Vinte anos não são vinte
dias! Essa afirmação bastante popular pode ser bem clichê, mas o fato é que ela
é verdadeira, possuindo um grande peso e significado muito profundo. Ainda mais
quando posta em um contexto no qual um grupo de rock comemora mais uma
primavera de atividade na cena roqueira local. A banda Modus Operandi festeja a
sua segunda década de existência com o evento Modus Operandi Convida, no qual o
quarteto se apresenta com mais dois conjuntos locais, em cada sábado desse mês
de março, no Buk Porão Bar e com a proposta de tocar um disco da sua
discografia para cada data.
Nesta investida inicial, a
noite soteropolitana estava fria. Fria e aparentemente vazia. O caminho até chegar
ao local deste primeiro sábado estava estranhamente calmo, considerando que foi
um final de semana de pós-carnaval e no qual a cidade ainda costuma se mergulhar
na ressaca (festiva!) da agitação de momo. Nem o Pelourinho estava muito além
do que se poderia imaginar: muita gente, claro, mas nada fora do normal para o
fluxo do centro histórico. E ventava muito também, diga-se de passagem. Mas essas
condições atmosféricas e climáticas se findaram quando coloquei os pés dentro do
lugar da festa.
O Buk Porão estava aquele
bom e verdadeiro inferninho, com uma quantidade considerável de pessoas e um
clima excelente para uma noite de rock instigante. Muita gente circulando e
papeando sobre tudo o que se pode ser conversado, seja lá sobre bandas,
cenário, biologia e religião, novas reflexões sobre a letra de Uma Teoria
Duvidosa (Funcionaface) e, inclusive, sobre parentescos revelados. As
interações estavam quentes, gelada mesmo só a cerveja que estava sendo vendida.
O disco Goo (Sonic Youth) rodava de fundo enquanto várias coisas aconteciam,
até a primeira banda tomar a sua formação no palco. A Vende-$e tocou com
vontade o seu repertório que vem sendo executado há um bom tempo por aqui. É
perceptível o quanto os rapazes tem mostrado mais entrosamento, pude vê-los
antes em alguns momentos ao longo do ano passado e é nítido este fato. Mais
explosivo e veloz, com o vocalista mais inquieto e letras com um conteúdo
social forte, o quarteto fez o seu punk/hard core de maneira direta e objetiva,
abrindo bem a noite. Que venha o seu primeiro trabalho!
Depois deles, a Carburados
Rock Motor mostrou uma outra vertente do punk rock. Com uma pegada mais trash, bem
mais crossover, o trio fez um som pesado, de riffs rápidos e cozinha volumosa.
Em parte da apresentação, o vocalista/guitarrista cantou com uma balaclava, um
item bem apropriado ao som e aos versos de protesto. Mesmo tocando um pouco
mais de tempo do que a primeira banda e com um problema de corda partida no
baixo, a performance empolgou, com o baterista fazendo viradas seguras no seu
instrumento e o baixista segurando bem a base do som.
Fechando a noite, os
anfitriões da Modus Operandi assumiram o espaço e levou quem estava por lá a
uma viagem até o seu primeiro disco. O Radio Graphia (2000) foi tocado na
íntegra, com músicas que estão com frequência em seus shows e algumas outras
que não aparecem há muito tempo, além de ter espaço para um bis com canções do
seu próximo lançamento. Com exames de raio-x espalhados pela parede do lugar, o
desempenho da MO foi o turbilhão musical que ele costuma ser nas suas aparições:
expressivo e caótico, uma música colada na outra, com texturas de teclado, faíscas
e pulsação firme de baixo e bateria. Foi bem agitado e muita gente se balançou.
A Modus Operandi começou a
sua comemoração muito bem, mostrando fidelidade a sua música em uma noite de bons
shows de rock. O público prestigiou o evento e a cada grupo até o final de suas
respectivas apresentações, o que foi algo bom de se ver. Ainda há mais três datas
para acontecer o Modus Operandi Convida. Se você não foi neste, é só conferir o
ótimo lineup no cartaz acima e escolher o seu melhor dia para comparecer. Ou
escolher em ir a todos!
*Matéria originalmente publicada em 07/03/2017.