Pular para o conteúdo principal

Eu aguento um pouco mais.*


         Se tem uma coisa que o rock nunca vai perder, é essa coisa da verve juvenil, do impulso jovial e da energia adolescente que ele sempre faz questão de alimentar de tempos em tempos através de um sangue novo, com os roqueiros mais velhos transmitindo esse espírito para os mais novos. É claro que como em todo e qualquer lugar, tem gente que envelhece bem, que mantêm essa chama acessa por muito tempo. Mas sempre há a necessidade de passar a tocha para quem chega em novos tempos.

            Nesse ano de 2015, em seu trabalho de estréia, o trio Bilic Roll não inventa moda e se alimenta do mais puro rock direto e tradicional, porém não foge de referências distintas do estilo. Seria preguiçoso e injusto dizer que o cd, intitulado Ninguém me Aguenta Mais, é apenas um disco de rock puro. Ele é um disco de rock puro, também. A atmosfera hard rock permeia as seis trilhas que compõem esse debut e liga os pontos entre as canções, do seu início ao fim.

            Ninguém me Aguenta Mais tem uma pegada grunge no refrão, mas já mostra a face neo rock da primeira década desse século. Além de ter uma boa dobradinha entre a guitarra e o baixo na sequência final da faixa. Intrigante Agonia é um rock mais simples e direto com claras influências de Vivendo do Ócio, é onde o hard rock aparece com mais evidência. Aqui no Ócio possui uma influência de rock de garagem-lisérgico-sessentista, com um groove hendrixniano deixando um bom gancho para o balanço das pessoas na pista. Um bom refrão e um bom solo se somam bem à canção. É o ponto alto do disco. Mais funkeada ainda, Fissura tem boas texturas de guitarra e uma cozinha que não perde o ritmo e não permite desvios de atenção do ouvinte. É a faixa que a bateria ganha um bom destaque. Velho Vinil aparece com um vocal mais chapado e becking vocals tirados do britpop da década de 1990. Um momento mais tranquilo no meio da música a tira da linearidade, para depois voltar para a porrada gritada e com os amplificadores avolumados. É mais um bom momento do EP. Fechando a obra, Veneno Doce traz novamente a influência de Hendrix no trabalho do grupo, dessa vez com o wah-wah das bandas californianas noventistas.

            Ninguém me Aguenta Mais é divertido e não se complica em momento algum. Mesmo com tantas vertentes do rock dentro das faixas, não é um quebra cabeça a ser montado. É claro que sendo jovens, os três rapazes irão ao encontro do seu próprio som, terão que amadurecer mais a sua música e talvez seja aí o lugar onde esteja a graça. A Bilic Roll tem a fagulha flamejante do rock a seu favor, só cabe a ela envelhecer bem.


Conheça o som da Bilic Roll: https://soundcloud.com/bilicroll


*Matéria originalmente publicada em 23/10/2015.

Popular Posts

O Pulsar Rebelde do Rock Baiano nunca tem fim!

O rock baiano, desde suas origens, sempre foi um terreno fértil para a inovação e a fusão de estilos. Se olharmos os textos de Léo Cima aqui do blog "Soterorockpolitano", você vai ver que o cenário atual do rock na Bahia continua a se reinventar, mantendo viva a chama de suas raízes enquanto abraça novas influências. Nos anos 70 e 80, o rock baiano emergiu com uma identidade própria, mesclando ritmos regionais como o samba e o axé com as guitarras distorcidas e a energia do rock. Bandas como Camisa de Vênus e artistas como Raul Seixas marcaram época, criando um legado que até hoje inspira novas gerações. Atualmente, o cenário do rock na Bahia é caracterizado por uma diversidade impressionante. Bandas como MAEV (Meus amigos Estão Velho), BVOE (Búfalos Vermelhos e Orquestra de Elefantes), Entre Quatro Paredes, Demo Tape, URSAL, LUGUBRA, Declinium, Venice e muitos outros nomes trazem novas sonoridades, combinando letras poéticas e engajadas com arranjos que passeiam pelo indie,

Uma viagem no tempo, sem perder tempo. Por Leonardo Cima.

Todos os discos que lançamos pelo selo SoteroRec é especial, com cada um possuindo a sua particularidade. Cada um deles carrega uma história interessante por trás de suas faixas, que as vezes não chega ao ouvinte, mas que fortalecem o fator intangível agregado no resultado final de uma obra. Com toda banda é assim e com a Traumatismo não poderia ser diferente. Foi bem curiosa a maneira como a banda chegou ao nosso acervo. Estava eu conversando com o Adrian Villas Boas, hoje guitarrista da banda Agrestia, sobre a proposta do selo de também promover o resgate da memória da cena local, quando ele me falou que havia essa banda na qual ele fez parte tocando baixo, que chegou a gravar um disco não lançado e que se encaixaria muito bem com o propósito colocado, indicando-a para o catálogo, caso a gente  tivesse interesse nela. Eu, que já fiquei entusiasmado antes mesmo dele citar o nome do grupo, ao saber de qual banda se tratava, fiquei mais empolgado ainda. A Traumatismo, anteriormente cham

O garage noir da The Futchers. Por Leonardo Cima.

Nesses últimos dois meses, o selo SoteroRec teve a honra e a felicidade de lançar na sua série Retro Rocks, os trabalhos de uma das bandas mais interessantes que a cena local já teve e que, infelizmente, não teve uma projeção devidamente extensa. Capitaneada por Rodrigo "Sputter" Chagas (vocal da The Honkers), a The Futchers foi a sua banda paralela idealizada e montada por ele próprio no final do ano de 2006. A propósito, o nome Futchers vem inspirado da dislexia do compositor britânico Billy Childish, que escreve as palavras da mesma maneira que as fala. Ele, ao lado de mais quatro integrantes, também de bandas locais da época, começaram os ensaios com uma proposta sonora voltada mais para o mood e o garage rock, se distanciando um pouco dos seus respectivos trabalhos nos grupos anteriores. Relembrando um pouco daquele período e como observador, esse "peso" de não ter que se repetir musicalmente recaía um pouco mais sobre Rodrigo. Não que houvesse isso