É
pouco comum, mas acontece. Vez ou outra um baterista sai de trás do seu
instrumento e vai assumir o posto de frontman de uma banda, ou de um novo
projeto. Muito do que é visto ao final deste tipo de movimento trás como
resultado uma música dentro dos moldes do convencional, não que ela seja obvia
ou ruim, mas surge algo já esperado pelo público que vivencia essa expectativa.
O Dave Grohl com o Foo Fighters, por exemplo! Ninguém poderia prever que tipo
de som ele estaria fazendo hoje, mas é claro que não precisaria de uma bola de
cristal para saber que ele não iria seguir outro caminho diferente do que ele
escolheu para a sua carreira e a carreira de sua banda.
Por
conta de suas influências e muito mais por estar inserido no mitiê da indústria
musical, não creio que ele se arriscaria em algo experimental, mesmo se tivesse
vontade - o Krist Novoselic tentou algo próximo a isso e o mercado não
entendeu, desapontado, ele reclamou publicamente e decidiu parar por tempo
indeterminado com seus projetos musicais. Neste caso aqui, ser um artista
independente significa também ter (muita) liberdade para dar asas ao som que se
quer fazer, sem amarras.
O
ainda baterista Maicon Charles lançou no final do ano passado o disco de
estreia da sua banda Tsunami, intitulado “Crack”. No uso das baquetas desde os oito
anos de idade e tendo atuado em bandas como Velotroz e Weise, ele enxergou
novas possibilidades musicais aprendendo outros instrumentos e decidiu (como
frontman) montar o seu grupo. O resultado dessa empreitada foi um cd gravado
nos estúdios Vous, Caverna do Som e House of Ozzy e que contém oito canções de
muito experimentalismo, punk, sintetizadores ácidos, letras nonsense e bastante
noise.
“Crack”
começa muito bem com “1989”, um punk rock diferente de guitarras distorcidas,
texturas ácidas, riff grudento e vocais nervosos. É uma faixa certa de ser
repetida várias vezes depois de ser escutada. Depois dela aparece “Odeio
Aqueles que se Entregam a Vaidades Enganosas”, uma canção rápida com menos de
um minuto e frenética, onde se versa sobre filhos do sol e sobre todo mundo
estar sem dinheiro. Uma piração das boas. A terceira é “Deus”, mais uma com
bastante distorção e textura de guitarra sem perder a melodia de vista, ainda
tendo belas nuances dentro do caos sonoro que a forma.
Depois
dessas três primeiras canções (com o próprio Maicon Charles gravando todos os
instrumentos), o disco começa uma sequencia ao vivo (já como banda) que engloba
quatro músicas: “Perlita”, “K-ont”, “Russian Maffia” e “Dirty Loops”. Com uma
sonoridade diferente em relação as primeiras, pode-se ouvir nessas faixas versos
como “vou consertar meu toca discos lácteos”, em “Perlita”, e “o espaço é o
lugar”, em “K-ont”. Depois seguem como uma grande jam, em sua maior parte
instrumental e também um pouco cantada no seu final. Para quem gosta de barulho
e experimentalismo, no melhor estilo Sonic Youth nos seus primeiros álbuns, vai
encher os ouvidos com essa sinfonia.
Ainda
se não bastassem as canções, a Tsunami trás algo mais na sua arte. É justamente
o formato da sua obra que estará disponível, além de mp3, em cd físico e
pendrive. Também possuirá cinquenta capas diferentes para “Crack” e, sem perder
o fôlego, a banda também já está preparando o seu segundo disco que se chamará
“Nonsense”, que será lançado em maio deste ano. Criatividade e liberdade
musical em alta e sossego para fazer isso, coisas que, provavelmente quem se
encontra no mainstream jamais teria o gosto de desfrutar como realmente
gostaria.
Conheça
o som da Tsunami:
Vídeos:
Clipe de “Odeio Aqueles que
se Entregam a Vaidades Enganosas” - https://www.youtube.com/watch?v=iY-qErDUEZQ
Entrevista para a Bad TV - https://www.youtube.com/watch?v=XhHZi3MGR1M
*Matéria originalmente publicada em 05/04/2015