Tava
meio estranho o Pelourinho nessa sexta. Caminhei do inicio da Avenida Carlos
Gomes até o centro histórico e o habitual agitado movimento corriqueiro daquela
parte da cidade não estava lá. Uma ou outra pessoa subia comigo a Praça Castro
Alves em direção a Praça da Sé e quanto mais me aproximava do Terreiro de
Jesus, parecia que o lugar estava ainda mais vazio. Dava até para ouvir o vento
frio passando por entre as árvores de lá. Porque? Feriado? Talvez. Crise?
Talvez. Medo? Talvez. Descuido com o lugar e com a sua imagem na mídia? Talvez.
O
fato é que foi até difícil de encontrar uma baiana do acarajé que estivesse
vendendo um abará para eu poder forrar o meu estômago. Mas achei! E comi bem
devagar vendo a baiana voltar a receber os cuidados da sua pedicure, cuidados
que interrompi quando cheguei. Um som de voz e violão solitário, com uma
paletada que lembrava o Caetano e que ecoava ao longe, foi a trilha sonora do
momento e foi a mesma que me guiou para a o Largo Pedro Arcanjo para conferir
as bandas Squadro, Circo Litoral e O Terno (SP).
Salientando
que o Pelourinho é muito bem policiado, o caminho até o local do show não teve
uma paisagem muito diferente. Ainda com o gosto do quitute baiano na boca
adentrei no lugar que tinha pouquíssima gente. Uma pequena parte do espaço
havia sido reservada para acomodar uma festa de formatura que começou após o
termino do evento, mas que não atrapalhou em nada. As pessoas chegavam devagar
e muitos do que foram já estavam presentes antes da primeira banda tocar.
Depois de uma certa espera a Squadro subiu ao palco e fez um som bem fincado em
bandas brasileiras da década de 1980. Dava para perceber essas influências em
algumas melodias e em boa parte no estilo vocal do seu frontman, onde ficaram
claras as referências de Barão Vermelho (fase Frejat), Cazuza e Renato Russo. O
som do palco não ajudou muito, deixando a música com um aspecto vazio em alguns
momentos, mas permitindo a banda se superar em algumas baladas. Para a minha
surpresa, ou não, eles encerraram a apresentação com um cover dos Mutantes.
Com
um intervalo curto, foi a vez da Circo Litoral subir ao palco e fazer um som
com mais referencias que a banda anterior. Variando entre o indie e as bandas
brasileiras dos anos 2000, o conjunto acordou um pouco mais o lugar com canções
mais agitadas e um pouco mais conhecidas da maioria das pessoas que foram
conferir o evento. Foi um bom repertório quase que completamente autoral, mas
que deu espaço para um cover do Muse, que foi desnecessário diante da veia los
hermanica da banda. Show e cover agradaram e prepararam o ambiente para o
conjunto que viria a seguir. Encerrando a noite os paulistanos d'O Terno
fizeram um show que atendeu bem as expectativas de quem foi assisti-los. Com um
som que passeia pela jovem guarda, Mutantes, pelo psicodelismo e
neo-psicodelismo, pelo garage rock sessentista e com temas que falam sobre o
cotidiano e outras coisas sombrias o trio tocou quase tudo o que podia naquela
noite.
A
ênfase no seu setlist foi dada para as músicas do seu segundo álbum e para
algumas do seu primeiro trabalho, além de atender a pedidos de última hora da
platéia que não sossegava em pedir mais uma a mais outra canção. A banda é
realmente boa ao vivo, executando com fidelidade os arranjos e texturas que
estão nas suas gravações, sendo que em alguns momentos o espírito do Tame
Impala baixava com muita força na performance dos rapazes. Quando Estamos
Dormindo, Medo do Medo e a versão de Trem Azul, do Clube da
Esquina, foram bons momentos e o encerramento com Zé, o Assassino Compulsivo
causou estranheza nos convidados da formatura que se ajeitavam em suas
cadeiras. Foi um bom show e quem ficou até o final pôde ganhar um autografo da
banda que se dispôs a atender a cada um que a procurou.
Na
saída, a estranheza inicial diminuiu bastante quando passei pelo Bar do Nêgo
Fua e vi a grande quantidade de gente que se encontrava por lá. O samba estava
quente do lado de dentro e muita gente degustando o seu cravinho, ou a sua
cerveja, do lado de fora. A Praça Quincas Berro D'agua também não estava
diferente, com a sua lotação quase no máximo, cheia de gente aproveitando o
ensaio de um artista afropop que será provavelmente uma nova/velha sensação do
próximo verão. É esperar para ver! Deu um alívio ver o Pelourinho daquele jeito
na saída. Acho que é uma boa questão de ocupação.
*Matéria originalmente publicada em 19/10/2015.