Foto: Fernando Lopes |
Dando continuidade na nossa maratona especial da quarta edição do Soterorock Sessions, aqui vai mais uma postagem da série Discoteca Básica Soterorock Apresenta. Dessa vez, trazendo mais uma atração do nosso evento, a banda Entre 4 Paredes. Com diversas influências musicais, que vão do pop rock, até o post punk, passando pelo rock nacional e o gótico, o sexteto traz para essa matéria bons sons que merecem uma audição mais atenta e, junto a eles, as suas relações com cada um desses discos. Pegue carona nas dicas do grupo e deguste cada segundo musical dessa lista!
David Vertigo (tecladista)
Suicide - Suicide
O disco que inventou o cyberpunk antes dele existir. O trabalho de estreia homônino da dupla Suicide (Alan Vega nos vocais e Martin Rev no sintetizador) mostra da forma mais crua possível o que bandas de Industrial, EBM e afins só exibiriam décadas mais tarde: niilismo, subversão, falta de esperança, ódio, inconformismo... Com timbres minimalistas, baterias repetitivas, vocais nonsense e letras ásperas, o Suicide se tornou uma lenda incompreendida e estranha (vide a letra de Frankie Teardrop, que narra entre gritos primais a estória de um desempregado que mata o filho e esposa e depois se suicida por falta de expctativas). Mais atual, impossível!
RPM - Rádio Pirata ao vivo
Na década de 80, toda casa brasileira que tinha um toca disco também possuia uma cópia de "Radio Pirata ao vivo" do grupo RPM. Gravado em 1986 após uma estreia bombastica, a banda mesclou faixas do seu primeiro disco com novidades ("Alvorada Voraz", que mostrava
que a fonte das letras de protesto não havia secado, e "Naja", uma instrumental que exibia o talento de Luiz Schiavon) com versões inusitadas de "London London" (Caetano Veloso) e Flores Astrais (Secos & Molhados ex banda de Ney Matogrosso, que fez a direção
artística deste show). Executando um híbrido de synthpop e rock nacional, o RPM se tornou o campeão de vendas de discos na época (hoje ocupa o 4º lugar com 3 milhões de cópias). MUITO bem gravado, como dizia o aviso na capa: mixado em sistema digital Mitsubihi
OUÇA ALTO, estranhamente moderno e atemporal, esse disco que se tornou um clássico do rock nacional anos 80, acabou por despertar em mim a paixão por música eletrônica e Synthpop, anos depois. Nem o passar do tempo e as mudanças/brigas na formação da banda
fizeram este trabalho perder a força.
Davi Torres (guitarrista solo)
The Cult - Love
Uma ponte entre o indie e o mainstream, uma mistura inteligível entre a psicodelia dos anos 60, o ambiente etéreo dos anos 70 e as guitarras dos anos 80, um tremendo clássico. Se a discografia do The Cult rendeu safras tão prolíficas a partir de 1984, grande
parte da “culpa” está em seu segundo registro: "Love" prepararia o terreno para os futuros blockbusters 'Electric" (1987) e “Sonic Temple” (1989). Ainda transitando entre o pós-punk, o gótico e o hard da época, a banda conseguiu sintetizar a fúria do Doors,
a obscuridade do Sisters of Mercy e a eletricidade do Led Zeppelin e criar uma obra singular nos indecisos anos 80. Ainda que eternamente reconhecido pelos três singles em destaque, "Love" mostra-se um disco experimental, mas não hesitante, quando se lança em busca do enquadramento perfeito: a sincronia entre as lacunas propositais da guitarra de Billy Duffy e a cozinha
formam um platô correto para realçar o brilho dos vocais: “Hollow Man” é adornada por violões esporádicos acompanhada de riffs minimalistas e precisos criando a ambiência necessária à teatralidade de Atsbury; o mesmo pode-se dizer da “U2niana” , “Big Neon
Glitter” guiada por um delay ministrado com cuidado cirúrgico.
