Ha
alguns anos atrás, quando fui visitar um familiar em Goiânia, tive a
oportunidade de conhecer uma das cidades próximas a capital. Situada a mais ou
menos duas horas de onde estava, Pirenópolis é um lugar belíssimo e tranquilo,
com muito verde e inúmeras cachoeiras de diversos tamanhos, um verdadeiro
refúgio para quem quer ter tranquilidade, sossego, descansar o corpo e a mente.
E para quem quer gravar um disco de rock também.
Foi
lá onde os goianienses da Overfuzz passaram um mês inteiro e ininterrupto
para gravar o seu primeiro cd cheio, Bastard Sons of Rock'n’Roll, dentro de um
sitio estúdio rodeado de uma natureza verde e rica também em fauna. O som do
trio contrasta bastante com o cenário citado, mas isso chega até ser
interessante por conta do processo criativo da obra, que acabou inserindo
alguns aspectos vividos pelos três integrantes no dia a dia em Piri. A amizade
com o dono de um bar local, a perda do sono por conta de um pseudo-morcego no
forro do quarto onde dormiam, um sino de vento no fundo da casa e a total
liberdade de explorar os equipamentos em mãos contribuíram muito na formação do
cd. O fato de não se encontrar no meio do caos de uma metrópole, no corre-corre
diário de uma grande cidade, certamente serviu para a concentração e imersão do
grupo no processo de produção do disco e, talvez, também agitar a vizinhança.
Com
a faixa título, a obra se inicia com uma pegada stoner swingada, com timbres e
texturas de guitarra fortes, bom solo e bateria bem evidente, depois em Turning
Your Beauty Into a Sickness a velocidade é aumentada com um hard rock com forte
influência de Motorhead. Purple Skin é uma faixa com potencial radiofônico e
tem uma cozinha mais pesada e avolumada lembrando muito o QOTSA nesse aspecto,
enquanto Best Mistake, colada com a sua antecessora, surge sorrateira com uma
pegada mais blues, se preparando para explodir em riffs “iommianos” em um solo
de tons misteriosos. Excelente! Seeking Blood tem boas vocalizações e uma
pegada mais trash e A Fuzz in a Breeze é um breve instrumental com ecos de doom
que antecede a épica No Bliss, veloz como um carro em uma autobahn até a sua
metade até desacelerar e chegar a um stoner doom com um solo imenso. É uma das
faixas mais interessantes do álbum. You Die Tonight retoma a velocidade e segue
sem parar até a faixa mais groovada do cd, Demon Eyes, que tem percussão e
passagem psicodélica. Brizola é uma rápida faixa acústica que homenageia o dono
do bar onde eles tomavam uma breja gelada. Evil Desires e Possum encerram muito
bem o Bastard Sons of Rock’n’Roll com bastante hard rock, viradas de bateria,
texturas de guitarra e baixo segurando a base de uma forma competente!
Apesar
de reconhecer muita influência nesta obra, Bastard Sons of Rock'n’Roll não soa
datado e nem genérico. Me faz lembrar, na verdade, a boa mistura do hard rock
com a cerveja, uma combinação boa de se ter. E volto a afirmar que Goiás é um
estado brasileiro no qual surgem bandas muito boas, que assimilam bem as suas
referências e não receiam em deixar o pé no acelerador quando o rock é puxado.
Dia desses ainda volto a visitar Pirenópolis ouvindo Overfuzz no meu headphone.
O site da banda: http://www.overfuzzbr.com/
*Matéria originalmente publicada em 05/02/2016.