A Lei de Murphy é uma droga.
Quando um pão cai no chão, sempre cai com o lado da manteiga virado para baixo,
um gato sempre cai em pé e quando mais você precisa de um ônibus para ir ao Rio
Vermelho, ele resolve demorar um século para passar. Quanto mais eu me agoniava
de chegar ao Dubliners Irish Pub nesta última sexta, parecia que o ônibus demorava
mais ainda.
A minha pressa tinha um bom motivo: o melhor do punk rock
clássico, local e gringo em uma só noite, dentro da turnê Sauna Punk Rock
Tour/Hey Mizera Sound 2015. Os finlandeses do Ozzmond e da Blueintheface, os
baianos da Derrube o Muro e Pastel de Miolos, além da paulistana Cólera se
encontrariam em uma noite que prometia no mínimo ser memorável. E assim foi! Chegando
aos arredores do lugar da festa já se podia perceber uma quantidade maior de
pessoas em relação a outras noites já resenhadas por aqui. A demora na espera
do tal ônibus acabou me custando as apresentações dos finlandeses, mas por
outro lado foi notório que a organização do evento conseguiu aplicar o horário
de início das atividades com pontualidade e também de agilizar na arrumação do
palco nos intervalos entre as bandas.
Entrando no pub, a Derrube o Muro estava no inicio do seu
show e já tratava de manter o local movimentado. Banda com um bom tempo de
estrada, com dois vocalistas inspirados e um púbico que acompanhava as suas
letras, o seu ótimo crossover/punk/hardcore foi um combustível adequado para
deixar o ambiente aquecido. Quem ficou do lado de fora perdeu uma boa
apresentação dos rapazes. Depois deles subiu ao palco a Pastel de Miolos. Cada
vez mais entrosada a banda tocou uma música atrás da outra sem dar sossego para
o lugar que estava ainda mais cheio. Foi nesse momento em que circular pelo pub
começou a se tornar algo difícil de tanta gente presente. O som estava ótimo e
a empolgação na roda de pogo foi ficando cada vez maior e melhor. Em um
determinado instante os seguranças do local (certamente desavisados de como é a
dança nesses sons) interromperam a roda acreditando que pudesse haver algum
tumulto, fazendo com que, sabiamente, os integrantes da PDM esclarecessem que
não havia confusão alguma ali e que não haveria. Teve até quem me pedisse com
educação para segurar a sua long neck para poder entrar na roda.
Com
tudo já normalizado, a apresentação seguiu com pessoas cantando junto as suas
canções, com ponto alto em “Ruas”, “Homem Serio” e “É Essa Porcaria que me Faz
Feliz”. Ainda teve a cover de “Beat on the Brat” (Ramones) acompanhados pelo
Ozzmond e Kimmo Pengerkoski (baixista da Blueintheface), cantando a canção contentes
e empolgados como todo bom gringo roqueiro em terras baianas. Foi o verdadeiro
prelúdio da sauna! Fechando a noite, a banda Cólera (SP) tocou para um
Dubliners Irish Pub lotado. Um pouco antes do começar da sua apresentação já
era quase impossível sair do lugar de tanta gente presente para ver o show. Há
quatro anos sem se apresentar na cidade, com a sua mais recente formação e
sendo uma das principais referências do punk rock brasileiro, os paulistanos
fizeram um show intenso e sem firulas. Foi punk rock direto e muito bem tocado com
direito a roda de pogo que ia da frente do palco até próximo às mesas depois do
banheiro e com a audiência cantando a todo pulmão todas as músicas.
Eu
disse TODAS AS MUSICAS, todas elas como se fossem hinos nacionais. Naquele mar
de gente tinha cidadão entrando em transe frenético, indivíduos de todas as
idades, alem de moshes incontáveis com pessoas sendo engolidas pelas silhuetas
das mãos em riste acompanhando os refrões. Já da metade para o final da
apresentação o chão já estava encharcado de suor e bebida, proporcionando
alguns inevitáveis escorregões de pessoas, que foram ajudadas de prontidão por
desconhecidos que estavam próximos. Perto do final a banda continuava empolgada
e o publico respondia bem, com o ar condicionado já não dando mais conta do
recado. Todo mundo suava litros nessa altura do show, com o baterista
precisando ser abanado pelo roadie da casa, mas sem perder o seu ritmo. Foi a
verdadeira sauna punk que o titulo desta turnê sugere. Com mais de uma hora de
show a banda foi até onde conseguiu ir bravamente com muita competência,
sinceridade e entrega.
Foi
um dos melhores shows já vistos pelo Portal Soterorockpolitano em uma noite
muito divertida e boa demais. Quem pôde ir viu que valeu a pena e quem não foi,
vai ter que se contentar em ouvir as histórias de quem foi. Tenho certeza que
já têm várias sendo contadas por aí e todas elas bem épicas.
*Matéria originalmente publicada em 17/04/2015