Neste
ano de 2018 o Portal Soterorock resolveu tirar alguns dias de folga.
Algo próximo a trezentos e sessenta e cinco dias, quase um ano, é
verdade. Porém, é fato que, depois de dez anos cobrindo a cena
roqueira local, com textos ou podcasts, sem incentivo financeiro
algum, o site decidiu que seria o momento certo para dar um tempinho
nas atividades daqui, para priorizar e atender a outras demandas não
menos importantes. Mas, mesmo distante das publicações, nos
mantivemos atentos ao movimento do cenário, observando quem se
manteve atuante, seja em estúdio, ou nos palcos.
Muita
coisa aconteceu este ano na cena rocker da Bahia, desde discos
lançados até uma boa frequência regular de shows na capital
baiana, mesmo com um número cada vez menor de casas que recebe o
gênero por aqui. E é esse segundo item que ganhará destaque aqui
nesta matéria, em uma outra oportunidade falarei sobres os
lançamentos baianos de 2018, vamos com calma. O fato é que, fazendo
visitas a eventos, seja como um pagante comum ou estando de lá de
trás da banquinha d’O Caça-discos e Livros, pude presenciar bons
sons por onde passei e aqui estarão os destaques deste longo
período.
Os
colocarei em uma sequência cronológica, por uma simples questão de
ordem mesmo e, caso eu não tenha citado alguma apresentação, ou os
pormenores de algo presenciado por mim, só lamento! Isso se deve ao
fato da minha memória ainda não ser de computador (Yuval Noah
Harari feelings) ou por conta do seu show realmente não ter sido tão
interessante assim! Por outro lado, por questões de agenda, não
pude comparecer a eventos como o Radioca, Big Bands (ambos
aconteceram no mesmo final de semana) e Supernada, mas eles
aconteceram e mais uma vez repercutiram muito bem, assim como o Feira
Noise (mesmo tendo sofrido com interrupção da sua programação
feita pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente no decorrer do
segundo dia da festa).
Antes
de partir para os shows locais, valem aqui duas menções honrosas. A
primeira vai para o show do Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá em
tributo (e auto-tributo também, né!?) à Legião Urbana e ao Renato
Russo. Mesmo com um cheirinho de caça-níquel em relação à turnê
anterior a esse projeto, essa foi uma apresentação belíssima, com
músicas tocadas com competência e com o André
Frateschi mandando muito bem nos vocais. E o que foi o refrão
de Perfeição sendo cantado em uníssono por toda aquela gente, meus
amigos e minhas amigas? Foi de suar pelos olhos. A segunda menção
vai, claro, para a passagem do Roger Waters por Salvador. Foi um
verdadeiro atropelo em termos de sensações, imagens e mensagens,
uma verdadeira experiência na qual quem não se sentiu tocado, ou
estava inconsciente, ou não estava dentro da Fonte Nova naquele
dezessete de outubro. Um show de protesto, que evocou sentimentos dos
mais diversos, ao menos em mim. Foi o rock puro em sua essência,
como deve ser. Sem querer comparar, creio que ele foi melhor do que o
show do Paul. Enfim.
Feitas
as citações, vamos ao que mais interessa. O ano do rock começou
dentro dos seus primeiros dias do mês de janeiro em um dos lugares
mais ativos, presentes e requisitados para se fazer rock na capital
baiana. O Buk Porão recebeu um evento da NHL Produções, que trouxe
a banda Desgraça (BH/AL) para tocar com a The Honkers e Zaul.
Abrindo a noite, a Zaul fez um som interessante, de influências de
indie rock, com guitarras de sonoridade sonicyouthianas e
experimentando o que pôde e o que não pôde dentro do seu setlist,
abrindo espaço para a Desgraça, que veio logo em seguida. Com o
porão já fervendo e com cerca de quarenta pessoas, ou mais,
marcando presença, o grupo descarregou o fim do mundo em cima do
palco com um punk rock violento e desenfreado, além de bastante
claustrofóbico. Muito disso por conta do visual dos seus
integrantes, que usaram meias calças e balaclavas para cobrirem seus
rostos durante a performance. Fechando a noite, a The Honkers não
fez menos do que o aguardado pelo público que foi conferir a sua
apresentação. O quinteto veio de um 2017 sem aparecer muito, então
bastante energia foi liberada nessa ocasião, com mais um desempenho
ensandecido dos rapazes, alternando faixas de ataques dançantes,
fazendo muita gente se mexer, pogar e agarrar o vocalista Rodrigo
Chagas quando possível.
