No
próximo sábado, 29, os cantores e compositores Wado e Irmão Carlos se
apresentam juntos em Salvador, no Irish Pub, pelo projeto NHL Apresenta. Este encontro
musical, em sua terceira ocorrência, consolida a parceria entre dois artistas
que guardam identificações e admirações mútuas. Celebrando 16 anos de carreira,
o alagoano Wado apresenta pela primeira vez na cidade o show do disco Ivete –
indicado como melhor álbum de 2016 pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Já o baiano Irmão Carlos pisa firme no salão com o show do seu primeiro
trabalho solo que vem movimentando a cena musical da capital baiana através do
projeto Incubadora Sonora. Um pouco mais sobre o que eles prepararam para esta
noite você confere no papo que tiveram com o Leandro Pessoa, em entrevista originalmente
publicada no site Som do Som:
Leandro
Pessoa - Wado e Irmão Carlos juntos pela terceira vez em Salvador. Como foi que
surgiu essa parceria?
Irmão
Carlos - Acompanho o trabalho de Wado há tempos. Acho sensacional
a forma como ele compõe. Nosso primeiro show juntos foi nesse mesmo Pub. Daí no
ano passado convidei ele pra Salvador pra dividir o palco comigo no projeto “Lá
em Dona Neza” - ele topou e celebramos. A banda de apoio dele nesse dia foi a
minha própria banda que tirou o repertório e tudo aconteceu. Foi uma noite
massa, até cantamos juntos “Têta”.
Wado
-
O Carlos me deu essa oportunidade de tocar lá no Dona Neuza. Foi uma
experiência linda ver a cidade a partir da comunidade. Carlos é velho parceiro,
guerreiro de muito talento e carisma - temos uma admiração mútua. Sábado vamos
celebrar essa amizade e vou levar meu disco novo, Ivete, a Salvador. Esse disco
é uma declaração de amor a música da Bahia. Vamos fazer um show bem sacudido.
LP
- Wado, qual a primeira recordação que tu tem da sua relação com a música
baiana? Como que é pra você compor dentro dessa linguagem?
W
-
Eu ouvia muita música baiana, pois tocava direto no rádio aqui em Maceió. Curti
muito os axés dos primórdios, os de oitenta que eram políticos, de afirmação
negra, de celebração e também de denúncia. Meu primeiro sarro com uma mulher
foi dançando Axé. Tenho uma memória afetiva grande com ele. Aprecio as
temáticas do nordeste da África, do Egito e cercanias. Essa memória passei a
expressar nas canções, começou lá no Atlântico Negro e cristalizou agora com o
Ivete. Não tinha como não levar esse show pra Salvador.
LP
- E tu Irmão? Tu viveu esse período de formação da indústria musical baiana.
Onde que você estava?
IC
-
Lembro que quando era pivete eu e minha turma fazíamos batuque no fundo do
buzu. Assim eram as crianças da periferia nessa época: cantávamos Muzenza,
Olodum, Edson Gomes, Gerônimo, Lazzo e, no meu caso, já misturava com umas dos
Titãs, Cólera e Garotos Podres na batida do samba reggae (risos). As letras
tinham cunho histórico/político e muitas falavam de revolta e revolução. A
identidade negra era muito bem afirmada nas canções. Paralelo a essa turma, a coisa
ia aos poucos ficando mais pop, mas ainda sim, genuinamente baiana. As letras
já não eram tão políticas, mas representavam a Bahia. Com a chegada das
gravadoras gringas no Brasil, a coisa se fechou e foi ficando cada vez mais plastificada
e descartável. Um jornalista, um tal de Hagamenom Brito, usou o termo Axé
music, em tom de ironia, e pegou igual a apelido. Tem gente que diz que isso
tem 30 anos. Eu digo que tem 25. Os 5 primeiros ainda eram genuínos e tinham
essência.
LP
- Irmão, em seu primeiro disco solo me chama atenção a presença de canções que
tratam de questões pessoais. No palco você se vê nu, assim como na capa?
IC
-
Expor minha própria vivência foi o modo que encontrei para resolver meus
problemas comigo mermo, ainda que de forma irônica. A música acaba funcionando
como terapia também. Quando solto pro mundo minhas inquietações, me sinto mais
tranquilo. Na real acho que isso
acontece em todo o disco. “Engrenagem da Ilusão” é uma que não falo diretamente
de mim, embora use o “Eu”, mas no fim é uma visão geral, na qual eu também faço
parte.No palco a sensação é sempre de desabafo.
É como a fé! Removendo a montanha que a gente carrega.
*Leandro Pessoa é compositor, cantor e jornalista. Além de ser o frontman da banda Callangazzo, também colabora para o Som do Som e escreve para o seu próprio site, o Single do Dia. Esta matéria foi originalmente publicada no site Som do Som.