Mais
uma sexta feira e mais uma noite de Festival Soterorock. Foi o seu quinto dia,
retornando ao The Other Place, em Brotas, para mais uma sequência do velho e
ótimo rock autoral baiano. Admito que, como nas demais datas (nas anteriores a
esta e as que ainda estão por vir), a minha curiosidade e ânsia por ver as bandas
desta noite tocando de maneira confortável para elas e proporcionando um grande
som para quem foi vê-las eram grandes. Até agora, o festival tem sido um
ambiente de ótimas performances dos grupos e a expectativa, não só a minha, mas
a de quem tem acompanhado os shows (seja pelas resenhas, fotos, chats e
presencialmente), só faz aumentar de maneira positiva. Isso não é a toa, o
cenário vive uma boa fase e é natural que se espere momentos bons a serem
vivenciados em ocasiões como essa.
Na
chegada ao The Other Place dava para perceber um bom clima emanando no local.
Algumas pessoas já circulavam pela casa e a quantidade delas só fez aumentar no
decorrer dos primeiros minutos da abertura dos portões do lugar até o início da
primeira banda a se apresentar. De última hora, por conta de questões maiores,
a Theatro de Seraphin não pôde se apresentar nesta noite, o que se levou a
esticar um pouco o começo das atividades. Isso deu uma boa brecha para quem
estava por lá para bater bons papos, tomar uma cerveja gelada, dar boas
gargalhadas e ainda colocar em dia as diversas resenhas do show do Lee Ranaldo
que aconteceu na noite anterior na capital baiana.
Abrindo
a noite a banda Pancreas fez as honras da casa toando o seu punk rock com
influências pop e BRock oitentista. Canções rápidas, outras pesadas, e também
bem humoradas, muitas delas conhecidas de boa parte das pessoas que assistiam a
performance do quarteto, deram o tom da presença dos rapazes no festival. Como
forma de homenagem, o vocalista Shinna Voxzelicks trocou de “figurino” algumas
vezes, vestindo camisas de diversas bandas da cena local e, inclusive, usou um
chapéu de cangaceiro para cantar uma de suas músicas, Ela Gosta de Forró. No
repertório também teve espaço para a sua versão de Help! e Remédio, da Jato
Invisível, com direito a participação especial de Alex Costa nos vocais. O show
foi crescendo em animação até a banda encerrá-lo com Eu Quero Você Pra Mim,
onde teve gente pulando, gente quase mostrando a calcinha e gente aquecida para
a noite toda. Depois, a Declinium veio direto de Camaçari para fazer o seu som
imersivo. Imersivo em vários aspectos, inclusive na sua entrega total das suas
composições e presença de palco. Detentores de um carisma imenso, o conjunto
vive um dos seus melhores momentos da carreira, executando muito bem as suas
músicas e fazendo o público presente cantar junto em vários momentos da sua
performance. E não foi uma ou duas vezes, foram várias vezes. Fênix, Marte e a
belíssima Calor são alguns bons exemplos disso, e cada uma delas seguidas de
aplausos calorosos.
Outro
fato interessante foi a presença de algumas músicas no seu setlist que eu ainda
não conhecia ao vivo, mostrando as possibilidades que eles se permitem em seus
shows. Como não poderia ser diferente, foi pedido bis e eles atenderam com uma
ainda inédita, mas que vem sendo tocada com frequência por eles, Velho Homem.
Foi bem bonito! Encerrando a noite, a Rivermann subiu ao palco do festival para
fazer um som bem característico das guitar bands noventistas. Havia um bom
tempo em que devia uma visita em um show dos rapazes e a espera valeu bem a
pena.
A experiência ao vivo supera a qualidade que já existe em seu EP e
singles, pois há bastante surpresa em sua performance. Músicas como Estilhaços
(contando com a Sioux Costa nos vocais) e Vermes e Flores ganharam versões
estendidas com bastante guitarra, bateria segura e baixo pulsante. A Presença
de palco dos quatro transita entre a introspecção em seus instrumentos e a
explosão em alguns momentos, com as guitarras bem altas no melhor estilo
sonicyouthiano e em sincronia com os demais instrumentos. A apresentação do
conjunto se encerrou com Ninguém É Tão Doce, um possível hit em potencial da
cena local. Muito bom.
Todas
as três bandas deste dia subiram com muita vontade ao palco do The Other Place
e deram de bandeja ao ótimo público que compareceu por lá para prestigiar o
Festival Soterorock excelentes apresentações, dignas de serem presenciadas de
muito perto. Foi bom que muita gente viu e levou consigo na memória uma boa noite
de rock autoral baiano de competência e qualidade inquestionável. Deu para ver
isso no sorriso que cada um que estava ali carregava no rosto. Uma constatação
recorrente dentro do festival. Cada um vendo e ouvindo o que gosta.
*Matéria originalmente publicada em 20/09/2016.