Já
conhecia a Old Stove há algum tempo por aqui pela web, mas foi bem inusitado e
bom ser pego de surpresa ao sair de um lugar, em um aparente final de noite, em
um Rio Vermelho ainda de cabeça para baixo por conta da sua reforma na época e
se bater com a banda tocando no passeio, rente a grade das quadras. Já era
quase quatro da manhã, o sol não ameaçava aparecer e a banda estava ali como se
a noitada estivesse começando.
Quem
organizou o evento e quem os trouxe, infelizmente eu não sei dizer. Só sei que
a noite era de halloween e o trio de Vitória da Conquista estava ali, na minha
frente, tocando um stoner rock denso e pesado, fazendo a trilha sonora para
muita coisa que estava acontecendo ao seu redor naquele exato momento. Buzinas
de carro, briga entre duas mulheres enciumadas, gente tropeçando nos buracos do
lugar e romances sob a luz do luar. Tudo ao mesmo tempo “naquele agora”. Foi
diferente o meu primeiro contato ao vivo com #1, primeiro disco da banda, porém
interessante.
Disco
esse com uma certa referência grunge acentuada e que possui um tom bastante sombrio
e psicodélico, bem em voga dentre vários grupos do gênero na atualidade. #1
começa com Place Pigalle, canção de boas timbragens, arrastada, porém
empolgante, com guitarra e cozinha pesada, e solo bem em evidência. Depois,
Consider This já entrega um momento mais psicodélico da obra, dentro de uma
massa sonora significativa para dar ao ouvinte uma atmosfera de ondas lentas,
com bastante fuzz e distorção. This Side of Paradise se inicia só com guitarras
e é onde os elementos do grunge começa a florescer no som do conjunto, com uma
cadência que lembra algo bom do Soundgarden na fase Down on the Upside até
explodir no refrão com vocais laynestaleyanos, possuindo momentos de climas
sombrios e misteriosos mesclados a personalidade da faixa para explodir
novamente no refrão. Talvez a melhor deste trabalho!
Days and Hours continua
trazendo a essência grunge do conjunto, porém em meio de uma névoa mais densa
que este gênero somado ao stoner podem proporcionar. O seu solo se destaca no
minuto final da faixa, que é cuidadosa mente colada com Glória, trilha
aparentemente mais tranquila por conta de sua longa intro. Isso somente até cada
instrumento entrar em alto volume nos ouvidos e depois vir com o refrão
poderoso e uma finalização com boa textura de guitarra. Encerrando, To Come tem
bons momentos da bateria, que surge com viradas seguras e também pelo fato de
mostrar um som mais conciso dentro do psicodelismo desértico que o disco
caminhou até chegar neste ponto. Mais uma ótima faixa!
O
som arrastado da Old Stove tem qualidade e mostra um lado diferente do stoner
sendo feito aqui na Bahia. Mais denso e com boa dose de psicodelia, a banda
mostra uma boa fusão entre esse estilo e o grunge, gêneros que se fundem com
facilidade em muitas bandas que seguem esse caminho, e tentou equilibrar ambos
nesta primeira investida. Em certos momentos um se sobressai mais que o outro,
mas nada que tirasse o mérito de #1 ser um bom registro. Do nosso “encontro”
inusitado no Rio Vermelho, até o último segundo de som na web foi uma boa
apreciação.
Conheça
o som da Old Stove: https://oldstove.bandcamp.com/releases
*Matéria originalmente publicada em 25/02/2016.