Em um respeito ao “profano de suas raízes góticas a excelente ” "Brother Wolf; Sister Moon" faz a alegria (ou, nesse caso, a depressão) dos fãs do gênero com sua condução lenta regada à um solo
de poucas notas e um tremendo conteúdo. Alguém falou em David Gilmour? – então escute e se surpreenda. “Nirvana”, faixa de abertura, antecipa a pegada vindoura de coisas como "Fire Woman"; no entanto aqui cabe um alerta: as guitarras rasgadas e “na cara” da banda ainda não são perceptíveis nesse registro- exceção cabível à pesadona e hendrixiana “The Phoenix”.
Faixas como as clássicas "Revolution" e "Rain" quando comparadas a fúria de suas execuções nos sets ao vivo, soam menos grandiosas – pelo menos no que se refere a volume; por outro lado, essa audição mais intimista, torna mais notável a beleza das composições.
Por último, mas não menos importante é conferir o destaque devido a faixa que alçou o Cult ao grande público: "She Sells Sanctuary" praticamente definiu o formato das canções da banda nos últimos 28 anos, uma equalização saudável entre uma aorta pop, lirismo
e grandeza melódica ímpar. O maior crítico musical de todos os tempos, o saudoso Lester Bangs, dizia que o crítico deve ser implacável; por isso nunca me considerei um, e escrevo apenas sobre o que gosto. Assim, com todo respeito Lester: discaço com D maiúsculo!!
Television - Marquee Moon
CBGB'S, Cavern Club, Whisky A Go Go – a mera menção de nomes como esses já fazem o aficcionado do rock n'roll viajar ao que eu chamo de “nostalgia não vivida”- quem nunca se pegou fantasiando estar em show dos ainda iniciantes Beatles, Ramones ou os Doors atuando como meras bandas de boteco? Longe da imagem glamorosa, esses ambientes já foram descritos como sendo - à época - botecos cheirando a urina, quentes e desconfortáveis; entretanto, em nosso imaginário são templos de respeito, que oportunizaram ao mundo
um folclore farto e impagável. Aos fãs de punk e pós punk, o primeiro clube mencionado é dado como o verdadeiro berço do gênero; antes dos ingleses surrupiarem as idéias musicais de Patti Smith e Dead Boys, o porão localizado na Beecker Street em Nova York,
cujas atividades foram encerradas em 2006, comprou a ideia de três acordes toscos que emergiam das ruas e, além dos já citados, deu vida ao Television, Cramps, The Fleshtones e mais uma pancada de nomes de fodões do gênero.
Dentre os felizardos, estava uma banda que, até certo ponto, considerada "nerd" para os padrões do início do punk: o Television era, por assim dizer, uma banda com o pé tanto na pancada quanto no refinamento primitivo de seus contemporâneos do Wire. Formado
pelo genial letrista Tom Verlaine (vocal , guitarra e teclado), Richard Lloyd (guitarra e vocais), Fred Smith (baixo) e Billy Ficca (bateria) a banda lançou, em 1977, aquele que é considerado um dos melhores registros do gênero, "Marquee Moon". Produzido por Andy Johns, o disco pode ser considerado como o marco zero do pós-punk, ao menos no que se refere a presença de elementos significativos para o estilo na década seguinte.
Idolatrado por gente como R.E.M. e Gang Of Four, "Marquee" rasga a cartilha
do curto e grosso e põe na mesa elementos de proto punk – a exemplo da influência de New York Dolls em "See No Evil"- contando, inclusive, com um “sacrílego” solo de guitarra. Quer mais? Que tal uma faixa, em um disco punk, de quase onze minutos (a própria
faixa título) onde fica nítido a influência de art rock, cheia de mudanças rítmicas e outras “frescuras” para os padrões da época? Já ouviu comparando os Strokes a essa banda? Pois acredite – do timbre vocal ao entrecruzamento de guitarras - tudo aqui remete à Casablancas e companhia – "Venus" "Friction" que o digam. Entretanto, como a natureza é cíclica, as influências de David Bowie ("Guiding Light") e Lou Reed ("Torn Curtain") também não deixam por menos - e mostravam que a banda buscava mais do que o “mais do mesmo”. Ouça e reouça.