Logo
em fevereiro, teve o show de lançamento oficial do disco Vício,
Virtude, Violência, da Modus Operandi, no teatro Gamboa Nova. Na
verdade foram dois shows, nas duas quartas de pós carnaval e com a
abertura do Funcionaface, trabalho de vanguarda filosófica do André
Borges (ex vocal da BR-64 e Vende-$e). Fui conferir a segunda data e
posso adiantar que foi uma das melhores apresentações que vi do
quarteto. Antes de lançarem oficialmente o mais recente trabalho, a
M.O. já vinha há cerca de um ano e meio apresentando as faixas
desse disco em seus shows. Juntando isso ao fato de que eles
acumularam um grane número de participações em eventos, o
resultado foi uma fase de extremo entrosamento entre os componentes e
de uma segurança na execução das suas composições.
As suas aparições, ao menos as que eu assisti, na maioria das vezes, foram em casas com recursos técnicos de palco limitados, e essa foi uma ótima oportunidade para ver a banda em ação em um lugar melhor de som, iluminação e acústica. Estava tudo nítido, o baixo, a bateria, a percussão, a voz e o teclado, tudo em seu lugar e bem tocado. Poderia ter dado ruim se eles não estivessem se comunicando tão bem em cima do palco, mas não foi o caso. Com um repertório de um pouco mais de quarenta e cinco minutos, contendo as novas faixas e algumas dos trabalhos anteriores, a Modus Operandi fez uma bela de uma apresentação competente, se agigantando com seu som, em um momento digno das suas duas décadas de estrada.
As suas aparições, ao menos as que eu assisti, na maioria das vezes, foram em casas com recursos técnicos de palco limitados, e essa foi uma ótima oportunidade para ver a banda em ação em um lugar melhor de som, iluminação e acústica. Estava tudo nítido, o baixo, a bateria, a percussão, a voz e o teclado, tudo em seu lugar e bem tocado. Poderia ter dado ruim se eles não estivessem se comunicando tão bem em cima do palco, mas não foi o caso. Com um repertório de um pouco mais de quarenta e cinco minutos, contendo as novas faixas e algumas dos trabalhos anteriores, a Modus Operandi fez uma bela de uma apresentação competente, se agigantando com seu som, em um momento digno das suas duas décadas de estrada.
Em
abril, na cidade baixa, ocorreu mais um evento de lançamento, dessa
vez do vídeo Visionários, da Invena, e que contou com a
participação da banda Dom Sá. Para além da qualidade dos dois
grupos, o que chamou a atenção aqui foi a quantidade de gente que
foi conferir a festa. Cerca de 150 pessoas compareceram ao Biriteria
Blue, local antigo e recém reformado, localizado no bairro da Boa
Viagem. Esse número atingido foi um mérito advindo de um bom
trabalho da produção do evento e das bandas, que fizeram um ótimo
trabalho de divulgação. Isso mostrou, de certa maneira, o quanto há
de demanda por esse tipo de evento na cidade baixa, ainda mais quando
acontece de ter duas bandas da região no lineup. Tudo foi pontual,
as apresentações começaram sem atraso e terminaram em um horário
muito bom para voltar para casa.
A Invena, a anfitriã da noite, trouxe um repertório mais autoral do que outrora, colocando um ou dois covers mais próximos ao seu som e arrancando uma resposta calorosa do público presente, com músicas próprias já bem conhecida por muitos, e, consequentemente, deixando o lugar com o calor próprio de uma noite boa de rock. Com as vibrações lá em cima, a Dom Sá se apresentou a uma audiência ainda interessada. No seu repertório, mais covers fincados no BRock dos anos 1980 do que músicas autorais, fazendo um som evocando uma atmosfera descontraidamente praieira-contente-ensolarada que agradou muito e entreteu as pessoas até o encerramento da noite.
A Invena, a anfitriã da noite, trouxe um repertório mais autoral do que outrora, colocando um ou dois covers mais próximos ao seu som e arrancando uma resposta calorosa do público presente, com músicas próprias já bem conhecida por muitos, e, consequentemente, deixando o lugar com o calor próprio de uma noite boa de rock. Com as vibrações lá em cima, a Dom Sá se apresentou a uma audiência ainda interessada. No seu repertório, mais covers fincados no BRock dos anos 1980 do que músicas autorais, fazendo um som evocando uma atmosfera descontraidamente praieira-contente-ensolarada que agradou muito e entreteu as pessoas até o encerramento da noite.
