No último sábado do dia
25/03, aconteceu o encerramento da temporada de shows que comemorou os vinte
anos de estrada da Modus Operandi. Foram quatro datas com a anfitriã convidando
bandas interessantes, em noites de performances verdadeiramente intensas e com
o público comparecendo de maneira significativa no Buk Porão. O Portal
Soterorock foi até o Pelourinho mais uma vez conferir como foi a celebração do
Modus Operandi Convida e presenciou o êxtase da explosão musical dos três conjuntos
que se apresentaram.
O centro histórico estava
bem movimentado. Passando pelo Santo Antônio, uma grande fila de carro se
aglomerava próximo ao restaurante que ganhou um concurso televisivo naquele dia
e a grande quantidade de gringos sentados pela escadaria da igreja do Carmo
chamaram a atenção. Igualmente cheio estava o Buk Porão, amigos e muita cara
nova, e interessada por conhecer novos sons, marcaram presença nesta noite que
já vinha gerando uma expectativa grande pelo seu significado, e por juntar pela
primeira vez as três bandas do lineup no mesmo palco. Enquanto canções de grupos
locais saíam das caixas de som, muita conversa sobre música, astrofísica e
histórias da cena rocker daqui iam sendo colocadas em dia, calibrando o
ambiente para o que estava por vir.
Quem abriu as atividades foi
a Game Over Riverside. Sem se apresentar há um pouco mais de três meses, o
quinteto preparou um repertório um pouco mais longo do que o habitual para esta
ocasião e a mistura desses dois fatos colaborou para o que foi, talvez, uma das
melhores performances do grupo desde o retorno do seu hiato. O show começou com
uma sequência mais atmosférica e arrastada, com a grungenesca Paper Planes
encabeçando o repertório e gerando uma boa resposta do público. Ao passo em que
o setlist avançava, o clima ficava mais visceral, com banda e audiência em uma
troca empolgante de energia em Radio no Jinkan, com a primeira inquieta no
palco e a segunda dançando como podia.
E foi assim até o final, com breves
pausas para reverenciar o público significativamente presente e contar curtas
histórias engraçadas da própria trajetória, servindo também para pegar um pouco
mais de fôlego. Houve ainda a participação especial de Gil Dantas (ex-Mistery e
ex-Hardons) dividindo os vocais com Sérgio Moraes na arrasadora I Can’t Hardly
Wait e no pedido de bis, na veloz Little Marchioness. Com três guitarras
dialogando bem e uma cozinha firme, este foi um aquecimento impactante para o
que viria a seguir.
Depois deles, houve uma
apresentação surpresa da Funcionaface, trabalho do André Borges, vocalista da
Vende-$e. A intervenção artística de verdadeiras poesias diretas, como se
fossem mantras, chamou a atenção de quem estava presente na casa e gerou
diversas reações de quem o assistiu. Foi interessante ver a execução de O Sono
Profundo do Caracol, com André envolto em um saco plástico gritando em plenos
pulmões, com firmeza e em alto e bom som “a sua liberdade plastificada”, e ver Uma
Teoria Duvidosa ganhando forma novamente. Bem provocativo em fazer pensar!
Sem perder tempo, a
Declinium começou o seu show mantendo a mesma vibração das performances
anteriores. Com um vasto repertório, no qual o quarteto sempre surpreende com a
alternância de músicas entre uma apresentação e outra, há sempre de se esperar
ter uma experiência ímpar com os camaçarienses. A sua qualidade sonora
impecável e sinceridade artística nunca são deixadas de lado por eles quando
estão no tablado. Boa parte do público acompanhava a banda dançando e cantando
as letras, como em Marte, onde o coro foi belíssimo e em uníssono.
O grupo
passeou por paisagens sonoras diferentes na psicodélica-garageira-sessentista,
Dias Ácidos, e no rockão brit Sadness Happiness Confusion, além de ter a
participação especial da Suzi Almeida (Invena) nos vocais de Fênix. O
encerramento ficou por conta de Calor, que também foi entoada por quase todo
mundo que estava presente. Tem algumas músicas da Declinium que emocionam como
canções do Siamese Dream, do Smashing Pumpkins, e essa é uma delas. Foi mais
uma apresentação memorável dos rapazes.
Encerrando a noite, a
anfitriã Modus Operandi fez valer os seus vinte anos de história. O conjunto
sempre traz apresentações impressionantes para os ouvidos e para os olhos de
quem o assiste, e não foi diferente dessa vez. O bom e caótico turbilhão
musical dos aniversariantes passou como um tornado pelo Buk Porão, com a M.O.
executando a maioria das canções de todos os seus trabalhos lançados, mesclando
músicas que raramente (ou nunca) foram tocadas antes, com outras que aparecem
frequentemente em seus shows. Kahlil Gibran com sua levada dançante atiçou
muita gente na casa, que se mexeu cada um a sua maneira, seja no lugar ou se
espalhando pela pista.
Em vários momentos o baixista Henrique ia para o meio do
povo com o seu instrumento para aproveitar a empolgação, enquanto as cascatas
de faíscas originadas do atrito da furadeira com a chapa de ferro, da percussão
de Marcos, amplificavam o seu impacto musical. Barbárie sempre forte com os
sintetizadores e vocais diretos de David, e bateria segura de Deus Du, foi um
ótimo momento da apresentação. A performance ainda contou com a participação
especial do primeiro baterista do quarteto em uma das músicas e com a banda
presenteando com cartas as pessoas que compareceram na festa. Com certeza eles se
divertiram bastante e divertiram muita gente!
A aniversariante acertou
bastante na escalação dos conjuntos para cada sábado, no cuidado da organização
do evento e no zelo pelo equipamento de som oferecido para os shows. Quem saiu
de casa para ver a quarta noite do Modus Operandi Convida, mais uma vez pôde
ver ótimas apresentações de bandas que se entregaram completamente em cima do
palco. Foi assim nesta ocasião e em todas as três datas anteriores, com grupos
tocando com vontade e com um público numeroso, atento e receptivo. As
engrenagens se movimentaram!
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