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Rock no Vacachorro.*


Mais uma vez o Portal Soterorock se jogou noite adentro para ver o movimento rocker da cidade na noite do último sábado. O nosso intuito foi ver as bandas que se apresentariam no evento “Show Colaborativo”, ocorrido no Largo da Dinha, mais especificamente ao lado do famoso Vacachorro. Mas já cedo no local, ainda deu tempo para ver parte das atrações do evento “Noite Vazia”, no Irish Pub.

Ainda faltavam tocar as bandas Van der Vous e HAO, sendo elas um bom aquecimento para as bandas que tocaram na rua. A primeira executou um show muito bom, como de costume de suas apresentações, sendo que se mostrou bem mais a vontade como um trio em relação a sua última aparição. A segunda tocou seu som muito influenciado por bandas como o Red Hot Chilli Peppers e Blind Melon, ainda agregando um intrigante saxofone ao seu som. Começaram com um instrumental longo e depois partiram para mais uma autoral cantada (e com o tal saxofone), deixando o pub com um clima similar ao longínquo ano de 1994.

Saindo em direção ao Vacachorro, já nas quadras do Rio Vermelho já dava para se ouvir o som da Búfalos Vermelhos e a Orquestra de Elefantes. Som forte e volumoso! E olhe que é um som feito por apenas duas pessoas: os irmãos Jende. Ainda não tinha visto uma apresentação dos rapazes e eles não desapontaram. Tocaram músicas do primeiro EP, músicas novas e uma versão cheia de personalidade da canção “Dos Margaritas”, do Paralamas do Sucesso. Tudo muito redondo e certeiro, como bons atiradores de elite da cidade baixa que são. Depois teve a The Honkers, que fez mais uma ótima apresentação e eu já nem sei mais como escrever sobre eles quanto a isso, de tanto show bom que já vi a banda fazer.

Mas esse foi intenso. Eu deveria esperar que fosse assim, Thiago (baixista da banda) estava usando um boné do Nhô Caldos, antiga e desaparecida casa de shows daqui e esse era um sinal. Além da sequencia forte de musicas, teve Rodrigo Sputter com modelito sensualizante conseguindo domar o Vacachorro depois de conseguir monta-lo e um grande final com dois bateristas antes do bis.

Depois deles os alagoanos do Super Amarelo mandaram bem o seu indie rock, agradando a gregos e a troianos. O som da banda pode ser mais bem definido como se o Sonic Youth e o Superchunk fizessem uma conexão cósmica com a guitarra peculiar dos britânicos do Blur. Se saíram bem em seu primeiro show em Salvador e com certeza venderam algumas cópias do seu cd. Fechando a noite se apresentou a Charlie Chaplin. Havia bem uns sete anos que não via um show deles, mas continuam animados. Agora com dois bateristas o som ficou mais pulsante e enérgico, deixando muita gente que conhecia o som deles mais exaltada e cantando junto com o grupo. Eles fecharam bem a noite.

O “Show Colaborativo” foi uma iniciativa do coletivo Tomanacara e envolveu pessoas que bem intencionaram fazer som para suas bandas e para o público daqui (o lugar estava cheio). Durante os intervalos das apresentações ou de uma música para outra, pedia-se uma colaboração de quem o pudesse fazer com a quantia de R$ 10 (dez reais), para custos com equipamento e logística. Quem pôde colaborar, colaborou. E pagou bem!


Na volta para casa, fui pensando com os meus botões sobre esse evento. Acho válida a iniciativa e o gesto de fazer acontecer a musica que você acredita, mesmo que seja no meio da rua e acho que isso acontecerá mais vezes. Mas por quanto tempo esses artistas terão que se expressar dessa forma? Esse evento também expõe uma das precariedades da nossa cena local, que é a falta de casas voltadas para esse tipo de som. Só há uma, na verdade, e quando se procura uma pauta livre se esbarra em datas e horários preenchidos. Além das citadas nessa resenha, imagine quantas bandas não gostariam de se apresentar em condições melhores? Enquanto isso não muda a cena grita, mesmo que o grito seja no vácuo!

*Matéria originalmente publicada em 26/04/2015

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