de arrocha.
Tenso! “Onde Está a Minha Carteira”, conta a história de um rapaz que foi atrás
do “Chicletão”, pensou que estava sendo sensualmente apalpado, mas acabou
perdendo a carteira para o novo dono do objeto.
“Dentinho”
e “Catalepsia” são as faixas possuidoras de paletadas metaleiras, esta última
começa com uma introdução doce e segue direto para a roda de pogo. Em “Eu Não
Gosto de Playboy!” e “Playbosta”, eles cantam contra os filhinhos de papai que
não sabem ouvir um “não” como resposta. “Trabalhador do Gerais”, “Revolução” e
“Eu Queria Roubar Também” formam uma sequencia punk desenfreada que leva o
ouvinte a “Junglex”, faixa cantada em português-inglês (“trogloditas are
fucking the cabritas”) e com um testemunho evangélico no seu fim.
No
melhor momento do disco, “Claudiano Vida Loka”, “Peguei Ponga no Carro da SAMU”
e “O Padre me Estuprou” percebe-se o quanto a vida de uma pessoa pode ser trágica,
emocionante e traumatizante, tudo ao mesmo tempo. Os seus respectivos títulos
já falam por si só! “Change Your Mind” (cantada em inglês) e “Bellend Bop” são
dois punk rocks empolgadíssimos que encerram a trilha de músicas inéditas.
A
sonoridade de “O Padre me Estuprou” é um aspecto do disco que parece desprovido
de vaidade: o seu som é melhor do que a obra anterior, mas está longe de ter
uma ótima qualidade. Se isso é bom, ou ruim, depende de quem irá escuta-lo. O
fato é que não deixa de ser divertido. Acredito e espero que a próxima
investida dos rapazes do oeste baiano tenha uma melhor qualidade de gravação. Afinal,
eles são jovens e terão tempo para fazê-lo. Enfim, assim como falei no inicio
do texto, às vezes também é bom ser descompromissado com isso. Quem já teve
banda de punk rock sabe do que estou falando.