Vendo
os créditos do cd split contendo as bandas Teclas Pretas e Tanpura percebe-se
algo em comum entre ambas. Esse elemento de interseção é a presença do cantor e
compositor Glauber Guimarães, um já veterano da cena local que de tempos em
tempos lança um trabalho novo no cenário. Diga-se de passagem, um novo trabalho
feito com cuidado e qualidade e sempre com o acompanhamento dos músicos Jorge
Solovera e Murilo Goodgrooves.
Este
cd, intitulado “Split 2013”, é a mais recente investida musical das bandas e
traz quatro canções de cada uma, mas que poderiam funcionar muito bem como oito
músicas de um grupo só. Não que não houvesse uma diferença entre o som de cada
um dos dois projetos, mas a proximidade sonora deles vai além de possuírem um
mesmo integrante presente em cada processo criativo. O que se ouve no split é
um som que transita pelo psicodelismo, pelo rock indie e o britpop da década de
noventa, alem de haver referencias escancaradas aos Beatles...
A
sequencia inicial do cd fica por conta da Teclas Pretas. Todas as quatro
canções já haviam sido disponibilizadas anteriormente no próprio blog da banda
e agora se encontram em formato físico. Cada uma soa muito melhor no aparelho
de som do que nos mp3 players, onde se pode aproveitar mais dos detalhes das
faixas. A balada “Livro Aberto” abre o split e já mostra o tom das canções que
estão na sequencia, com sintetizadores (colaboração de Heitor Dantas) e guitarras
radioheadianas em uma rotação menor. “Cidade Subtraída (e os perigos do
sonambulismo filosófico)” tem um ritmo mais frenético, com inicio e fim
interessantes. “Vaudevida” é grudenta, com o psicodelismo aparecendo com mais
força e um solo de guitarra no seu final que pode dar uma sensação de um tipo
de decolagem surreal. “Show de Calouros” encerra a sequencia de músicas da
Teclas Pretas tendo uma introdução arrastada, com uma bateria de boa presença,
lembrando algumas viradas do Ringo Starr em um certo momento. Nela, riffs bem colocados,
ótima linha de baixo e arranjos de piano passeiam muito bem pela canção e dão
uma atmosfera mais melancólica a faixa, a influencia da fase psicodélica dos
Beatles também é muito presente e o trabalho vocal é excelente.
Já a
Tanpura possui um ar mais inédito em relação a Teclas Pretas, muito por conta
das suas músicas terem sido lançadas na web um pouco antes do lançamento do
split. O grau de psicodelismo nesta também é maior e as faixas são um pouco
mais prolongadas. Logo em “Amanhoje” se percebe bem esse aspecto e se figura
como o grande destaque do disco. A faixa começa lembrando algo do britpop
noventista, como a banda Supergrass em sua fase “Road to Rouen”, e termina com
uma trip psicodélica onde o violão deixa a sua marca com grande notoriedade.
“De Peito Aberto” é a mais alegre e com piano saltitante. “Zero Onze” fala
sobre uma determinada cidade a sudeste do país e tem influencia de Beatles do
início ao fim, com solo de guitarra e cítara (tocada pelo Danniel Costa) bem ao
estilo George Harrison e referencia a uma das letras dos Fab Four. “Anônimo”
fecha o cd com chave de ouro, bem estruturada e que caminha para momentos
musicais introspectivos, porém intensos.
A
experiência de escutar ambas as bandas fora dos headphones e fora das caixas de
som do computador, diretamente do toca discos realmente é muito mais prazerosa
e proveitosa. Os detalhes das músicas aparecem com mais nitidez e a cada
apertada no botão de “repeat” dá para perceber mais nuances que passaram
despercebidas na audição anterior. Eu só lamento o fato desses grupos não
tocarem com frequência no cenário local, na verdade, não me lembro de vê-los
tocando por essas bandas. Não acho que todos que gravam discos tenham obrigação
de toca-los ao vivo, mas que seria bom e saudável para todos os lados (bandas e
cenário), aí sim seria.