Um
aspecto lamentável aqui foi como a casa tratou as bandas e a
organização do som, com o responsável pelo estabelecimento não
dando o suporte devido à produção anteriormente acordado entre as
partes. No momento da exibição do clipe, o áudio do vídeo sumiu e
depois de tantas tentativas de reverter a situação, foi solicitado
que a pessoa delegada a cuidar do equipamento fosse resolver, o que
aconteceu desleixadamente, ou melhor, não aconteceu. Enquanto a Dom
Sá tocava, o som do palco oscilou bastante, isso devido ao fato da
mesa de som ter sido abandonada por quem a operava no início da
apresentação, um episódio digno de “apertem os cintos, o piloto
sumiu”. Quando o bar bomba e a cerveja acaba, não é preciso fazer
mais nada além de contar o dinheiro do caixa, não é mesmo? Deve
ter sido por conta disso que nunca mais teve um outro evento do tipo
por lá!
Um
outro som que merce destaque por aqui é mais um lançamento. Dessa
vez do aguardado disco da Ivan Motosserra. Há muito a banda vinha de
apresentações na cena e, para a ocasião, foram convidadas as
bandas Punx 80 e The Honkers, que fizeram de uma tarde de domingo no
Buk Porão uma verdadeira festa surf-trash-punk-garage. Quem iniciou
os trabalhos foi a Punx 80, banda formada pelos irmãos Gagliano e
Tripa TP (baterista da The Honkers). No repertório, só clássicos
do punk dos anos 1980, nacional e gringo, tocados de maneira enérgica
e firme pelos rapazes. Depois, a Ivan Motosserra foi até ao tablado
mostrar o seu setlist totalmente fincado no seu disco cheio e com uma
ou outra versão. Nesse momento o lugar já estava consideravelmente
cheio e muita surf music foi tocada, algumas jams foram feitas e
muita gente dançou. Fechando a programação, a The Honkers mais uma
vez fez a sua já conhecida apresentação caótica, com músicas
enlouquecidas, para pessoas idem. O bom dessa vez foi que o quinteto
estava preparando um single novo, que mais tarde foi disponibilizado
com um clipe, e isso deu mais gás para os rapazes da CBX fazerem o
seu som. A empolgação foi tamanha que chega houve uma queda de luz
no Pelourinho que durou uns cinco minutos.
Já
em outubro, voltei novamente ao centro histórico para ver o evento
Rock'n Voodoo, que contou com as bandas Andar de Cima, Invena e
Demócritos. Houve uma confusão quanto ao local exato desse evento,
que inicialmente seria na praça contida no cartaz acima e terminou
sendo na Pedro Arcanjo, mas não tendo antes passado pela Quincas
Berro. Quase me perdi pelo Pelourinho! Essa foi uma boa oportunidade
de ver bandas novíssimas na cena e conferir para onde cada uma delas
apontavam a sua música. Quando digo novas, quero dizer novas mesmo,
pois duas delas faziam as suas primeiras apresentações de suas
vidas. Uma delas, a primeira a subir no palco do largo Pedro Arcanjo
foi a Andar de Cima, que fez uma apresentação bem influenciada em
sons de new rock dos anos 2000/2010 e com pouco trabalho autoral. Os
rapazes mostraram saber tirar bons sons de seus instrumentos, mesmo
que ainda podendo melhorar.
A outra foi a Demócritos, que seguiu com uma linha de som e técnica similar a anterior, só que com um pouco mais de canções próprias e pensando um pouco fora da caixa em seus covers, quando tocou Holiday in Cambodia, do The Dead Kennedys. Entre essas apresentações, a Invena fez uma aparição madura e concisa, com uma sequencia de canções bastante tocadas em seus vários shows que foram realizados ao longo do ano. Isso garantiu ao quarteto mais segurança no seu desempenho e uma melhor conexão com a audiência, bom fruto de sua alta atividade na cena. Depois de tanto rock, na saída do lugar dava para ouvir um “e telhe, e zaga, e toma, e telhe de novo” vindo de outra praça. Coisas do Pelô!
A outra foi a Demócritos, que seguiu com uma linha de som e técnica similar a anterior, só que com um pouco mais de canções próprias e pensando um pouco fora da caixa em seus covers, quando tocou Holiday in Cambodia, do The Dead Kennedys. Entre essas apresentações, a Invena fez uma aparição madura e concisa, com uma sequencia de canções bastante tocadas em seus vários shows que foram realizados ao longo do ano. Isso garantiu ao quarteto mais segurança no seu desempenho e uma melhor conexão com a audiência, bom fruto de sua alta atividade na cena. Depois de tanto rock, na saída do lugar dava para ouvir um “e telhe, e zaga, e toma, e telhe de novo” vindo de outra praça. Coisas do Pelô!
