Continuando
ainda com o Festival Radioca III, trazemos agora uma entrevista com a banda
Mopho (AL). O João Paulo e o Dinho Zampier bateram um papo conosco e falaram
sobre como foi tocar pela primeira vez em slvador depois de duas décadas de
carreira sobre como foi o processe interessantíssimo de criação do seu mais
novo trabalho, Brejo e sobre o cenário atual. Foi ótimo! Então, encontre a
melhor maneira de ler essa entrevista e confira o som do ótimo Brejo!
Soterorockpolitano
- Pessoal, parabéns pelo show, gostei muito dele, mas gostaria de saber o
porque que vocês levaram tanto tempo para poder fazer uma apresentação em
terras baianas. Porque demorou tanto e como foi essa experiência?
João
Paulo: Na real, foi falta pura e simplesmente de um convite, de
uma oportunidade, sabe? É por conta também nessa trajetória de vinte anos a
gente mudou muito de formação e tal, aí isso tira o foco, né? Então,
basicamente foi isso! Até que quando surgiu a oportunidade a gente ficou bem
feliz mesmo. E, meu irmão, muito massa aqui! A galera, eu não esperava, não,
que a resposta fosse tão bacana, cara! O tratamento à banda pela produção do
evento foi maravilhoso, o público bacana da peiga e eu nunca tinha vindo a
Salvador e estou feliz que só!
SRP
- Eu estava ali em baixo e a receptividade foi excelente!
João
Paulo: Fiquei feliz pra caramba! A despeito de ser um setlist
curto, da gente passar o som e aí na hora que vai tocar tem coisas que estão
diferentes no palco, isso tira um pouco a concentração. A gente tinha feito um
repertório, mas tocamos um pouco menos que quarenta e cinco minutos e algumas
coisas ficaram de fora subitamente. Mas a gente entende, não temos o que
reclamar. Queremos voltar outras vezes!
SRP
- Disco novo na área, vamos falar um pouco sobre ele! No Brejo está lá o Mopho
em sua essência, está lá o rock psicodélico sessentista, o rock de garagem
desse período, o rock brazuca dos anos setenta, porém um Mopho mais maduro,
mais conciso, com as canções mais redondas. Eu gostaria de saber como foi o
processo de criação do disco, quais as influências que recaíram sobre a banda
nesse período de criação de Brejo?
João
Paulo: Então, bicho, em 2008 fizemos um show emblemático em
Macapá e conseguimos reunir o Bocão (ex-baixo) e o Pisca (ex-bateria), que
tínhamos gravado juntos com Leo (atual baixista) no teclado o primeiro álbum. Reunimos
essa galera já com o Dinho (Zampier) no teclado e daí houve aquele lance de
“vamos voltar a banda pra fazer um disco”! Aí, nos reunimos e em três ensaios a
gente pré-produziu e foi para estúdio gravar o Vol. 3. Nesse período, eu já
vinha desenvolvendo grande parte das canções que entrariam em um hipotético
álbum a ser gravado por essa formação. Visto que quando estávamos gravando o Vol.
3 a minha contribuição era muito pequena, só tenho duas músicas no álbum, Você
sabe Muito Bem e Quanto Vale um Pensamento Seu. O resto era o esboço, o esboço
dessas canções que apareceram agora no disco Brejo, entendeu? Aí a formação
acabou de novo! Aí ficou engavetado e nem sabia se ia fazer com o nome Mopho e
tal. Foi quando há uns dois anos eu entrei em contato com Dinho e disse “e aí,
Dinho, vamos gravar logo, cara, vamos ver qual é!”. Fui na casa dele, a gente sequenciou
uns andamentos e os ritmos, e na véspera da gravação passou para o batera, e passou
para o baixista. Vou ser muito sincero, eu queria uma coisa mais orgânica,
sabe? Eu estou feliz pra caramba, é um disco honesto pra caramba. Mas acho que
aquelas canções poderiam ser um pouco mais maturadas, cara, num processo de
pré-produção com banda, sabe? Então, é foda porque estou lançando o álbum, mas
já estou meio que falando mal dele! (risos). Porque, na verdade, já estou
ansioso por um quinto álbum! Eu acho Brejo um disco bacana, mesmo, só que eu me
ressinto do fato de não ter tido tempo, de não ter tido clima de banda. Então,
praticamente é um disco com canções minhas. Tanto é que gravamos um quarto do
disco com outro baixista, foi quando eu não estava gostando, aí poxa “vou
chamar o Leo, né?”. Aí o Leo colocou os baixos e a coisa começou a tomar uma
forma diferente, porque até então estava bem esquisito.
