Marte pode ser um lugar
legal. Em certos momentos nos quais se deseja estar longe de tudo e de todos aqueles
que podem nutrir sentimentos tristes e melancólicos, fazer uma viagem para o
planeta vermelho pode ser uma opção para aliviar ou anular essas sensações. O Dr.
Manhattan (icônico personagem de Watchmen, do Alan Moore) preferiu fazer isso
para se isolar, tentar refletir e até esquecer de si próprio.
É nesse embalo, com um rock triste dos bons que a banda
Declinium lança o seu mais recente trabalho, o EP “Marte”. Sem receio algum de
soar dessa forma, o grupo originado da Região Metropolitana de Salvador investe
muito bem nas influências de seu som, que vão do rock depressivo...
de bandas dos
anos 1980 (como o The Cure) até a criatividade das bandas indies do inicio dos
anos 1990 (como o Sonic Youth, com seu álbum Goo), passando também pelo
shoegazer inglês.
As referencias nacionais na musica dos rapazes se fazem
presentes logo na faixa de abertura do disco. É impressionante a semelhança da
voz do seu vocalista e baixista, Oreah, com a voz do Renato Russo e essa é uma
boa marca da banda, assim como a construção de suas músicas. “A Espera” é um
banho de melancolia bem escrita, com uma canção lenta, mas muito intensa nas
guitarras e nas letras. “A Canção da Despedida” continua no clima, com
dedilhados pegajosos, bateria crescente, teclado fazendo uma boa textura e
refrão com explosão angustiante, angustiante como a lembrança de uma despedida
que insiste em não sair da cabeça. “Ela se Foi” é a mais shoegazer das cinco
faixas, com guitarras sutilmente barulhentas ao fundo e com uma letra que versa
sobre a tristeza e dor de ter que aceitar um amor perdido e sobre a quebra de
planos feitos a dois. É de chorar! Criando uma atmosfera que se pode parear com
a mesma atmosfera do disco “V”, da Legião Urbana, a faixa título é a melhor
canção do EP. É uma faixa extremamente pegajosa, com potencial radiofônico,
muito bem escrita, possuidora de todos os elementos que influenciam a banda e
cantada com uma intensidade que expressa bem a tristeza de alguém que quer ir
para Marte, porque o seu coração é Marte e por que ela é a passagem para Marte.
É uma das melhores canções do rock baiano e faz crer que a melancolia também
pode ser uma coisa boa para ser curtida. Encerrando o disco surge “Nietzsche”,
com uma levada mais para frente e animada, com uma letra possuidora de uma
mensagem esperançosa, juntada ao desejo de seguir seu caminho, como se
estivesse voltando do planeta vizinho.
“Marte”
é mais um típico exemplo do qual o ouvinte pode se perguntar ao final da
audição o “por qual motivo essa música não toca na radio”, muito por conta do
bom trabalho dos integrantes, que também produziram o EP, e também do seu
resultado final. É bem provável que o tempo de estrada da banda tenha lhe
credenciado a competência para fazer o disco, que por sua vez se faz bem fiel
ao seu nome.