O
rock também é uma troca! É uma troca de energias, de experiências, amizade,
irmandade, sensações e ideias. Foi dentro desse propósito, e foi como aconteceu
a primeira edição da Rockambo (junção das palavras rock com escambo), festival
mensal que sempre traz duas bandas da capital e uma do interior, e o inverso
quando ele for ocorrer em sua edição fora da capital baiana, sempre com o intuito
em fazer com que os grupos daqui e de fora troquem conhecimento da cena, e agreguem
valor a formação musical de cada um dos envolvidos. O fortalecimento do elo
entre os grupos nessa experiência também se torna um fator inquestionável
dentro deste proposto.
Foi
uma noite de quinta, clima agradável e com o público chegando aos poucos. Para
um meio de semana, a quantidade de pessoas que presenciaram a festa foi bem
significativa tendo em vista que o dia seguinte ainda era uma sexta (algo
óbvio, claro, mas a com maioria ali tendo compromisso cedo da manhã isso
poderia ser um empecilho para um indivíduo sair de casa e curtir o som). Quem
resolveu sair e conferir as apresentações ganhou bastante peso, stoner, riffs
de pegadas clássicas e muito fuzz para dentro dos ouvidos. Antes disso, muita
conversa sobre política, um pouco da história do underground local e uma
imersão no passado do Bahia formaram a atmosfera do lugar.
É
justo frisar que a noite foi muito boa para ver ótimas performances dos
bateristas das três bandas. Quem abriu a Rockambo foi a Búfalos Vermelhos e a
Orquestra de Elefantes. Quem chegou cedo e pôde ver a sua passagem de som, viu
um pedaço de uma nova canção que os rapazes estão compondo. Vem coisa boa por
aí. O duo tocou com muita vontade, dava gosto de ver os rapazes descendo a mão
sem piedade nos seus instrumentos. Tão certo assim que um pedaço de uma das
luminárias do palco caiu com a vibração da sua música (mas não houve prejuízo,
que isso fique claro). Riffs bem encaixados e as viradas de bateria mais do que
certeiras naquela noite em especial acordou muita gente. Mulher Kriptonita, A
Farsa e as demais já conhecidas por muita gente ali foram executadas em um
repertório objetivo e certeiro. Depois deles subiu ao palco a feirense
Calafrio. Ainda não conhecia o som dos rapazes e foi bom ver um conjunto que
surpreendia no palco fazendo um stoner rock forte e variando com nuances pop
radiofônicas. Quarteto entrosado, com o baterista de ótima presença que não
parou nem um segundo sequer, mesmo quando deixou cair por duas vezes a baqueta.
O
humor leve na figura do vocalista deu uma certa fluidez diferente ao seu show e
o uso de um trecho pequeno de uma letra do Raul Seixas em uma de suas canções
mostrou que os caras sabem onde estão pisando. Encerrando o evento, a Ronco
mandou mais uma vez muito bem no seu stoner pesadíssimo. Soando ainda melhor ao
vivo, o trio não pecou na qualidade da sua sonoridade, usou bem os seus
recursos de palco e mostrou uma presença serena diante da audiência. Cidade dos
Sonhos e a Suicida são sempre bons momentos no seu setlist e o seu baterista
mandou muito bem com o seu instrumento contendo, além dos pratos, somente
caixa, bumbo e surdo, mas fazendo um som imenso e cheio de energia. Acho que
umas três baquetas foram quebradas nessa apresentação e foi empolgante ver
isso. A guitarra (com suas texturas) e vocal bem seguros e cozinha entrosada
fecharam bem o debut do evento.
Foi
realmente uma noite na qual, além das ótimas performances das bandas, os
bateristas se destacaram muito. A ideia central da Rockambo é excelente e os
músicos envolvidos nesta primeira edição entraram em uma sinergia que fez a
coisa acontecer bem. Agora é aguardar a próxima edição e esperar boas novas das
versões do interior. Na volta para casa, causos das aventuras no underground
compartilhados entre o Josh Homme de Roma e os demais dentro do carro mostraram
que o rock é uma diversão que vale a pena.
*Matéria originalmente publicada em 21/03/2016.