Pular para o conteúdo principal

O azul é profundo, creia!

           
 "Está sendo lançado essa semana o “Azul Profundo”, o mais novo álbum do Reverendo T e Os Discípulos Descrentes. Liderado pela figura já presente há muito tempo na historia do rock local, Tony Lopes se supera com as seis músicas contidas neste disco que chama a atenção por se diferenciar em termos de sonoridade em relação ao seu antecessor, por possuir um aspecto mais orgânico."
            Os sussurros, a melancolia, as verdades, o azul e a profundidade estão presentes nesta nova investida do cantor e compositor. Desta vez, ele está acompanhado pelo Felipe Britto (guitarras), Jorge Afonso (violão e guitarras) e pelo Wilson PDM (bateria), além deles o disco também contou com a produção do Irmão Carlos. O cd tem uma veia blues muito forte, mas vai muito mais além desse aspecto...
Há muita coisa inserida na música do Reverendo T, as entrelinhas sonoras podem ser percebidas pelos mais atentos, isso por conta da sua bagagem musical que é muito ampla e os que entrarão neste universo terão, no mínimo, uma experiência auditiva interessante.
            “O Meu Lado” é um blues tradicional e de melodia pegajosa. Nela é somente voz e guitarra, solo incrível e marcação de bumbo para empolgar ainda mais a canção, que versa sobre a defesa da sua própria posição neste mundo, afirmando: “Estou do lado dos derrotados e não dos rendidos”, ou “estou do lado dos que tem fé e não dos doutrinados”. “Peça Por Mim” surge na sequência com uma carga musical mais profunda, com dedilhados e slides de guitarra setentista que remetem ao Pink Floyd da fase “Animals” e com um pouco de hard rock (dos bons) de beira de estrada. “Broto Democrático” é uma bela homenagem ao seu irmão André Luys (falecido em 1983), que escreveu a canção juntamente com o Jorge Afonso e que ganha uma versão blues inspirada, com direito a batidas de samba reggae no final. Belíssima! Depois dela, vem “Revelação”, canção dos compositores Clodô e Clésio e que ficou nacionalmente conhecida na voz do cantor Fagner. Aqui, ela ganhou uma roupagem mais rock e muito mais azul profunda do que a gravação original, os vocais sussurrados do Tony Lopes dão um tom mais dramático a letra. “Contra Moinhos de Vento” é uma balada com forte punch raivoso, de bateria bem presente, com o elemento blueseiro conduzindo bem a música, uma letra forte e um lindo solo de guitarra em seu fim. Em “Teia”, um breve mantra mais misterioso (e muito melhor) do que “Mysterious Way” do U2, o Reverendo T mistura solos de guitarras que evocam David Gilmour, sons de berimbau e batidas de percussão ao verso “creia, você caiu na minha teia”. É uma pena que ela só tenha um pouco mais de um minuto de duração!

            “Azul Profundo” é mais um disco que foi feliz em sua concepção final, pois é inspiradíssimo e possuidor inúmeros bons momentos. É um disco rápido e que chama a atenção pelas muitas virtudes do Tony Lopes enquanto musico e letrista. Acredito que o cenário rocker daqui vive um momento especial e o ano de 2014 continua lançado bons discos de rock de artistas da Bahia e esse é mais um deles. Eu caí na teia e você também cairá! Creia!

Popular Posts

O Pulsar Rebelde do Rock Baiano nunca tem fim!

O rock baiano, desde suas origens, sempre foi um terreno fértil para a inovação e a fusão de estilos. Se olharmos os textos de Léo Cima aqui do blog "Soterorockpolitano", você vai ver que o cenário atual do rock na Bahia continua a se reinventar, mantendo viva a chama de suas raízes enquanto abraça novas influências. Nos anos 70 e 80, o rock baiano emergiu com uma identidade própria, mesclando ritmos regionais como o samba e o axé com as guitarras distorcidas e a energia do rock. Bandas como Camisa de Vênus e artistas como Raul Seixas marcaram época, criando um legado que até hoje inspira novas gerações. Atualmente, o cenário do rock na Bahia é caracterizado por uma diversidade impressionante. Bandas como MAEV (Meus amigos Estão Velho), BVOE (Búfalos Vermelhos e Orquestra de Elefantes), Entre Quatro Paredes, Demo Tape, URSAL, LUGUBRA, Declinium, Venice e muitos outros nomes trazem novas sonoridades, combinando letras poéticas e engajadas com arranjos que passeiam pelo indie,

Uma viagem no tempo, sem perder tempo. Por Leonardo Cima.

Todos os discos que lançamos pelo selo SoteroRec é especial, com cada um possuindo a sua particularidade. Cada um deles carrega uma história interessante por trás de suas faixas, que as vezes não chega ao ouvinte, mas que fortalecem o fator intangível agregado no resultado final de uma obra. Com toda banda é assim e com a Traumatismo não poderia ser diferente. Foi bem curiosa a maneira como a banda chegou ao nosso acervo. Estava eu conversando com o Adrian Villas Boas, hoje guitarrista da banda Agrestia, sobre a proposta do selo de também promover o resgate da memória da cena local, quando ele me falou que havia essa banda na qual ele fez parte tocando baixo, que chegou a gravar um disco não lançado e que se encaixaria muito bem com o propósito colocado, indicando-a para o catálogo, caso a gente  tivesse interesse nela. Eu, que já fiquei entusiasmado antes mesmo dele citar o nome do grupo, ao saber de qual banda se tratava, fiquei mais empolgado ainda. A Traumatismo, anteriormente cham

O garage noir da The Futchers. Por Leonardo Cima.

Nesses últimos dois meses, o selo SoteroRec teve a honra e a felicidade de lançar na sua série Retro Rocks, os trabalhos de uma das bandas mais interessantes que a cena local já teve e que, infelizmente, não teve uma projeção devidamente extensa. Capitaneada por Rodrigo "Sputter" Chagas (vocal da The Honkers), a The Futchers foi a sua banda paralela idealizada e montada por ele próprio no final do ano de 2006. A propósito, o nome Futchers vem inspirado da dislexia do compositor britânico Billy Childish, que escreve as palavras da mesma maneira que as fala. Ele, ao lado de mais quatro integrantes, também de bandas locais da época, começaram os ensaios com uma proposta sonora voltada mais para o mood e o garage rock, se distanciando um pouco dos seus respectivos trabalhos nos grupos anteriores. Relembrando um pouco daquele período e como observador, esse "peso" de não ter que se repetir musicalmente recaía um pouco mais sobre Rodrigo. Não que houvesse isso