Havia
muito tempo que não assistia a um show do André L. R. Mendes, muito tempo
mesmo. Da minha memória, o último que me recordo de ter visto foi uma
apresentação que ele fez ao lado dos seus companheiros de Maria Bacana quando a
banda abriu o show Veneno Vivo, da Cássia Eller, na Concha Acústica do TCA no já
longínquo ano de 1996. Bem próximo de lá, no Hauss Kafee, vinte anos depois, o
compositor fez o show de estreia do seu disco, Todas As Cores, e confesso logo
de cara o quanto foi bom ver o músico novamente em cima do palco, empunhando o
seu instrumento.
O
local escolhido para o lançamento do seu mais recente trabalho foi bem adequado
para a proposta do seu som. Um ambiente acolhedor, ao ar livre, diferente dos
locais onde acontecem shows de rock por aqui, um café com paredes com um
amarelo ouro predominando pelo ambiente, deixando o artista e o público tranquilos.
O cheiro do café espalhado pelo lugar tornou árdua a resistência em degustar um
cappuccino e um expresso, que foi logo pedido por mim enquanto bons papos iam
acontecendo, com mais pessoas chegando e com o clima da cidade ajudando nessa
hora (não havia uma nuvem de chuva no céu como na noite anterior). Fez lua!
Às
20:00 horas em ponto, o cantor e compositor André L. R. Mendes subiu ao palco
da casa e deu início a algo esperado por muita gente presente por lá. Com o
filme Boyhood sendo projetado ao fundo do começo ao fim da sua apresentação,
ele começou a sua performance com Naturalmente, uma das canções do disco que lançara
naquela noite. De certa maneira surpreendente, a segunda música escolhida foi uma
da sua antiga banda, Maria Bacana. Luvas ganhou um belo arranjo no violão,
tendo uma introdução veloz, para enfim chegar no seu andamento original desse
clássico da cena local. No seu primeiro contato com a audiência de cima do
tablado, afirmou que o palco é sua casa, mas que estava longe dela por um tempo
e aproveitou a deixa para introduzir a faixa Casas, do seu penúltimo trabalho,
Arquipélago. Depois, executou Cine Perfeição, Não Chora, Menina e Naufrágios,
sendo fiel a sequência exata delas que se encontra no Todas As Cores e então
partiu para As Velhas Ondas, faixa que abre o seu interessante disco Amor
Atlântico.
Após
este ponto do show, foi chamado ao palco o baterista Thiago Jende (Búfalos Vermelhos
e a Orquestra de Elefantes) para fazer uma participação espacial em uma
sequência mais veloz do seu repertório e que contou com mais duas músicas do
MB, Olhos e Primavera, além de Amsterdã (que versa sobre como o ser humano
nunca está plenamente satisfeito com as coisas) e de uma faixa da sua primeira
investida solo (Bem-Vindo à Navegação), Pelo Mundo com Você. Já com uma
distorção suave presente em seu violão, retomou a sequência com Intimidade e
Vida, ambas do seu mais recente trabalho, as ligando com Em Paz do seu debut,
que viria a ser a última música da noite, mas que contou com Marcelo Medeiros
(baterista da MB) na percussão.
O improviso atestou a química entre os dois e
acabou se esticando para mais uma música da Maria Bacana, Por Aí, agora também
com o Lelê (baixista) na divisão dos vocais. Tem coisas que o tempo não
consegue apagar! Ainda teve bis com Tchau Jornal, música que critica o uso mau tendencioso
dos grandes meios de comunicação por aqui, composta em 2011 e ainda muito
atual, O Martelo do Tempo, mais uma do seu penúltimo disco (e uma das mais
aguardadas) e alguns covers, que serviram para mostrar um pouco das suas
influências (teve de Caetano Veloso a Nirvana), com um bom destaque para O
Mundo Anda Tão Complicado (Legião Urbana) e um desfecho definitivo com
Caroline, do Maria Bacana.
Foi
uma apresentação bem interessante do André L. R. Mendes, com um setlist bem
montado e organizado de maneira que ele pôde visitar bem a sua já longa
carreira solo, sem deixar de contemplar o seu passado musical e suas
influências, em um formato acústico ainda pouco explorado por artistas daqui.
Acredito que ele deveria fazer mais apresentações. Dava para perceber a
intimidade dele com seu instrumento e a maneira como ficou à vontade se apresentando,
usando os recursos que escolheu para fazer a sua música e obtendo uma resposta positiva
do público a muita canção executada naquela noite. Além do fato das suas
composições soarem muito bem de perto! A vontade boa de tocar ao vivo chegou a
tirar um pouco do seu sangue, mas nada que o fizesse mal. Muito pelo contrário.
Fez bem e marcou uma ótima e diferente noite de rock.
*Matéria originalmente publicada em 14/10/2016.