Pular para o conteúdo principal

Sons que Ecoam: Mad Monkees (CE).*


            Há umas duas semanas atrás, estava eu circulando pelo Festival DoSol aqui em Salvador e vi que uma ou duas pessoas seguravam em suas mãos um cd de capa laranja, com borda preta e com uma imagem no centro que não conseguia distinguir por conta da distância e da iluminação do local. Curioso que sou, fui até a banca montada no lugar e comecei a passar os cds disponíveis para venda, até chegar no tal disco. A figura no centro era a cabeça de um macaco, com olhos em espiral dentro de um capacete de astronauta e, do lado, o nome da banda: Mad Monkees.

            Essas características me deixaram intrigado, na dúvida, perguntei: "Big, qual é a dessa banda?". "Rapaz..." - ele respondeu -"...essa é uma banda cearense de stoner rock de se foder!!! Pode levar que você não vai se arrepender". Pronto, ouvi a palavra stoner e fechei a conta. Segui a minha intuição, a sugestão do Bigbross e cá estou eu trazendo mais uma banda de fora da Bahia para o Portal Soterorock. É uma feliz coincidência o fato desse grupo ser também do Ceará (a Thrunda, banda que inaugurou essa sessão, é de lá também) e, de fato, o som deles é muito bom.

            Formada neste ano de 2015, o quarteto composto por Felipe Cazaux (vocal/guitarra), Capoo Polacco (guitarra), Hamilton de Castro (baixo), PH Barcellos (bateria), já traz consigo este homônimo EP de estréia, que consta quatro músicas com o que o stoner tem de melhor a oferecer. Da pagada hard rock do balcão de um bar até as viagens mais psicodélicas em estradas desérticas, as canções são como um soco sonoro nos ouvidos. A primeira faixa, Roadkill, é um bom cartão de entrada e começa com viradas de bateria que imprimem uma velocidade a ela, lembrando bandas como Red Fang e traz elementos espaciais nos bons solos de guitarra bem presentes nessa vertente stoner. Raise Again desacelera um pouco, tendo uma levada mais blues e abre espaço para o teclado dentro dela, se aprofundando um pouco mais no sludge porém, não perde o gás. Lords of War é a canção que dá ao conjunto a face mais stoner e mais metal nesse debut, empolga e querer aumentar o volume é inevitável. Faces of Guilty encerra o EP com psicodelia lisérgica e peso, com baixo pulsante e solo ensandecido de guitarra duelando com a bateria, até chegar no climax explosivo digno de boas rodas de pogo. Essa faixa encerra o disco da mesma forma que começou: com velocidade e punch.


            Para quem gosta de stoner rock, a Mad Monkees é uma boa pedida. Os cearenses vão beber na fonte desse estilo, trazendo como referencia bandas como Kyuss e QOTSA (em seus primeiros trabalhos), sem se desprender de outros grupos mais recentes como o já citado Red Fang e até mesmo alguns nomes do casting da Relapse Records. Não foi uma aquisição perdida, muito pelo contrário. Sempre que posso corro atrás de novidades de fora e é boa a sensação de acertar na banda escolhida. Essa ocasião mostra também que a cena do estado do Ceará tem dado bons frutos musicais e é bom ficar atento. No mais, acesse o site dos caras para saber um pouco mais sobre eles.


*Matéria originalmente publicada em 26/11/2015.

Popular Posts

O Pulsar Rebelde do Rock Baiano nunca tem fim!

O rock baiano, desde suas origens, sempre foi um terreno fértil para a inovação e a fusão de estilos. Se olharmos os textos de Léo Cima aqui do blog "Soterorockpolitano", você vai ver que o cenário atual do rock na Bahia continua a se reinventar, mantendo viva a chama de suas raízes enquanto abraça novas influências. Nos anos 70 e 80, o rock baiano emergiu com uma identidade própria, mesclando ritmos regionais como o samba e o axé com as guitarras distorcidas e a energia do rock. Bandas como Camisa de Vênus e artistas como Raul Seixas marcaram época, criando um legado que até hoje inspira novas gerações. Atualmente, o cenário do rock na Bahia é caracterizado por uma diversidade impressionante. Bandas como MAEV (Meus amigos Estão Velho), BVOE (Búfalos Vermelhos e Orquestra de Elefantes), Entre Quatro Paredes, Demo Tape, URSAL, LUGUBRA, Declinium, Venice e muitos outros nomes trazem novas sonoridades, combinando letras poéticas e engajadas com arranjos que passeiam pelo indie,

Uma viagem no tempo, sem perder tempo. Por Leonardo Cima.

Todos os discos que lançamos pelo selo SoteroRec é especial, com cada um possuindo a sua particularidade. Cada um deles carrega uma história interessante por trás de suas faixas, que as vezes não chega ao ouvinte, mas que fortalecem o fator intangível agregado no resultado final de uma obra. Com toda banda é assim e com a Traumatismo não poderia ser diferente. Foi bem curiosa a maneira como a banda chegou ao nosso acervo. Estava eu conversando com o Adrian Villas Boas, hoje guitarrista da banda Agrestia, sobre a proposta do selo de também promover o resgate da memória da cena local, quando ele me falou que havia essa banda na qual ele fez parte tocando baixo, que chegou a gravar um disco não lançado e que se encaixaria muito bem com o propósito colocado, indicando-a para o catálogo, caso a gente  tivesse interesse nela. Eu, que já fiquei entusiasmado antes mesmo dele citar o nome do grupo, ao saber de qual banda se tratava, fiquei mais empolgado ainda. A Traumatismo, anteriormente cham

O garage noir da The Futchers. Por Leonardo Cima.

Nesses últimos dois meses, o selo SoteroRec teve a honra e a felicidade de lançar na sua série Retro Rocks, os trabalhos de uma das bandas mais interessantes que a cena local já teve e que, infelizmente, não teve uma projeção devidamente extensa. Capitaneada por Rodrigo "Sputter" Chagas (vocal da The Honkers), a The Futchers foi a sua banda paralela idealizada e montada por ele próprio no final do ano de 2006. A propósito, o nome Futchers vem inspirado da dislexia do compositor britânico Billy Childish, que escreve as palavras da mesma maneira que as fala. Ele, ao lado de mais quatro integrantes, também de bandas locais da época, começaram os ensaios com uma proposta sonora voltada mais para o mood e o garage rock, se distanciando um pouco dos seus respectivos trabalhos nos grupos anteriores. Relembrando um pouco daquele período e como observador, esse "peso" de não ter que se repetir musicalmente recaía um pouco mais sobre Rodrigo. Não que houvesse isso