Pular para o conteúdo principal

Psicodelismo, coragem e fuga soteropolitana!

“La Fuga”, o aguardado primeiro disco da Van der Vous não faz feio!

Há mais ou menos um ano atrás a banda Van der Vous lançou na web o seu primeiro trabalho, o single “High”, e deixou os fãs de rock psicodélico animados com a novidade surgida naquela época. As duas músicas que estavam contidas no single indicavam um diferencial na qualidade da banda, uma vez que possuíam uma boa sonoridade e elementos essenciais para um grupo dessa vertente.

Isso foi o suficiente para criar uma grande expectativa pelo novo passo dos rapazes. Desde “Mind Changes” e “I Get High”...
a curiosidade por um som novo deles foi ficando acentuada até a chegada de “La Fuga”, o primeiro cd cheio da Van der Vous. Até o seu lançamento a banda disponibilizou a música “Somehow”, que está presente na obra e que já dava pistas do que estaria por vir e indicava o quanto o grupo se mostrava corajoso em lançar uma canção de tal porte e ambicioso na busca bem sucedida por um som bem elaborado.
O “La Fuga” é a constatação desse esforço e, ao mesmo tempo, a recompensa pela sua espera. O álbum, que foi produzido pelos próprios componentes, traz dez canções muito bem cuidadas e mostra versatilidade entre elas sem perder a unidade. Há um bom diálogo entre as influencias de bandas clássicas e de bandas mais modernas no som do grupo, o que proporciona uma atmosfera diferente, típica de uma banda psicodélica competente. É como entrar em uma máquina do tempo e poder contemplar um passado em uma roupagem moderna, como uma fuga para um lugar não explorado.

Água benzida
Seria generalizar demais e um tanto preguiçoso afirmar que o som dos rapazes tem como principal influencia somente a banda australiana Tame Impala. A referencia existe na música do grupo, mas não é a única. Além das canções do Kevin Parker, a Van der Vous é bem influenciada por bandas como Rush, Beatles, Pink Floyd no início de carreira, os trabalhos solo do Syd Barret, pelas bandas inglesas de britpop do inicio dos anos 1990 e ainda pela energia vigorosa dos conjuntos dos anos 2000. Eles não parecem ter receio em assumir essas influencias e me fazem arriscar em dizer que ambas (Van der Vous e Tame Impala), se encontram lado a lado, muito pelo fato delas beberem em fontes semelhantes. Com certeza, tem algo diferente na água dessas fontes daqui do hemisfério sul.
O cd abre de forma empolgante com “What You Need” e já traz nuances psicodélicas que remetem a The Doors em seus melhores momentos psicodélicos e com solos de guitarra excelentes e que preenchem muito bem os espaços deixados para eles, o disco segue com “You Know”, que é a música que representa a primeira imersão completa na viagem ao passado criada pela banda. Clima sessentista dos bons! A faixa título aparece como uma grande canção com pegada progressiva, pronta para ser executada em qualquer arena e para multidões e é para ser escutada em alto e bom som, para que se aproveite cada estrutura criada para ela. “Come Alone and Play” é a canção com a pegada britpop do inicio dos anos 1990, certeira e dançante e com a linha de baixo fazendo bonito. “Cirqué de Julia” é a única canção do disco cantada em português e que traz os seus momentos mais imprevisíveis dentro de uma música, com mudanças no seu ritmo, risadas ao fundo e sons de tempestades. A experiência é como escutar “Being for the Benefit of Mr. Kite”, “I Want You (She’s so heavy)” e “The Great Gig in the Sky” ao mesmo tempo, mas com muita personalidade por parte de quem a executa.

“Mind Changes” reaparece aqui com nova mixagem e mais redonda, sem perder a essência de um ano atrás e pronta para tocar em qualquer estação de rádio. “Behind the Wall of Your Pain” é a mais direta e barulhenta, exatamente como se alguém estivesse prestes para voar, “Somehow” se mantém como a investida mais corajosa do conjunto possuindo duração de 8’24”, com elementos que abraçam praticamente todo o universo que forma a banda e isso sem ser chata. “I Get High” também reaparece com nova mixagem e ainda continua como uma marchinha alucinógena de um carnaval de cores vivas, percepções aguçadas e levitações em direção ao sol. Excelente! O disco encerra com “Back to Reality”, no mesmo clima no qual a obra se propôs a todo instante: a fuga da realidade. Mas sendo a última, não há como não voltar a realidade.