Aline Santana (backing vocalista)
Sisters of Mercy - First, Last e Always e The Cure - Pornography
First Last and Always e Pornography são álbuns que junto com outros me mostraram um mundo fascinante, do gótico, pós punk, new romantic, anos 80, meu universo de garota até os dias de hoje. Das letras, musica, ao visual são bandas/albuns que me influenciaram! “First and last and always” (1985), do Sisters of mercy, as dez faixas do álbum, o ambiente sombrio criado pelas camadas de teclados e guitarras fazem o fundo para a voz cavernosa de Eldritch. A própria bateria eletrônica, que poderia tornar o som menos orgânico,
acabou ajudando a criar um som etéreo e atmosférico, perfeito para os devaneios do vocalista. Ali estão clássicos do mundo gótico como “Black Planet”, “Walk Away” e “Marian”, onde Andrew Eldritch desfila todo seu “romantismo”. "Pornography" (1982), do The Cure, onde os climas são de desolação, paranoia e solidão. As letras, ácidas e agressivas, versando principalmente pelos temas citados e a hipocrisia moral da sociedade são cantadas de forma quase indiferente. Trilhas sonoras de um pesadelo crescente comandadas
por linhas de baixo tortuosas de Simon Gallup e baterias tribais. Todas as faixas seguem linearmente completando uma a outra. Um disco clássico!!!
Henrique Letárgico (vocalista e guitarrista base)
Disco perfeito! Quando ouvi a primeira vez, pensei: Que é isso? Esse disco transborda sentimento. Mudou o modo como eu "via" a música. Cada palavra, cada nota milimetricamente calculadas na medida certa. Sempre serei influenciado por esse disco e toda a obra
de Nick Cave, o mestre.
Uns e Outros - ...e Outros
Nick Cave and the Bad Seeds - The Boatman's Calls
Uns e Outros - ...e Outros
Segundo disco! Esse comprei na época do lançamento, tenho o vinil até hoje. Cara, esse marcou a minha adolescência e me influenciou até os ossos. Letras e arranjos excelentes, e a voz de Marcelo dando o tom suave e cortante ao mesmo tempo. Músicas como
Cartas aos Missionários, Dias Vermelhos, O Aborto, são hinos para mim.
Dgerson Souza (baterista)
Um clássico do rock inglês, esse foi o disco que me fez atentar para a cozinha de uma banda com detalhes. Ou seja, bateria e baixo. Tocado por Pick Withers e John Isleyo. O som que conquistou bateria grave e seca e baixo aveludado. Depois de ouvir esse disco
várias vezes, decidi que tinha que tocar esses dois instrumentos da minha vida.
Esse disco, apesar de ser uma coletânea, me fez entender, definitivamente, que entre bateria e baixo eu deveria seguir a trajetória das baquetas mais rápidas da América Latina. Assim era considerado nos anos 1980 o João Barone, que empunhava e a segurava com
maestria, com a pegada rock e a criatividade de musico brasileiro que ele é. Barone é, para mim, o número um na bateria, minha maior influencia e inspiração na bateria do rock.
Dire Staits - Dire Straits
Paralamas do Sucesso - Arquivo
Bruno Silva (baixista)
Para mim, uma obra prima do rock. Bons riffs de guitarra e lindas linhas de baixo. O que chama a atenção nesse disco de estreia do grupo é exatamente a criatividade dos instrumentistas. The Edge dá show com os demais, além do toque soturno que existe no álbum.
Considero um clássico do post punk.
Esse disco é muito especial para mim. Apesar de não o escutar há bastante tempo, foi o álbum que me incentivou a tocar contra baixo, pode-se dizer que eu aprendi a tocar baixo com esse álbum!!! Fiquei maravilhado com a forma de Peter Hook tocar, sem falar dos
vocais de Ian. Lembro que muitas vezes tinha medo de ouvir esse disco, uma mistura de sentimento ao qual não conhecia, pois tudo era novo para mim, esse álbum abriu muitas portas, foi onde viajei para o mundo do post punk e nunca mais voltei. Mas até hoje
eu evito escutar.
U2 - Boy
Joy Division - Closer