Na
última sexta feira 13 aconteceu a segunda edição do Soterorock Sessions, evento
do Portal Soterorock pensado e criado para ser mais um braço do nosso veículo
em prol da cena baiana autoral da música rock, dando oportunidade de
apresentações a novas e velhas bandas locais. Mesmo sendo carregado de
superstição, este dia treze, em uma sexta, não significou falta de sorte para o
evento, para as bandas e paras as pessoas que foram prestigiar a noite. Muito
pelo contrário, se houve algo azarento com alguém, isso ficou durante o dia até
cada um entrar pela porta do Taverna Music Bar.
O
bairro e o lugar estavam movimentados. Havia uma expectativa grande pela noite,
pois no line up continha banda lançando EP, banda tocando pela primeira vez no
circuito, banda de muita história na cena e mais uma começando a se firmar em
eventos constantes daqui de Salvador. E isso tudo com uma diversidade de sons
interessante e, no final das contas, impactante para quem tocou e para quem
assistiu aos shows. As pessoas foram chegando aos poucos, deixando o clima da
casa movimentado e gerando grandes expectativas para o início das atividades.
Já
tinha gente no espaço destinado as apresentações quando a novata na cena subiu
ao palco. Este foi o primeiro show da carreira da Neurática e olhares atentos
se voltavam para eles naquele momento. Originados da cidade baixa, o quarteto
se sentiu à vontade dentro da sua apresentação e seguros no que estavam
fazendo. O som deles é um “grunge de raiz”, autoral, cantado em inglês e de
muita personalidade. Como atração de
abertura do evento, eles tiveram trinta minutos para mostrar o seu trabalho e
souberam aproveitar bem cada segundo disponível, se saindo muito bem com
composições sendo tocadas com segurança mesmo tendo um vocalista recém-chegado
ao grupo, evocando sons dos primeiros registros do Soundgarden e Alice in
Chains como influência. A presença de palco também foi muito boa, com os
músicos acompanhando os próprios riffs com a cabeça e com o baixista
incorporando o Axl Rose em sua performance. Quem foi viu e é muito bom
presenciar a estreia de um conjunto de rock bem de perto.
Depois foi a vez da
Modus Operandi fazer o seu som psicodélico urbano dentro do Soterorock
Sessions. Vindo de uma boa e expressiva sequência de shows pela cidade, o grupo
fez um show excelente, executando-o com um entrosamento especialíssimo de quem
faz isso muito bem feito há bons vinte anos. A banda literalmente se espalhou
pelo Taverna, com o seu vocalista se situando mais adiantado no palco, o baixista
inquieto de um lado para o outro com sua máscara “Hannibal Lecter” no rosto,
deixando a performance da MO mais forte, isso juntamente com a bateria segura e
a percussão criativa sempre bem colocadas nas suas performances. Barbárie
voltou a ter destaque no seu repertório, que deixou a noite quente e manteve o
nível da qualidade da banda de abertura. Os rapazes como sempre impressionam no
palco e essa foi uma das melhores ocasiões que pude vê-los ao vivo.
Em
seguida foi a vez da Game Over Riverside se apresentar. O quinteto estava
celebrando naquela noite o lançamento do seu primeiro EP, que leva o próprio
nome e que contém seis faixas. Movidos por este fato, o grupo tocou com um gás
extra no evento, que foi crescendo cada vez mais durante a execução do seu
setlist. Todas as canções do trabalho de estreia foram tocadas de maneira mais
pulsante, com os dois primeiros singles lançados abrindo a sua performance. Na
metade da apresentação o público começou a se aglomerar mais e a se agitar,
enquanto a banda se soltava na mesma proporção, com o seu vocalista e
guitarrista parecendo ambos se encontrando em um transe musical ditado pelos
acordes “indie-punk-psicodélicos” das composições. God in a Talk Show foi um
ponto alto no som se encaixando na metade do repertório, animando as pessoas
dali até o fim, com gente batendo cabeça ou abrindo rodas de pogo até mesmo no
tema mais psicodélico, voltando a se empolgar ainda mais na sequência das
músicas. A energia foi boa e o punch da apresentação e do EP foram bem empregados.
Encerrando a noite, a Olhos Para o Infinito fez o seu som new-metal/grunge,
também autoral, mantendo toda a qualidade que as bandas promoveram antes deles
se apresentarem. Quem ainda não conhece o trio fica abismado com o alto nível
técnico dos rapazes, que possuem composições bem elaboradas, de riffs
pesadíssimos, linhas de baixo matadoras e uma bateria para deixar qualquer um
desconcertado. Ainda tinha gente quando eles começaram a tocar e quem pensou em
ir embora pensou duas vezes antes de fazer isso e resolveu ficar. A sonoridade
da OPI convence para o bem e hipnotiza quem os assiste tamanho o impacto
causado pela linguagem musical abordada pelo conjunto. Foi também uma
apresentação objetiva e com uma sonoridade que tomou o espaço do lugar. Foi bonito
de se ver!
O
Soterorock Sessions mais uma vez atingiu o seu propósito nesta sua segunda
edição, que foi dar espaço para que as bandas de rock autoral da Bahia pudessem
mostrar os seus trabalhos em palcos locais e, assim, poder ajudar no fomento da
cena roqueira baiana. Abrir espaço para quem nunca teve uma oportunidade de
tocar, para quem merece mais alcance no cenário, para celebrar o rock em todas
as suas frentes (com um lineup matador e diversificado) foram aspectos que
daqui festejamos em ter conseguido alcançar também.
Este não deixa de ser um
estímulo aos grupos envolvidos, além de ser a nossa forma de celebrar essa boa
fase que acredito que o rock local vive, no qual tenho presenciado vários shows
empolgantes com bandas de qualidade e competência noite afora. No mais, foi
tudo muito divertido e aqui vai aquele velho recado: apoie a cena e vá aos
shows de bandas autorais!
*Matéria originalmente publicada em 19/05/2016.