O Soterorock Sessions se aproxima e chegamos, então, a mais uma postagem da nossa série "Discoteca Básica Soterorock Apresenta" destacando mais uma banda participante do nosso evento. Dessa vez, com a Game Over Riverside trazendo alguns dos seus discos preferidos, aqueles que mais influenciaram cada um dos seus integrantes, ou até mesmo com os títulos que os rapazes consideram referenciais na história do rock'n roll. Esta é mais uma viagem ao universo de uma banda, na qual você pode tentar desvendar os seus caminhos sonoros. Escolha um bom som para rolar no seu player, experimente as doses sugeridas a seguir e boa leitura.
Sergio Moraes (guitarrista/vocalista)
Os três discos que fundamentam a G.O.R. como banda. Tráz para mim um sentimento de pacto entre música e amizade. Explosão de sentimentos raivosos, melancólicos, protesto, tristeza, alegria e festas. O pacote completo de uma geração correndo atrás dos seus objetivos em paralelo o ROCK e esses discos salvando cada noite e cada frustração nesse ciclo maravilhoso chamado vida. Existem muitos outros discos, mas esses três ai define esse grupo.
At the Drive-in - Relationship of Command
Este penúltimo disco dos texanos chegou como uma grande explosão nos meus ouvidos. Toda a energia que pode existir no rock, em letra e som, e que parecia estar sumindo no final do século passado veio a tona nessa joia rara que é esse cd. Aquela ameaça que o
rock'n roll oferece em cima do palco, a selvageria incontrolável, a sensação interminável de liberdade se encontram inteiramente aqui. Faça uma simples busca no You Tube digitando One Armed Scissor, que você terá uma noção melhor do que quero dizer. É o ponto
máximo da banda e me recordo na época do seu lançamento, em que ela estava sendo considerada pela crítica como o "novo Nirvana". Infelizmente, o grupo não segurou a onda da rotina de shows e da convivência na estrada, e terminaram antes desse álbum chegar no
ápice que demonstrava que iria alcançar. Desse final, deram origem ao Mars Volta e ao Sparta, duas bandas fodas, além de uma reunião mais de dez anos depois. Mas aí já é outra história.
Radiohead - Ok Computer
A grande obra prima dos ingleses. Me sinto sortudo por ter conhecido a banda em todos os seus estágios. Desde a primeira vez que eu ouvi Creep no rádio, até o seu mais recente álbum. Até chegar nele, a cada disco, o grupo veio em uma gradual elevação de requinte
sonoro e impressionou pela sua sonoridade arrojada, de guitarras incríveis, um texto inteligente e harmonias vocais de tirar o fôlego. Ele vem envelhecendo muito bem, na época em que saiu, eu e a G.O.R., pudemos compartilhar de várias audições dele regadas
a vinho e boas risadas. Nessas ocasiões tinha sempre um violão por perto e com ele rolavam sempre uns insights bons para experimentar nos ensaios seguintes. Ele sempre foi uma grande inspiração. Você pode até dizer que o Kid A é a melhor investida do Radiohead,
você pode estar certo. Mas a verdade é que o Ok Computer é tão único, que não cabe comparação com nada com que eles fizeram, antes ou depois dele.
Trail of Dead - Madonna
Definitivamente, tem alguma coisa diferente na água do Texas. Tenho certeza disso. Assim como o At the Drive-in, o Trail of Dead tem toda aquela essência que o rock possui desde os seus primórdios, a objetividade e ousadia, em meio a um perigo sonoro que não
se consegue definir em palavras. No caso desse quarteto, a raiva e a angústia transparecem em uma obra repleta de noise rock, psicodelismo, punk rock e experimentalisto, onde os integrantes se reversam em seus instrumentos como em um carrossel caleidoscópico
em chamas. Ao vivo, eles quebram tudo, literalmente, como se esse gesto completasse de alguma maneira as canções do disco. Antes de qualquer gig da gente, essas performances eram sempre observadas por nós. Assombro e contemplação também inspiram! Madonna é
um verdadeiro teste do segundo disco bem sucedido. Vale a dica da faixa A Perfect Teenhood, tente se segurar ouvindo ela.
Andre Gamalho (baixista)
Ramones - Ramones (1976)
Smashing Pumpkins - Siamese Dream
Esse, talvez, seja o disco mais importante do Smashing Pumpkins. Sem ele, provavelmente, o clássico Mellon Collie and the Infinite Sadness jamais existiria como o conhecemos. Nesse trabalho, o grupo deu um passo à frente em sua sonoridade, com musicas muito
bem elaboradas, pesadas, melancólicas e, de certa maneira, introspectivas. Billy Corgan é um gênio, talvez um dos maiores de sua geração e a sua cabeça atormentada deu frutos a verdadeiras pérolas, como é o caso das faixas Today e Soma, dois bons exemplos
de calmaria e explosão em um só raciocínio musical. É um disco que não cansa!
