O
ano de 2014 tem trazido bons lançamentos de discos de bandas do rock local. Já
passaram por aqui grupos psicodélicos e pesados, tristes e bem humorados, cada
um com sua particularidade, mas há uma banda em particular que já estava sendo
aguardada pela expectativa da chegada do seu mais recente álbum de inéditas. A
banda é a Pastel de Miolos, que traz o seu novo disco: “Novas Ideias, Velhos
Ideais”.
A PDM vem vivendo um bom momento em sua carreira. No ano
passado ela ganhou um belíssimo e eclético tributo em homenagem aos seus
dezoito anos de estrada, participou do tradicional festival goiano Porão do
Rock e a sua frequência de shows está cada vez maior, com apresentações pelo
interior da Bahia e pelo nordeste. Coroando essa sua boa fase, neste exato
momento em que escrevo esse texto, a PDM embarca rumo ao leste europeu para a
sua primeira turnê internacional, que passará por países como Finlândia,
Letônia, Estônia, Lituânia e Polônia...
Em meio a isso tudo surge o “NIVI”. O disco foi gravado
em um único dia com todos tocando ao mesmo tempo e possui uma sonoridade mais
pesada, com elementos de metal, mas sem perder a rapidez do punk hardcore
característico da banda. É o primeiro registro com o André PDM como baixista do
grupo e ainda contou com participações especiais do Vital (Jason) e Frango Kaos
(Galinha Preta), além de composições do Tony Lopes e do Lupeu Lacerda. O seu
trabalho de divulgação também foi interessante e com significado de importante
relação entre as datas e as canções, com o lançamento do lyric vídeo de
“Insegurança Masculina”, no dia oito de março (dia internacional da mulher) e
do vídeo de “Desobediência Civil”, em primeiro de abril (quando se completou 50
anos do golpe militar no Brasil). Também houve uma prévia do som do novo álbum
no split 4Way Split, onde a banda incluiu quatro faixas das sessões de gravação
que não entraram na relação final do disco.
O cd abre com a faixa-título seguida por “Desobediência
Civil”, duas canções rápidas e diretas, sem rodeios e próprias para a formação
de rodas de pogo. “P.R.H.C.” segue mantendo o sentido das anteriores sem perder
o gás e abrindo caminho para a veloz “Insegurança Masculina”, que conta com a
participação do Vital (Jason) e que critica sabiamente o comportamento violento
masculino sobre a mulher. “A Ilha” é uma faixa impactante e expressiva, com uma
pegada mais arrastada e um ótimo solo de guitarra, “Sem Nome e Sem Razão (o
verme interior)” retoma as características punk rock do disco sendo rápida e
rasteira. Com letras de Tony Lopes, “Vou Tentar” é um dos vários bons momentos
do cd, sendo radiofônica, possuidora de um refrão grudento e solo de baixo. Em
seguida vêm “Hardcore” e “Porcos”, mais duas pancadas em música e letra. “Homem
ao Mar” é o momento surf music do álbum e antecede a ópera punk “Quarteto II”
que contêm, em 2’15” quatro canções dentro de uma única faixa (“Obstáculos”,
“Vergonha de Ser Você”, “O Fascista Libertário” e “Bicho Morto” [essa última de
Lupeu Lacerda]). Ela é de empolgar de verdade e “Quando a Vítima se Transformar
no Algoz”, “A.E.P.” e “Sofrer” não deixam o ritmo se perder. Dá vontade de
aumentar o volume em cada uma delas. “Homem Sério” tem a participação de Frango
Kaos (Galinha Preta) e é uma tirada de sarro com aqueles que acham que devem
dar as costas ao rock por conta de outras coisas, para assim terem um estilo de
vida mais sério. Encerrando o álbum, “É Essa Porcaria que me Faz Feliz” é um
grito de guerra que exalta o gosto pelo rock’n roll e pelas várias influências
do grupo, além de ainda possuir uma faixa escondida após um pouco mais de um
minuto de intervalo até chegar em uma versão diferente de “O Fascista
Libertário”.
Ao longo dos trinta e cinco minutos de “Novas Ideias,
Velhos Ideais”, a Pastel de Miolos não perde o fôlego e confirma que o tempo também
é amigo da qualidade e das melhores escolhas para continuar trilhando os
caminhos que se optou seguir. Mesmo que as bombas caiam por todos os lados, a
PDM sabe os desvios certos a fazer, ou as maneiras certas de chuta-las de volta.