A
última sexta iniciou o final de semana roqueiro de Salvador com a apresentação
de um dos shows mais aguardados por fãs de rock da capital baiana. Pela
primeira vez na cidade, e direto de Goiás, o Boogarins se apresentou no evento
Noites de Radioca, ocorrido no Portela Café, Rio Vermelho, para a felicidade de
muita gente que aguardava a sua passagem por aqui.
O
lugar estava com um bom número de público e dava para perceber a excitação dos
presentes em querer ver a banda. Ao passo do relógio, as conversas com bons
amigos sobre a cena, sobre as novidades, sobre o quanto Taiwan pode ser mais
próximo do que Cajazeiras deram o tom pré-festa. Havia uma expectativa muito
grande pela performance do grupo, pois não é de agora que eles são conhecidos
por essas terras. O seu histórico recente de shows, turnês na gringa e a
qualidade do seu mais recente disco aumentavam esse sentimento, que se
misturava com a ansiedade de ver a banda de perto o quanto antes chegasse o
momento do início da apresentação. A espera valeu a pena e se uma palavra não
existiu naquela noite, essa palavra foi decepção.
Abrindo
a noite o dj El Cabong tocou um set feito especialmente para a noite, com temas
de bandas e artistas da vertente psicodélica e agradou muito a quem estava
circulando pelo ambiente, quem conferia a banquinha da banda (que por sinal não
tinha mais os discos em vinil do conjunto) e para quem aguardava pacientemente
na imensa fila do único caixa aberto da casa. O interessante na discotecagem foi
no final, quando a sequência das duas últimas músicas, A Day in the Life (The
Beatles) e Wouldn’t it be Nice (Beach Boys), prepararam o terreno para os
goianos começarem a tocar logo em seguida. Foi um bom aquecimento para o que
estava por vir. O show começou com Lucifernadis e não havia melhor forma de se
abrir uma apresentação, com uma faixa do seu primeiro disco e empolgando logo
de cara a audiência atenta.
Em Mário de Andrade/Selvagem a banda a executou de
forma inteligente, fazendo uma ótima adaptação ao vivo da versão original nas
mudanças existentes dentro da música. Avalanche e 6000 Dias (ou o mantra dos 20
anos) foram cantadas junto com a maioria que estava por lá. Erre foi intensa
como já se era esperada e Cuerdo, mais tranquila, ganhou uma versão estendida
que foi boa de embarcar na onda. O som encerrou com Doce, canção também do
primeiro álbum e muito aguardada, que ganhou uma versão maior em relação a
original. Esses foram alguns pontos altos na apresentação do Boogarins, mas não
ficou somente nisso.
A
verdade é que os rapazes pintaram uma aquarela verdadeiramente psicodélica de
sons e não teve momentos de baixa enquanto eles tocavam. O Boogarins foi muito
fiel às versões das suas faixas em estúdio, mesmo quando a banda se dava espaço
para improvisar dentro de suas canções, esticando as músicas de forma criativa,
se levando e levando o ouvinte a uma viagem para vários lugares diferentes.
Como se saíssem e voltassem para as músicas com muita propriedade e
naturalidade. As soluções que a banda encontrou para a performance dos seus dois
discos foi outro aspecto interessante na noite, chamou a atenção e mostrou que
o quarteto está bem entrosado, resultado da quantidade de shows que eles vêm
fazendo nos últimos meses.
As texturas tiradas das guitarras e do baixo
proporcionaram momentos incríveis na apresentação, só lamento não estar mais
próximo ao palco para ver o que acontecia na relação pé/pedal/pedaleira. Mas há
outro ponto importantíssimo aqui: o baterista. Mesmo do fundo, dava para ver o
quanto ele é um ótimo instrumentista. Em meio àquela profusão de sons e efeitos
ele manteve o espaço do seu instrumento de forma muito centrada, ocupando cada
lugar que a bateria cabia, sem deixar que ela passasse despercebida e ajudando
manter a coesão das canções. Foi impressionante a atuação dele.
Ao
fim, depois de tudo, os rapazes ainda foram bem solícitos com quem os
procuraram para bater uma foto e/ou pegar um autografo. Estavam circulando,
tomando uma breja e conversando com quem chegasse. A volta para casa que foi
meio tensa. Motoristas avançando encruzilhadas na nossa frente, o taxista
desviando de gato na Garibaldi e desviando de pessoas que atravessavam a rua na
Água de Meninos e na Calçada, como se estivessem desfilando. Mas a coisa ficou
pior mesmo foi quando, um pouco antes da penúltima curva, tocou no rádio do
táxi A Horse With No Name, do América. Bad trip não, por favor! Ainda bem que
estava próximo de casa e não teria que escutá-la na íntegra. Ainda bem! Que o
Boogarins retorne mais vezes!
*Matéria originalmente publicada em 05/03/2016.