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Rock e primavera.*


            Na última sexta feira a estação das flores finalmente chegou e para celebrar a sua presença as bandas Cartel Strip Club e Callangazoo se apresentaram no evento Primavera Rock, que aconteceu no Dubliners Irish Pub. Com bandas que combinam bem com a atmosfera da estação, fui conferir o que cada uma delas preparava para a festa.

            A chegada foi bem no momento marcado para começar o som, mas houve um certo atraso e isso acabou dando espaço para bons papos e até mesmo uma inesperada batalha de poemas onde o "desafiante" (um rapaz que apareceu do nada) saiu vencido por ter recitado uma obra de um outro autor, enquanto o "desafiado" (Leo Abreu, baterista da Callangazoo), recitou dois da própria autoria. Dois a um de virada no placar final e o derrotado ainda saiu queixando para o seu oponente um copo de cerveja.

            Ainda com pouco público no local a banda Cartel Strip Club abriu a noite com o seu indie de fácil assimilação. O septeto tocou um repertório totalmente autoral e com músicas cantadas em português e em inglês. Não foi muito diferente da sua apresentação anterior no Pelourinho, mas se diferenciou pela qualidade sonora do palco onde dava para escutar melhor as letras e cada instrumento. O bom ritmo do show foi se mantendo mesmo nos momentos em que guitarristas e baixista reversavam os seus instrumentos, porém houve uma quebra nesse ritmo quando o baterista resolveu ir ao banheiro no meio da apresentação. Isso já foi quase no fim e não comprometeu a performance do conjunto.

            Na sequência e encerrando a noite, a Callangazoo subiu ao palco para tocar o seu rock ensolarado e dar boas vindas a primavera. Já havia muito tempo em que devia uma visita no som dos rapazes e foi uma boa primeira experiência. A banda bem entrosada é muito fiel as suas gravações, tocando um setlist focado, em sua maioria, nas suas canções autorais de seus cinco trabalhos lançados. Foi percebido também que o grupo sabe utilizar covers a seu favor, tocando versões próprias de músicas de outros artistas que se encaixaram bem na apresentação. Teve de Raul Seixas a Mutantes, todos eles possuindo conexões com Tereza Surpresa, Brinquedo e Dipatchara, que foram canções que se destacaram no repertório dançante e groovado do quarteto. No final teve muita gente dançando, suando e pedindo bis. Quem não foi desta vez não deixe de ir na próxima.

            Terminada a festa, o caminho de casa era longo e precisava ser seguido. Sabia que veria alguma reprise do Rock in Rio quando chegasse. Dito e certo. A tv não passou nem dois minutos ligada. Foi bem melhor ter saído de casa.


*Matéria originalmente publicada em 22/09/2015.

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