Nas últimas semanas em Salvador, como se não bastasse um
maníaco da seringa, a cidade vem tendo que aturar também palhaços psicopatas atacando
as pessoas no meio da rua. São palhaços com porretes, facão, facas, alguns só
querendo assustar, outros para conseguir seguidores no seu canal do youtube e
aqueles só querendo chamar a atenção. De certa forma isso implica no receio das
pessoas saírem de suas casas para fazer qualquer coisa, afinal de contas, cada
um preza pela sua integridade física, mas sempre tem aqueles que preferem
seguir com o seu cotidiano, com seus trabalhos e, inclusive, divertimentos.
Foram nessas condições que aconteceu, na última quinta
feira, a terceira edição do Soterorock Sessions, evento periódico do site que
leva ao palco três bandas autorais daqui, sempre visando contribuir com a alta
frequência de shows na cidade. Muita gente compareceu ao Taverna Music Bar,
deixando a casa um verdadeiro inferninho no melhor sentido da palavra dentro do
dicionário roqueiro. Papos e risos altos de satisfação em poder estar fazendo
aquilo ali ao lado de amigos, da mesma maneira em rever e conhecer pessoas que
não se veem há muito tempo, a não ser virtualmente. Alguns dançando ao som de
RATM antes das atividades se iniciarem, outros bebendo uma boa cerveja gelada,
outros mais enchendo o lugar a medida em que os minutos passavam, em um fluxo
frenético pelo corredor do bar, se espalhando pelas mesas e a área do som.
Deixando a noite bem quente.
A primeira banda a abrir as atividades foi a Madame
Rivera. O quinteto soteropolitano fez um som bem interessante, bem melhor do
que a boa demo que ele possui em suas redes sociais. Já havia um bom tempo que
intencionava ver a banda ao vivo e essa foi uma boa oportunidade de verificar o
seu som. De perto, a sua presença de palco é interessante. Sem precisar de
muito espaço, o volume musical que a banda alcançou naquela noite serviu para
mexer com muitos que estavam por lá, tanto pelas composições quanto pelas
interpretações das mesmas. As guitarras ficaram mais pesadas, os vocais da
frontwoman mais expressivos e a cozinha bem entrosada foram fatores que
chamaram a atenção e se ampliaram pelo lugar. 24 horas e Invertido foram bons
momentos. Ótima e marcante apresentação de abertura. Depois, foi a vez da Game
Over Riverside subir ao palco com o seu indie-punk-psicodélico. Há quase dois
meses sem se apresentar, os rapazes começaram empolgados com uma sequência de
músicas mais rápidas e velozes do seu EP de estreia, sem perder o fôlego e com
energia de sobra na dose certa para manter o lugar quente.
Os quatro
instrumentos de corda estavam dialogando bem até a metade da apresentação, mas alguns
contratempos referentes a equalização do som do palco fizeram com que o grupo
abrisse mão da sua terceira guitarra na sequência final da sua performance, mas
nada que tirasse a verve dos velhos garotos da cidade baixa naquele momento. Assim como Radio No Jinkan no bloco inicial do repertório, I Can’t Hardly Wait
encerrou de maneira explosiva a atuação dos cinco. Encerrando a noite, a Ronco
levou o seu blues-stoner-rock para a audiência presente e não deixou as pessoas
paradas. Nesta mesma noite, o trio comemorava exatamente um ano de lançamento
do seu primeiro EP e trazia consigo um bom entrosamento, que há muito tempo vem
sendo notado por quem frequenta a cena local. Ainda havia gente presente para
prestigiar o grupo e a sonoridade dos três tomou conta do lugar de maneira volumosa.
Teve gente que balançou a cabeça e o pé, e que pensou também. Havia uma boa
ligação entre banda e público fazendo com que o seu vocalista/guitarrista fosse
tocar algumas vezes em meio a quem se animava com as músicas. A Suicida foi um
bom exemplo disso e A Melhor fechou a sua apresentação e o evento mantendo a
mesma energia do começo.
Com certeza foi uma noite de rock na capital baiana que
valeu a pena ter presenciado. Nela, houve despedida, comemoração, gente
comparecendo e até mesmo cura de enxaqueca. É o rock mais uma vez salvando a
noite e lavando a alma de muita gente. Só não teve maníaco da seringa e nem
palhaço inconveniente, isso não teve mesmo. Ter a oportunidade de compartilhar
bons momentos, com boas pessoas tendo o rock como atmosfera é algo que deve ser
sempre lembrado e frisado. Não é com regras ou receitas de bolo que isso
acontece, não foi diferente dessa vez.
*Matéria originalmente publicada em 01/11/2016.