Neste
último domingo aconteceu o show "Adios Em Grande Estilo", da banda
baiana Cascadura e fui conferir a despedida desse disco que foi um marco na
carreira do grupo. Acredito que todos que gostam de rock aqui na Bahia tem uma
relação com o Cascadura, seja ela boa ou ruim, mas tem. Me lembro da primeira
vez que vi os caras ao vivo. Foi na Lavagem do Bonfim, quando eles tocaram no
"Bonfim Hard", evento organizado pelos integrantes do The Dead
Billies, na varanda da antiga residência do Morotó Slim durante a própria festa
de largo. Não me lembro o ano com exatidão, mas foi um pouco antes da virada do
milênio, o Fábio Cascadura ainda usava cabelão e vestia uma camisa amarela.
Mesmo não conhecendo a banda, ela me deixou uma boa impressão, com o vocalista
cantando Nicarágua em cima da grade da varanda de Morotó, fazendo muita
gente cantar junto o refrão e abrindo um pouco mais a minha cabeça para o rock
setentista (na época som de Seattle tomava a maior parte do meu universo).
Muito
tempo se passou desde aquela quinta feira e fui acompanhando o Dr. Cascadura
com uma certa distancia por ainda não apreciar com afinco o som que eles
faziam, um classic rock que teimava em bater em minha porta, tocar a campanhia
umas três vezes e dar meia volta. Mas eis que aparece em minhas mãos o Vivendo
Em Grande Estilo. O Cascadura já não era mais doutor e a música estava
diferente. Não totalmente, mas estava. Naquele momento eram os já longínquos
primeiros anos dos anos 2000 e havia muita informação processada na minha
cabeça, que me fez reconhecer que havia muita informação nesse disco que, para
mim, foi um ponto de virada na trajetória dos caras. Porque era de fato um
disco diferente para a música e para a carreira da banda. Sem ele, talvez não
conhecêssemos os seus dois trabalhos seguintes como os conhecemos. Ainda estava
lá a pegada clássica, somada ao groove pesado do blues, ao som da Motown, a
influência de Beatles e até mesmo à música de bandas independentes da década de
1990 notada nas timbragens e riffs das guitarras, além de estar antenado ao que
acontecia naquela época. Ainda peguei uma pontinha da temporada da estrada
desse disco nas sessões acústicas que eles fizeram na extinta Casa da Dinha,
com um set incluindo essas músicas e outras de sua carreira até então. Dali em
diante tentei a ir a todos os shows que pude, e consegui ir em bastante deles.
Quando
cheguei no Pelourinho, a Lo Han estava
encerrando a sua apresentação e tenho certeza que agradou a muita gente, assim
como o fez na noite anterior. No intervalo, deu para encontrar pessoas queridas
que, se combinasse antecipadamente em se ver, não teria dado certo e agradeço a
Melissa e a Laíse pela nova origem do nome da G.O.R.: "Queimando Tudo no
meu Aniversário". Ainda sorrio sozinho quando penso nisso. Não demorou
muito e o Cascadura subiu ao palco para tocar na íntegra o Vivendo Em Grande
Estilo. E se despedir dele. Normalmente esse tipo de show acontece quando uma
banda celebra o aniversário de uma obra. Mas, mesmo sendo uma despedida, era
uma celebração também. Com esse disco, a banda ganhou muitas frentes, abriu
muitas portas, criou grandes oportunidades aproveitadas das formas que puderam
ser aproveitadas, tocou em lugares diversos, fez novas conexões e contatos, se
elevou a um patamar diferenciado na cena independente nacional, fortaleceu, a
sua maneira, a cena roqueira da Bahia e esses são aspectos inegáveis quando se
fala desse período do grupo. A performance também contou com o Martin Mendonça
(Pitty), responsável pelas guitarras do disco, em todas as músicas do show e,
claro, com a canção que nunca foi tocada ao vivo (sempre tem uma), a não menos
interessante A Mãe da Garota. Queda Livre, a faixa título do cd, Retribuição
e No Escuro da Capela foram destaques no setlist. O repertório ainda
contou com Senhor das Moscas e com a versão improvisada de Gimme
Shelter (Rolling Stones). Com o Fábio visivelmente emocionado, muitos
agradecimentos ocorreram e o clima de despedida era cada vez mais presente, mas
não de uma forma piegas e melancólica. A diversão estava ali e a festa não
parecia que ia acabar. Até que acabou.
A
iminência do fim das atividades do Cascadura já é sabida há alguns meses e isso
está mais próximo de ocorrer. Alguns anônimos depois do show, na adrenalina do
momento, trocavam idéias sobre como o "porque" da banda
"acabar" e concordando um com um outro que ela não iria parar. Eu
também não acredito que a banda acabe, não da forma como esses anônimos estão
custando a acreditar. Talvez porque grupos de rock nunca acabem de verdade.
Talvez porque a importância de algumas bandas seja tão forte para uma cena, que
elas permanecem influenciando outras bandas e deixando boas lembranças na
memória de quem as viu pela primeira vez. Foi assim comigo há anos atrás e foi
assim com pelo menos mais duas pessoas naquele dia. E também ela não está livre
de fazer uma apresentação aqui, ou ali de vez em quando, não é? Além disso, os
rapazes estão a todo vapor com seus projetos pessoais, com o Thiago Trad e o
seu Bahia Experimental e com o Du Txai e Cadinho, formando o Du Txai e os
Indizíveis (que já passaram por aqui pelo site). Para quem ainda não conhece,
vale muito a pena conferir. Quanto ao Fábio Cascadura, com certeza é questão de
tempo para ele aparecer com algo novo e será bem vindo, é só esperar o seu
tempo.
Antes
de ir embora, ainda deu para circular um pouco pelo Pelô, ver o bar no Nego Fua
bombando, comer um abará na Quincas Berro D'agua, trocar uma ideia e ter a boa
surpresa de ver de longe os integrantes e a equipe do Cascadua confraternizando
em um bar das ruas do Pelourinho. Quem não aproveita o centro histórico, está
perdendo muito. Continuo sugerindo visitas constantes por lá. No próximo dia
06/12 tem a derradeira apresentação do grupo, é mais uma oportunidade de vê-los
novamente. Se você não foi a um desses últimos shows, não deixe de ir. Porque
depois, é depois!
*Matéria originalmente publicada em 19/11/2015.