Ah,
a Bahia! Ah, a cidade de Salvador! Ah, o Pelourinho! Acredito que não há lugar
no mundo, no qual possam conviver estilos musicais diferentes em um mesmo lugar
e, também, um povo que consiga viver, entender e aproveitar tudo o que possa
lhe ser oferecido em termos culturais. O Portal Soterorockpolitano foi ao
centro histórico conferir a Noite das Bruxas, evento marcado para ser realizado
no Largo Pedro Arcanjo e vimos muito mais coisa do que esperávamos.
Na
chegada, o Pelô estava tranquilo, com bastante turista, porém com uma circulação
de pessoas abaixo do normal para o lugar. Entre uma conversa sobre teorias de
realidades quânticas e goles de cerveja...
deu para perceber que a rua que dá
acesso às duas principais praças do local foi sendo preenchida gradativamente
por mais gringos e mais pessoas vestidas a caráter para a festa de halloween. O
largo estava todo estilizado com caveiras, fantasmas eróticos petrificados,
pessoas circulando com modelitos que fizeram sucesso no último verão da era
vitoriana e zumbis, muitos zumbis.
Foi
uma boa ideia da organização dar início as atividades com a apresentação de
danças do Michael Jackson. Além do MJ ter uma relação saudável com o tema da
festa, o rapaz que se apresentou fez o dever de casa direitinho e arrancou
aplausos sinceros da audiência. Depois dele, um dos djs convidados deixou o
lugar agitado, parecendo uma rave clássica retirada do filme “Blade, O Caçador
de Vampiros” e foi esse o momento em que demos um pulo na Praça Tereza Batista
para conferir o que estava acontecendo por lá. A sambista Juliana Ribeiro se
apresentava para um lugar igualmente cheio em relação a sua praça vizinha, e
ainda possuía todos os estrangeiros que estavam no Pelourinho, alguns vários
roqueiros, cosplayers de caveiras mexicanas e amantes do samba. Muita gente
sambando no pé e um ou outro só observando para ver se acertava o passo. Saímos
um pouco antes de acabar o samba e bem em tempo de escutar os sons das praças
se misturando. É uma sensação boa e diferente.
No
retorno à Pedro Arcanjo, vimos a banda Almas Mortas ainda no inicio de sua
apresentação. Veteranos da cena gótica local e com um currículo invejável de
participações em festivais dentro e fora da Bahia, o grupo tocou um repertório
de canções autorais, com algumas delas já bem conhecidas do publico presente. O
show durou pouco, cerca de trinta minutos. Cabia um pouco mais do som dos
rapazes na festa! Depois deles, subiu ao palco a principal atração da noite e
uma das bandas mais interessantes do cenário local. Já é de muito tempo que se
fala das apresentações da Desrroche e estávamos curiosos para saber como é a
banda em ação. E, de fato, é um show diferenciado. É um espetáculo, eu diria.
Percebe-se
um cuidado teatral na performance da banda, que entra no clima totalmente das
canções e das suas interpretações. O seu impacto áudio visual é muito forte,
com figurino steampunk bem cuidado, com máscaras, pintura no corpo, sangue, suor,
fumaça, explosões, participação de dançarina tribal fusion e iluminação bem
sincronizada. Tudo no seu devido lugar e com a preocupação de fazer um grande
show para uma plateia interessada. É claro que tiveram aqueles que se
dispersaram, sempre tem desses! O som da banda não fica abaixo do seu misancene:
Um industrial de primeira, com guitarras pesadíssimas que fez muita gente bater
cabeça e abrir rodas de pogo, violino e sintetizadores bem colocados, uma
cozinha que marchava para a guerra e o vocal do Lex Pedra que guiava todo o
caos sonoro organizado. Foi uma ótima experiência!
Depois
do que vimos fica difícil enxergar suas apresentações em lugares menores,
diante de uma concepção tão bem pensada para o seu show. Não que seja algo impossível
de se fazer, mas ver a banda da forma como se apresentou, vale muito a pena sempre
conferi-los em lugares como o desta ocasião. Essa noite foi mais uma prova de
que existe tanta banda diferente trabalhando duro nesta terra e de que há
tantas outras atmosferas que se misturam as delas. Como em uma boa relação entre
o doce e a travessura.