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“Deus ajuda a quem trabalha”. - Resenha Callangazoo

É fato que muita gente espera as coisas caírem do céu, na intenção de conseguir o que se quer com mais facilidade, deixando, com isso, de saborear o gosto de cada conquista realizada pelo caminho. Esse não é o caso da banda soteropolitana Callangazoo, um dos grupos mais ativos do cenário local e que lançou neste ano o seu mais recente EP, “Surpresa”.
“Deus ajuda a quem trabalha”, já dizem os mais velhos quando se referem aqueles que labutam arduamente para dignificar o seu lugar sob o sol. Frequentemente, há uma apresentação da Callangazoo em algum canto de Salvador e o seu interesse em fazer a coisa acontecer, agrega um bom diferencial ao seu trabalho. Assim como algumas outras bandas, a militância na divulgação de sua obra vai muito alem das fronteiras das redes sociais e é merecedora de um bom alcance. O zelo pela boa produção dos seus EP’s (este já é o terceiro) é mais um indicativo dessa virtude.
Contando novamente com a produção do Irmão Carlos, “Surpresa” possui três canções que seguem a trilha dos trabalhos anteriores da banda, com um rock groovado, ensolarado e divertido. O vocal de sotaque forte, peculiar...
e inconfundível do seu frontman, Cebola Pessoa, é outra ótima marca na musica dos rapazes que se manteve nesta ocasião. Começando com “Sua Maneira”, música de guitarra bem presente, a banda fala sobre alguém que saiu na noite para resolver as suas aflições e terminou achando a sua melhor forma de solucionar a inquietação. “Tereza Surpresa” é uma canção bem swingada, com forte influência de ijexá e ritmos caribenhos que lembram uma boa lambada, daquelas que faz você começar a se mexer, mesmo estando deitado. Isso sem perder a vertente rock do grupo, mantendo um riff pegajoso e um ótimo solo de guitarra! É minha predileta! Fechando o disco vem “Lições de Slackline”, faixa que faz analogia do equilíbrio que devemos ter na vida, com a modalidade esportiva referida no seu título. Tentar se equilibrar na corda bamba da vida requer boas escolhas, auto-critica, objetividade e serenidade. Afinal, como diz o seu texto, “se quer colher o trigo, então porque plantar café?”

Um ouvido desatento pode achar que a banda se repetiu nessa investida, mas o fato é que eles têm uma linguagem muito particular e que tem se desenvolvido ao longo de sua trilogia de EPs. Os solos de guitarra, que estão mais bem executados aqui, esclarece bem esse fato. Existem outros, e todos adquiridos pela vivência e atividade de quem se move e de quem faz por merecer cada vitória conseguida no percurso. OUÇA!

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