A nossa série de entrevistas retorna novamente com um
papo descontraído com o guitarrista da Game Over Riverside, Leko Miranda. Aqui,
ele falou sobre o retorno da banda e a sua atual formação, sobre como é ser um
grupo que volta a ativa e não faz campanha de financiamento coletivo na
internet para bancar a gravação do seu disco, sobre o que cada um andou fazendo
neste longo hiato de oito anos, além de contar causos das jornadas musicais
noturnas do conjunto. Então, liga um som aí e se divirta com a entrevista.
SoteroRockPolitano - Leko, para começar gostaria de
saber como foi retornar com a Game Over Riverside depois de oito anos parada. O
que levou o conjunto a querer voltar a cena?
Leko Miranda - Foi a vontade de querer fazer o som novamente com os
amigos de longa data. Bateu saudade em querer tocar com os caras e voltar a fazer
parte da cena roqueira daqui que esta efervescente e com muita banda
interessante. Na verdade, já nos reunimos desde o inicio de 2014 com ensaios
frequentes, antes mesmo da saída de Ricardo Cidade, o nosso baixista, e só
agora em setembro desse ano que fizemos o nosso primeiro show de retorno.
SRP - Sobre a banda, após a saída do baixista, como
ficou a formação atual?
LM - Primeiro
tentamos manter somente as três guitarras sem o baixo, pois não queríamos
incluir outro musico substituto, porém o som não ficou muito bom. Aproveitamos
então que o nosso vocalista também toca guitarra e um dos nossos três
guitarristas, André Gamalho, assumiu as quatro cordas. Com isso, mantivemos em
parte a formação original do grupo, com as três guitarras sem ter que necessariamente
entrar mais uma outra pessoa e sem descaracterizar o som da gente.
SRP - Com quase onze anos de estrada, entre inicio,
término e retorno, a banda não chegou a gravar as suas canções, o que é quase
uma lenda urbana na cidade baixa. Por que não aconteceu um registro fonográfico
da G.O.R. naquela época? Vocês pretendem gravar algo nesse retorno ao cenário?
LM - Bem,
naquela época não tínhamos acesso a recursos para fazer um registro de
qualidade, embora a banda tenha tentado por diversas vezes fazer gravações
demo. Os recursos que me refiro, não são somente materiais técnicos como
instrumentos e equipamentos, mas também a falta de dinheiro suficiente para
bancar uma boa gravação. Então fomos adiando isso ao mesmo tempo em que
focávamos nos nossos shows. Uma coisa tem que compensar a outra, né?
Pooopopooooooo! Mas hoje temos condições melhores e já estamos preparando o tão
aguardado disco/ep/single de estréia. Já estamos metendo a mão na massa.
SRP - Vocês pretendem iniciar algum tipo de
financiamento coletivo via internet como o Kickstarter, Catarse, ou Kickante?
LM - Não,
não. Não pretendemos pedir dinheiro para as pessoas para nos ajudar a gravar o
nosso cd. Vai sair do nosso próprio
bolso mesmo. Não queremos esquentar a cabeça esperando e criando uma
expectativa de que alguém tenha a boa vontade de investir no nosso som. Acho
que isso tem que partir da gente mesmo. Acreditamos que seja uma boa ferramenta
para viabilizar projetos, mas acreditamos que isso funcione de verdade com
bandas de porte maior, ou que tenha um publico mais consolidado e fiel. Estamos
em um momento que, infelizmente, não temos isso a nosso favor. Então, somos uma
banda que estamos retornando e que não estamos iniciando um crowdfunding
virtual para bancar o nosso disco. Hahaha.
SRP - Não querendo ser indiscreto, mas como vocês
estão fazendo para financiar a gravação de suas musicas?
LM - Estamos
seguindo os passos de algumas bandas daqui de Salvador, produzindo shows e
arrecadando o mínino que se pode lucrar com esses eventos, e vendendo as
camisas exclusivas da banda, que terá toda a renda das suas vendas revertidas
para os custos das sessões de gravação. E estamos fazendo a velha vaquinha
também, com um caixa da banda. Sobrou o troco do pão a gente joga no nosso
cofrinho. Alias, comprando a camisa da gente a pessoa terá o seu nome nos
créditos do disco. É uma forma de agradecimento, né? É quase como no Catarse!
Hehehehehe.
SRP - Você citou o foco da banda nos seus shows. A
banda era bem performática ha oito anos atrás, com o tempo que passou como
vocês estão se sentindo em cima do palco? Sentiram o peso do tempo e da idade?
