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No caminho certo!*


Já falei aqui algumas vezes que o cenário do rock baiano é diverso. Ao mesmo tempo em que há uma banda com um som mais pesado e objetivo, existe também outra com uma linguagem mais leve e abrangente. É dentro dessa ultima característica que se encontra a banda A Flauta Vértebra em seu trabalho de estreia.

As influencias do quinteto se sobressaem em seu som, influencias essas que vão do rock até a MPB, passando pelo jazz. Isso não traz muita novidade para a sua música, porém soa mais verdadeiro uma vez que escolhem um caminho diferente dos demais conjuntos que possuem a mesma influência: a banda não cai na armadilha conveniente de parecer um filhote gratuito do Los Hermanos.

O disco começa com “Polaroid”, música com boa mistura de suas referências com começo e refrão rock, uma bem evidente pegada jazz no teclado que embeleza os arranjos, além de ecos de Mutantes no ar. Em seguida vem “Epílogo Atroz” com clima mais alegre, com nuances setentistas e letras que falam sobre alguém que desencanou de um romance passado e seguiu em frente. “Tanta Retórica” é disparada a melhor faixa do disco. Ela lembra algo feito pelo Caetano Veloso em meados dos anos 1980, com bons momentos na bateria e uma ótima letra. Poderia fácil, fácil tocar na radio. “Renato” é uma balada inevitável dentro do EP, trazendo para o ouvinte um momento mais calmo da audição e “Revolução – Parte 1” encerra o trabalho em ritmo dançante, com sonoridade diferente em alguns momentos na bateria e som de palmas por quase toda a trilha. Esta foi a canção escolhida pela A Flauta Vértebra para ser disponibilizada na rede antes do disco completo.

Nesta primeira investida a banda não aponta para todos os lados a esmo, mas é evidente que ainda precisa amadurecer mais para achar o equilíbrio de sua música e se tornar mais original, mais única. Com produção do Irmão Carlos o grupo conseguiu uma ótima sonoridade, mostrando um bom entrosamento. O teclado se sobressaiu em alguns momentos, garantindo assim um tom mais diferenciado ao som do disco.

A voz da vocalista Sohl também se destaca por ser suave, doce e forte nos momentos certos sem ser exagerada. A arte da capa é sutil e é um cartão de visita para o que o ouvinte irá escutar. Este trabalho é uma boa introdução ao som do grupo que já existe há um bom tempo e que só agora começa a fazer shows com mais frequência na cidade e acho que isso fará bem ao conjunto.

Conheça o som d’A Flauta Vértebra



*Matéria originalmente publicada em 22/06/2015

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