No início deste ano o
produtor, músico, compositor e agitador cultural, Irmão Carlos, lançou o seu
primeiro trabalho solo. O cd de título que leva o seu próprio nome é o primeiro
sem o O Catado, banda que o acompanhou ao longo desses anos, e foi cercado de
grande expectativa por quem já conhecia o seu trabalho em suas diversas
frentes.
A fase do artista é nova,
mas ele não está sozinho. Para este seu novo lançamento, ele contou com a participação
especial de várias figuras interessantes e talentosas da cena local e soube
aproveitar e mesclar bem o seu próprio talento com os deles, chegando a algo
inteligente e bom de escutar. Houve aqui uma leve ruptura com a percussão,
elemento muito presente nos seus trabalhos anteriores, e um contato maior com
sintetizadores, mas tudo isso sendo um bom instigador a se escutar ao longo das
suas dez faixas.
O disco começa com uma
versão revisitada de W Raimundo, faixa que contém a participação especial de
Enio em sua produção, assim como nas suas cordas e nas programações. Um pouco mais
atmosférica que a original, ela é um bom ponto de partida para as atividades.
Me Engasguei Outra Vez no Jantar surge mais orgânica, com batida de bateria
firme, ótimo refrão e guitarra de Alexandre Tosto (Scambo). De cara, uma das
melhores do álbum! Em Eu Sei do Movimento a influência de black music do Irmão
Carlos pula para os ouvidos de maneira animada e convidativa a se balançar. Não
menos dançante e mais empolgada ainda, Seu Lugar (que já havia ganhado um lyric
vídeo) começa com sopros empolgados, além de ser possuidora de uma groovada boa
de baixo e bateria. Com a contribuição do IFÁ Afrobeat, Engrenagem da Ilusão
marcou presença na coletânea Outro Jeito – Da Bahia pro Mundo e volta aqui sem
perder o balanço, com percussão swingada, adicionando, dessa vez, os metais
quentíssimos do grupo à faixa.
O blues rock raulseixista dá
o tom de E Quando Eu Acordar, que conta com a guitarra sempre inspirada e de
mão cheia do Eric Assmar. Acordei de Novo é uma divertida canção de andamento
vagaroso, misturando bem a bateria com o synths e com um interessante embate em
espiral entre corpo e mente em seu interlúdio (algo que você provavelmente já
fez em algum momento de sua vida). Em Flutuar é uma Vontade é retomado o ritmo
mais frenético do álbum, contando com o Junix Costa nas guitarras e
sintetizadores, e Um Microponto de Luz é a passagem mais punk da obra, onde o
Irmão Carlos faz toda a sua programação com batidas fortes e rápidas, com uma
letra curta e direta, de significado profundo. O cd se encerra com Virando a
Página, misturando muito elemento do disco, com bastante balanço e punch, black
music e rock, coroando bem a sua diversidade.
Em seu trabalho de estreia,
o Irmão Carlos mostrou bastante maturidade nas composições e no resultado final
no que diz respeito a sua sonoridade. O disco inteiro tem uma unidade musical
interessante e isso é um fruto colhido de anos trabalhando no próprio som e na
música de outros artistas que confiaram nele a direção de seus trabalhos. Acredito
que o cantor e compositor soube utilizar bem por aqui o seu aprendizado que
adquiriu atuando em outros discos! O seu texto é algo também a se destacar,
onde o cotidiano é colocado de maneira bem particular e onde a influência de
Raul Seixas e Titãs (mais precisamente Arnaldo Antunes) é extremamente
benéfica. O saldo do seu cd homônimo é positivo, conta com uma sequência de
músicas convidativas para ir à pista, bater o pé ou balançar a cabeça, sem
esquecer de fazer pensar. Há um vírus no sistema.
Conheça o disco do Irmão Carlos aqui: