A Lo
Han é uma das bandas mais antigas dessa cidade em atividade. Muita gente não
sabe, ou ainda não se deu conta desse fato, e até mesmo os integrantes não
falam muito (ou não falam) sobre isso. Mas é verdade que ela completa nesse ano
de 2015 dez anos de carreira, e com ela, surge o seu o seu primeiro cd, um
trabalho cheio com onze músicas autorais batizado de Get High. Acho
importante começar essa resenha frisando o seu tempo de estrada porque este foi
um dos principais fatores que formou o som do grupo.
O
conjunto começou como uma banda de covers, com uma proposta de tocar rocks
clássicos setentistas e quase nada além disso. Um repertório que continha de
Led Zeppelin a Deep Purple, passando pelo southern rock, e na melhor das
hipóteses mais modernas um Whitesnake aqui e ali. Mas o tempo foi passando e
foi surgindo a vontade natural de compor as suas próprias músicas e essa longa
estrada, de constantes apresentações na noite baiana, serviu para dar ao grupo
a identidade bem expressada em seu disco de estréia. Produzido pelo bluesman
baiano Alvaro Assmar, Get High navega bem pela década de 1970 se
tornando uma boa mistura musical desse período.
As
duas primeira canções, Time e Dance With the Devil, mostram bem
este misto musical. A primeira soa como um bom rock sulista norte-americano,
com introdução de órgão que fica bem evidente pela faixa e a segunda é uma
música que faz o AC/DC e o Led Zeppelin cruzarem a mesma esquina ao mesmo
tempo. Get High é o primeiro ponto alto do cd, tendo uma cara mais
pessoal da banda, que imprime mais personalidade nesta composição com bons
riffs e solos de órgão, além de ser pegajosa. I'll Only Rest When I'm Dead
tem uma pegada de bar de beira de estrada, onde todo mundo bebe um bom nectar
-seja na mesa ou no balcão do bar-, se entretêm jogando conversa fora, flerta
com uma garota (ou garoto) e se diverte. O violão e, principalmente, a slide
guitar dão um tom certeiro a esse clima.
Sex, Drugs and Music foi a primeira música desse trabalho que foi
disponibilizada e ela traduz bem a atmosfera divertida que a banda tem em seus
shows. Foi uma boa escolha. Depois, Bullet aparece com uma pegada mais
arrastada e mais hard rock, com solo de guitarra bem executado e refrão
pegajoso.
Waiting
for You é uma balada que já poderia ser esperada por um grupo dessa linha
do rock. Solo de guitarra logo de cara, piano ao fundo durante a levada
radiofônica da bateria até chegar o ápice da música no refrão com boas
guitarras duplas. Green Lies retoma o ritmo acelerado do disco com mais
um hard rock de bons solos de guitarra e o órgão aparecendo com muita evidência
de forma belíssima, diga-se de passagem. The Falllen Butterfly é mais
uma velha conhecida do repertório dos rapazes. Talvez seja uma das mais
divertidas do álbum, com toda vontade que o rock tem de deixar as coisas mais
insanas, da letra a canção, sem deixar nada de fora. Em Fight for Your Faith
a banda se direciona para o final da obra com uma melodia mais alegre e
serena, porém com um solo de guitarra nervoso no final, até chegar a The
World Will Change Your Mind, faixa que encerra muito bem Get High
com uma pegada mais psicodélica, transitando entre elementos de Pink Floyd e de
Deep Purple, além de possuir uma bela letra reflexiva.
O resultado
desse primeiro disco da Lo Han é bem satisfatório e o grupo entrega um bom
disco para aqueles que almejavam um trabalho só de inéditas do sexteto. Com
certeza eles não reinventaram, ou inovaram, essa vertente setentista do rock
com esse cd de estréia e acho que eles não se propuseram a fazer isso em
momento algum, mesmo com várias passagens inspiradas, imprimindo muita
assinatura pessoal dos seus integrantes e isso é um dos bons aspectos da obra. Cada componente fez muito bem o seu papel, executando bons solos de guitarra,
bons arranjos vocais, de órgãos e teclados e uma cozinha que se comunica sem
ruido algum.
O conjunto soube usar as suas influencias a seu favor e soube
fazer um disco que não renegou a trajetória atuante da banda na cena local ao
longo de todos esses anos. Para quem curte um bom classic rock, não pense duas
vezes antes de escutar o Get High. Você, inclusive, pode perceber que
vem algo bom quando vê a arte da capa feita pelo ilustrador Kin Noise. E para
quem não gosta de rock setentista, passe a mil léguas desse disco, mas quando
puder, dê uma boa chance de ouvir algo com qualidade. Você pode se surpreender
com a diversão que vai ter.
*Matéria originalmente publicada em 25/11/2015.