No
início de novembro foi a vez de conferir na Bardos Bardos a música
dos camaçarienses da Rivermann. Há muito tempo não os via, creio
que desde 2016, e agora eles retornavam à Salvador para mostrar
novas composições e seu novo baixista. Essa fase do conjunto traz
uma nova sonoridade, incrementando às suas influências de guitar
bands da raiz de sua música, novos sons de teclados, sintetizadores
e baterias eletrônicas. Essa mistura funcionou muito bem, com o
grupo mantendo o punch marcante e característico deles, gerando um
bom feedback de quem estava no local para vê-los. Ali na Bardos
Bardos é um espaço pequeno, porém é mais que adequado para
apresentações como esta, que beiram a introspecção e a explosão.
Uma
semana depois, também na Bardos Bardos, foi a vez da Modus Operandi
se apresentar em uma comemoração aos dez anos do seu disco de
estreia, o H… Estéreo…, com alguns convidados. Inicialmente, a
festa teria oito bandas convidadas, com cada uma fazendo uma versão
de uma música da obra em questão, como um tributo comemorativo e,
por fim, a M.O. tocaria o cd na íntegra. Ao final, apenas duas
bandas confirmaram presença. Primeiro, a Game Over Riverside se
apresentou com sua “nova” formação, agora como um quarteto. Ela
abriu seu set com a sua versão de Escotomas Cintilantes, rumando em
uma direção totalmente diferente da original, começando tranquila,
menos dançante e rumando para o caos sonoro. Além dela, a G.O.R.
tocou mais três músicas do seu repertório, mostrando que também
funciona muito bem com duas guitarras.
Em seguida a Kalmia despejou com vontade e energia o seu crust core pelos amps do local. Eles abriram com três das suas músicas, quase levando abaixo o lugar e encerrando a sua participação com a sua interpretação para Inimigos, mais incisiva, direta e reta. Foi uma versão de tirar o fôlego. Fechando a sequência de bandas, a Modus Operandi tocou o H… Estéreo… todo na sequência, de maneira firme e segura, “de olhos fechados” e entendendo cada passo a ser dado por todos naquele momento. Uma apresentação empolgante, que encheu o lugar de boas vibrações e que ainda teve espaço para mais um bis, contendo duas ou três composições de seus outros trabalhos.
Em seguida a Kalmia despejou com vontade e energia o seu crust core pelos amps do local. Eles abriram com três das suas músicas, quase levando abaixo o lugar e encerrando a sua participação com a sua interpretação para Inimigos, mais incisiva, direta e reta. Foi uma versão de tirar o fôlego. Fechando a sequência de bandas, a Modus Operandi tocou o H… Estéreo… todo na sequência, de maneira firme e segura, “de olhos fechados” e entendendo cada passo a ser dado por todos naquele momento. Uma apresentação empolgante, que encheu o lugar de boas vibrações e que ainda teve espaço para mais um bis, contendo duas ou três composições de seus outros trabalhos.
Agora
em dezembro aconteceu no Mercadão C.C. o evento MCC Rock Sessions,
com a Declinium, Gérbera e Exoesqueleto. Mesmo com o evento
começando com um atraso bizarro de três horas, a expectativa por
conferir as três bandas foi grande. Abrindo os trabalhos, a
Exoesqueleto entregou um show de qualidade há muito atestada na
cena, com uma mistura de rock e regionalismo baiano. Havia um ano que
não os via e essa diferença de tempo pôde mostrar a qualidade e
sinergia musical que o quarteto possui dentro de si. Depois subiu ao
palco a Gérbera que, mesmo enfrentando problemas técnicos de palco,
entregou um show honesto com composições próprias de influência
pós-punk. Fechando a noite, a Declinium também sofreu com problemas
de som, porém a entrega passional das suas interpretações fez com
que esse empecilho parecesse pequeno, tamanho o alcance de sua música
nas pessoas. Em quase todos os momentos da sua apresentação, quem
ainda estava por lá cantou junto todas as letras e vibraram em cada
refrão. O rock salvou!
Foi
um ano agitado, porém tímido. É claro que houve muito mais do que
eu pude citar acima e certamente a cena roqueira baiana sempre traz
uma surpresa e outra. Tiveram nomes que fiz questão de citar mais de
uma vez aqui, para que se saiba que há uma circulação de bandas
que não estão paradas e que estão fazendo acontecer, além de
outras tantas que surgem, ou ressurgem, na medida do possível e das
possibilidades. Poderia ser melhor? Poderia! Mas para uma cena com
uma infraestrutura que parece não ter avançado de um ano atrás
para cá, há muito trabalho de qualidade se mantendo ativo. No
mínimo, também existe uma espontaneidade musical presente no rock
daqui que qualifica o gênero em vários níveis, e este “melhor de
2018” aqui é um bom sinal disso.