Um
dia desses, estava eu escutando o primeiro trabalho dos caras da Weise, o EP
“Fora do Céu”, e me lembrei do dia em que, ainda enquanto banda, atendemos ao
convite dos rapazes para abrirmos o show de lançamento do referido disco.
Enquanto a banda tocava, me chamava a atenção o fato do grupo ser intenso e
cheio de personalidade, mesmo com a aparente timidez do Paulo Diniz e do
Leonardo Freitas naquele momento...
A partir daquele instante, só me
veio em mente torcer para que eles tivessem uma boa trajetória na cena e que
suas escolhas musicais não os levassem para o abismo do sumiço e sim, para a
maturidade que muitas bandas almejam alcançar. E essa tal maturidade apareceu no
finalzinho do ano de 2013, com o álbum “Aquele que Superou o Fim dos Tempos”,
que mostra uma Weise mais experiente e com mais referências na sua bagagem.
A verve grunge do primeiro EP ainda
se encontra nas suas canções, mas ela abre espaço para tudo o que os rapazes
acumularam das coisas que leram, ouviram e experimentaram ao longo dos anos. O
disco já começa belissimamente desconcertante com “É Tarde” mostrando energia
texana e uma ótima letra, com uma pegada mais dançante “Falsa Modéstia”
consegue manter o ritmo forte e prepara o caminho para a também dançante, mas
com pegada folk, ”Entre a Rua e o Para-Brisa” e para a instrumental com cara de
jam “Dor Alegre”. “Morpheu Menino” é talvez uma das músicas mais interessantes e
intrigantes da obra, nela tem elementos variados como punk, valsa e
psicodelismo, todos eles dialogando com facilidade sem perder o equilíbrio.
“Desperto” é a veia mais grunge e mais arrastada do disco e é seguida por
“Santo Lá”, um rock mais veloz e objetivo. A sequência final do cd, que seguem
as canções “Desde o Cordão”, “Sentimento do Mundo”, “Eclipse” e “Dilúvio”, traz
uma abordagem mais conceitual e merecedora de uma atenção especial do ouvinte, é
como se fosse um final abbeyroadiano com sotaque soteropolitano!
O tom descompromissado dos vocais nas
canções confere boas qualidades que remetem a Pavement e a Raul Seixas, as
letras são ótimas e interessantes, a bateria precisa e competente segura bem as
mudanças que surgem nas músicas e, a participação do Giovani Cidreira na última
faixa embelezou mais o final da obra. Há também a produção cuidadosa do Irmão
Carlos, que captou bem o espírito e a proposta da banda e fez um ótimo trabalho.
O som dos rapazes de fato amadureceu, ainda há elementos que o tempo não apagou
e isso também é bom. “Aquele que Superou o Fim dos Tempos” chega em um bom
momento da cena rocker local, uma cena na qual as bandas prezam pela qualidade
dos seus trabalhos e pelo cuidado dos eventos que produzem e esse mais recente cd
da Weise afirma tal condição vivida por uma boa parte dos grupos que atuam no
Estado.
Com esse disco, Paulo Diniz e seus
companheiros seguiram para um caminho bem distante daquele que vai dar no tal
abismo e deixou a trilha bem à vista para quem quiser segui-la. Eles foram,
fizeram direito e mandaram o seu recado. Como uma boa surpresa dentre os
lançamentos de 2013, “Aquele que Superou o Fim dos Tempos” pode colher bons
frutos em 2014.