Com o “La Fuga” a Van der Vous supera as expectativas do seu lançamento e deixa para traz o vazio existente no cenário no que se refere a existência de bandas com influencias como as que a caracteriza. Os seus integrantes levam todo o mérito desse ótimo resultado, pois mostraram ter controle sobre o uso de efeitos, texturas, vocais, solos, viradas de bateria e pulsações de baixo, dando mais vida à sua proposta musical. Quem ainda não escutou o “La Fuga” deve se adiantar logo, pois é uma trip das boas.

Lançamento: Brechó Discos, Ouça aqui!

Popular Posts

O Pulsar Rebelde do Rock Baiano nunca tem fim!

O rock baiano, desde suas origens, sempre foi um terreno fértil para a inovação e a fusão de estilos. Se olharmos os textos de Léo Cima aqui do blog "Soterorockpolitano", você vai ver que o cenário atual do rock na Bahia continua a se reinventar, mantendo viva a chama de suas raízes enquanto abraça novas influências. Nos anos 70 e 80, o rock baiano emergiu com uma identidade própria, mesclando ritmos regionais como o samba e o axé com as guitarras distorcidas e a energia do rock. Bandas como Camisa de Vênus e artistas como Raul Seixas marcaram época, criando um legado que até hoje inspira novas gerações. Atualmente, o cenário do rock na Bahia é caracterizado por uma diversidade impressionante. Bandas como MAEV (Meus amigos Estão Velho), BVOE (Búfalos Vermelhos e Orquestra de Elefantes), Entre Quatro Paredes, Demo Tape, URSAL, LUGUBRA, Declinium, Venice e muitos outros nomes trazem novas sonoridades, combinando letras poéticas e engajadas com arranjos que passeiam pelo indie,

Uma viagem no tempo, sem perder tempo. Por Leonardo Cima.

Todos os discos que lançamos pelo selo SoteroRec é especial, com cada um possuindo a sua particularidade. Cada um deles carrega uma história interessante por trás de suas faixas, que as vezes não chega ao ouvinte, mas que fortalecem o fator intangível agregado no resultado final de uma obra. Com toda banda é assim e com a Traumatismo não poderia ser diferente. Foi bem curiosa a maneira como a banda chegou ao nosso acervo. Estava eu conversando com o Adrian Villas Boas, hoje guitarrista da banda Agrestia, sobre a proposta do selo de também promover o resgate da memória da cena local, quando ele me falou que havia essa banda na qual ele fez parte tocando baixo, que chegou a gravar um disco não lançado e que se encaixaria muito bem com o propósito colocado, indicando-a para o catálogo, caso a gente  tivesse interesse nela. Eu, que já fiquei entusiasmado antes mesmo dele citar o nome do grupo, ao saber de qual banda se tratava, fiquei mais empolgado ainda. A Traumatismo, anteriormente cham

O garage noir da The Futchers. Por Leonardo Cima.

Nesses últimos dois meses, o selo SoteroRec teve a honra e a felicidade de lançar na sua série Retro Rocks, os trabalhos de uma das bandas mais interessantes que a cena local já teve e que, infelizmente, não teve uma projeção devidamente extensa. Capitaneada por Rodrigo "Sputter" Chagas (vocal da The Honkers), a The Futchers foi a sua banda paralela idealizada e montada por ele próprio no final do ano de 2006. A propósito, o nome Futchers vem inspirado da dislexia do compositor britânico Billy Childish, que escreve as palavras da mesma maneira que as fala. Ele, ao lado de mais quatro integrantes, também de bandas locais da época, começaram os ensaios com uma proposta sonora voltada mais para o mood e o garage rock, se distanciando um pouco dos seus respectivos trabalhos nos grupos anteriores. Relembrando um pouco daquele período e como observador, esse "peso" de não ter que se repetir musicalmente recaía um pouco mais sobre Rodrigo. Não que houvesse isso