Dinho
Zampier: A gente sofreu muito, na primeira demo desse disco, a
gente sofreu muito porque a gente não conseguia “O” clima!
João
Paulo: O clima, cara. Não tinha um núcleo, não tinha uma
pegada, sabe?
SRP
- Então, essa questão desse intervalo de seis anos entre o Vol. 3 e o Brejo foi
por conta dessa mudança de formação da banda e também pela maturação das
canções?
João
Paulo: Na verdade, essas canções já estavam prontas há uns seis
anos, por aí. Quando não faltava uma estrofe de uma canção, faltava resolver harmonicamente
uma passagem, ou ritmicamente outra. E por conta de “não existir banda”, de
fato, para ensaiar e para resolver isso, a coisa foi ficando assim! Até que eu
tive aquela coisa de “agora vou ter que lançar essas musicas para poder dar um
passo à frente”, se é que vou fazer alguma coisa com a Mopho de novo, ou não!
E, no final das contas, eu fiquei muito feliz. Depois que o Leo colocou os
baixos, que já deu um groove, um molho diferente, aí a gente sentiu que estava
a Mopho mais ou menos ali. Mas a primeira gravação, que era com o outro
baixista, velho, eu escutava e dizia “não tem como, velho”.
Dinho
Zampier: Nos salvou aos quarenta do segundo tempo! (risos)
João
Paulo: O Leo chegou e aí gol. Basicamente foi isso! (risos)
SRP
- Eu achei o disco muito bonito, Limiar (uma das faixas) é desse período?
João
Paulo: Limiar e Não Sou de Ninguém foram as últimas, já foram
compostas, assim, em 2012/2013, já foram as últimas no processo. Limiar é uma
música que eu acho foda! Por exemplo, Limiar, aquele ritmo de valsa ali, a
bateria poderia brincar um pouco mais, entendeu? A sensação ali é quase que um
drumbox “tacum ta cutum, tacum ta cutum”. Ficou lindo, mas já pensou se fosse
um groove a lá Dig a Pony, dos Beatles, com aquelas frases do Ringo? Era como
eu pensava a música. Mas no final das contas rolou, cara! Eu estou feliz com o
álbum!
SRP
- Vocês estão completando vinte e um anos de estrada. Há duas décadas atrás,
com vocês tocando e a gente observando, a gente via que no cenário independente
não havia tanta banda de rock genuinamente psicodélica, não tantas quanto hoje,
que parece que houve um boom de bandas dessa linha, encabeçadas pelo Boogarins,
My Magical Glowing Lens, Bike. Eu quero saber sobre o que vocês acham dessa
nova leva de bandas psicodélicas brasileiras e como vocês se enxergam dentro
desse meio sendo a Mopho uma banda pioneira nessa vertente aqui no Brasil?
João
Paulo: Bicho, antes de mais nada, eu, particularmente, não
considero essencialmente o som do Mopho psicodélico. Tem vários elementos e tal.
Mas eu diria que a gente flerta muito mais com folk e com jovem guarda, com
alguma coisa progressiva. Ecos de Pink Floyd na mesma proporção com ecos de
Roberto Carlos. Mas eu fico feliz pra caramba de perceber como a turma até meio
que reverencia o Mopho enquanto um pioneiro nesse resgate. Fico feliz para
caramba! Com relação às bandas novas, o Dinho que é uma cara que toca bem mais
do que eu, viaja por aí, conhece as bandas todas. Eu, particularmente, ouço
falar, mas eu não tenho escutado, cara. Estou cada vez mais naquela de resgatar
mesmo as eternas velharias, sabe? Mas sempre tem uma coisa massa que eu não sabia
que existia nos anos sessenta e setenta, aí estou sempre por lá. Mas o Dinho me
comenta sobre várias bandas novas!
Dinho
Zampier: Outro dia eu mostrei para ele o O Terno. Muito legal,
uma cena que acompanho por estar sempre circulando e tal. Já vi o show deles, vi
do Boogarins, da Bike e da The Baggios também, do Júlio, que estava conosco agora
há pouco aqui. É uma cena nova com muita autenticidade no som!