Leko Miranda (guitarrista)
Black Sabbath - Paranoid
Riffs pesados porém melódicos marcando uma mudança na história do metal, e até mesmo o hardcore e o grunge, também inspirando muitas bandas da década de 1970 para cá, com vocal mórbido e melódico. O Sabbath sempre foi uma banda que trouxe essas caractarísticas
de maneira forte em seus discos, se superando a cada lançamento, ou mantendo o nível de suas composições. Mas esse específicamente, me abriu a cabeça para novas possibilidades, trazendo também o blues para uma atmosfera mais roqueira e mais próxima do som
que gosto de ouvir. O Paranoid é um dos grandes pilares do rock e do metal, um álbum sem erros, perfeito!
Pink Floyd - The Wall
Uma obra prima, do Pink Floyd, misturando ópera e rock com melodias pesadas e suaves, ao mesmo tempo marcando uma evolução do rock progressivo. Tudo bem que a banda estava desestruturada nesse disco e que o caldo desandou no decorrer da sua turnê, mas o fato é que tudo aqui é belo, sutil e tenso. David Gilmour se encontrava inspiradíssimo em seus solos e frases, e o Roger Waters acertou a mão mais uma vez nas suas melodias e letras. Foi um êxtase poder ver o Waters de perto tocando algumas musicas do The Wall e outras não menos incríveis do Pink Floyd quando passou com seu show aqui em Salvador. Ali, tive a confirmação de que tudo o que o Floyd gravou, fez todo sentido para mim.
Leonardo Cima (baterista)
Nirvana - In Utero
É claro que o Nevermind é celebrado como a grande referência do Nirvana, mas o In Utero é a prova do quanto o Kurt Cobain presava pela sinceridade da sua arte e que colocava isso acima de qualquer esquema da indústria fonográfica. Esse disco é um feito, o trio
praticamente ignorou toda a pressão do mercado para lançar um "Nevermind 2", usou músicas que compuseram, em sua maioria, na estrada, convidaram um produtor do circuito underground da cena rocker norte-americana para capitanear as gravações e levaram apenas
duas semanas para finalizar tudo. Ou seja, caminharam na contra mão do que uma banda mainstream teria feito na época. Ouvir ele pela primeira vez foi um verdadeiro baque. Que sonoridade! O disco deixa claro que é pesado já
na sua primeira faixa e se mantém dessa maneira até o seu desfecho. Microfonias de guitarra, acordes pegajosos e cheios de punch (sim, os caras não deixaram de lado a sua veia pop), baixo grandioso e uma bateria pesada,
com som de tambores quase primais, parecendo que foram extraídos diretamente de uma caverna. O som que o Dave Grohl tirou nesse álbum é um absurdo, me fez querer ser um baterista no mesmo instante em que eu o escutei aqui.
Soundgarden - Down on the Upside
Esse é o disco que mostra o Soundgarden como uma banda que, realmente, não necessitava estar relacionada a um movimento ou cena musical específica para ter sido bem sucedida como de fato foi. Os caras vinham em franca evolução musical ao longo de sua discografia
e chegaram aqui em total domínio das suas competências como músicos, gravaram uma obra com canções pesadas e não abriram mão de experimentar. Usaram instrumentos inusitados em algumas faixas e apontaram conscientemente para várias vertentes do rock para além
do grunge e acertaram em cheio no punk e no metal clássico da década de 1970. Todos os quatro integrantes se saem muito bem em suas funções e destacar um só momento daqui é uma tarefa difícil. Sempre ouço esse disco e ele me surpreende em cada audição que faço dele,
seja com uma nova perspactiva sobre a obra, ou com algum detalhe que passou despercebido antes por mim. Ele é longo, tem mais de uma hora de duração, porém o tempo passa rápido com a riqueza sonora que proporciona aos ouvidos.
Jeff Buckley - Grace
Eis um dos grandes discos do rock mundial. Mesmo ainda pouco falado como deveria, Grace causa um estardalhaço em quem se dispõe a escuta-lo. Uma verdadeira obra-prima feita pelo cantor e compositor norte-americano, que investiu todo o seu talento nessa
sua estréia, se entregando, completamente, de corpo e alma na sua musica e na paixão em interpretá-la. As composições são bem elaboradas, transitam entre o rock noventista e o jazz, com ambos envoltos em uma atmosfera sonora misteriosa, instigante, sombria
e nublada, porém, sem perder o brilho e a beleza que também as formam. A guitarra tocada pelo Jeff Buckley chama a atenção por dosar na medida certa dedilhados marcantes e acordes fortes, explodindo na hora certa e com a sua banda o seguindo com muita competência.
Banda essa que também o acompanhou na turnê desse álbum. A sua performance vocal se destaca muito e deixa a sua interpretação ainda mais rica, algo que ele conseguiu realizar tanto na gravação, quanto no palco. Um disco bem explorado em suas possibilidades,
que abriu caminhos sonoros para tantos outros músicos e bandas, mesmo sendo o único lançado pelo seu autor! Sensacional.