LM - Olha,
sempre fui muito parado no palco, me concentrado no meu instrumento. A
performance ficava mais por conta de Sergio (vocal), John-John (guitarra) e Cidade
(baixo), a G.O.R. era muito selvagem e inquieta, era algo até bacana de se ver
enquanto tocava lá no meu canto e isso funcionava muito bem, porque de certa
forma passava uma certa tensão rock'n roll pra quem assistia. Isso salientando
que não era nada ensaiado, os caras sentiam a vibe do local e se jogavam na
bagaça, eramos um bando de malucos da cidade baixa que só queria se divertir
fazendo rock. Quanto ao tempo é aquilo, né? Tem indivíduo dentro da banda que
não pode nem mais beber bebida alcoólica, um que está com o joelho lenhado,
outro mais gordo, um mais careca e é isso. A gente envelheceu como todo mundo
nesses últimos oito anos, mas temos um certo gás para gastar. Nesse dois
primeiros shows de retorno mostramos um pouco disso.
SRP - E nesse hiato, você e os outros componentes se
envolveram em algum projeto musical?
LM - Sim,
quando a a banda terminou parte dos integrantes pararam com a musica para se
dedicar a suas vidas pessoais, enquanto eu, Leo Cima (baterista), Sergio e
Cidade montamos uma nova banda juntamente com o Gil Dantas, um ex-vocalista de
uma banda de metal chamada Mistery. Gravamos um single com duas canções que
chamou a atenção de algumas pessoas na época, mas só durou dois anos. O grupo
se chamava Hardrons e tivemos John-John na fase final do conjunto. Mas foi só
isso mesmo. Ah, Sergio também investiu em um projeto de musica eletrônica
chamado Atakama Project, que ele mantem até hoje em paralelo a G.O.R.
SRP - Qual a relação de vocês com outras bandas da
cidade?
LM - Nesse
retorno fomos bem recebidos por bandas desta geração. E já somos muito gratos a
bandas como a Búfalos Vermelhos e a Orquestra de Elefantes (irmãos Jende), que
acreditaram no nosso retorno, a Rodrigo Sputter (The Honkers), que talvez foi o único que acreditava na nossa volta desde o primeiro dia do nosso término ha
tantos anos atrás e a Rogério Gagliano que nos recebeu muito bem no seu antigo
estúdio. A Exo Esqueleto, que manteve a parceria que existe desde a época da
Sine Qua Non e da Headphones e que tivemos o prazer de tocar na nossa primeira
apresentação, a Van der Vous, Modus Operandi, a Kalmia, a Neurática (que está
lutando para sair da garagem) e tantas outras que temos um bom contato e que
também gostaríamos de dividir palco um dia, e que se deixar passo o tempo todo
aqui falando. Ora, ora, ora!
SRP - Para encerrar, queria saber se tem alguma coisa
na historia da Game Over Riverside que você gosta de lembrar. Tipo, algum show,
alguma confusão, algum assedio de fãs, coisas desse tipo. Tem alguma coisa que
você pode falar sem se comprometer?
LM - Pow,
sim, claro. Tem tanta coisa, daria para escrever um livro. Nossas historias são
muito malucas, cara, e olhe que nunca usamos tipo algum de drogas ilícitas, só
cerveja, tequila e o velho bufo-bufo (uma mistura de refrigerante com vinho São
Jorge). Teve uma certa vez que o nosso guitarrista Andre Gamalho levou uma
cantada de uma bêbada de sessenta e tantos anos de idade que cantarolou uma
musica da Cassia Eller pra ele, ou da vez que o nosso antigo baixista ganhou um
beliscão na bunda de uma mina que disse que ele e o som da banda a salvou do
suicídio que ela iria cometer naquela noite. Tivemos uma vez que parar um show
para dar socorro a PJ, que desmaiou de tanto beber e sair girando em círculos
no meio do show da gente. Mas tivemos momentos ótimos também, como quando um
poeta pediu para declamar um poema em uma de nossas musicas e o improviso saiu
perfeito, as nossas parcerias esporádicas com o violinista Alaim Lopes que
sempre agregava uma coisa diferente às apresentações e, não menos importante, o
fato da banda ter tocado no aniversário de um ano do Programa Encarte. Tocamos
com muita banda bacana naquele evento, com um som ótimo e de, ali, a gente
aceitar o fato de que muita banda ja não queria tocar depois da gente, enfim. É
muita história. Se quiser saber mais de alguma é só ir nos nossos shows e
trocar uma ideia com a gente, estaremos lá de braços abertos. Mas antes, nos
acompanhe pela nossa fanpage do Facebook, tudo o que acontece agente coloca lá!
Agenda, fotos, update de ensaios. Essas coisas. É só chegar!
*Matéria originalmente publicada em 07/11/2015.