Não, esse texto não é sobre a foto acima (mesmo sendo
um filme altamente recomendável). O volume de produção das bandas e artistas
baianas de rock é muito maior do que se pode imaginar. Bem maior! Além dos
constantes, praticamente diários, shows do gênero na capital (principalmente) e
no interior da Bahia, e dos lançamentos de EPs e CDs cheios, ambos com
quantidade considerável de faixas, tem acontecido com frequência a
disponibilidade de singles feitos pelos grupos locais. São investidas objetivas
e interessantes, econômicas até, e que mostram um pouco da música de quem o
lança.
Neste ano, até o momento em que escrevo esse texto, um
número considerável desse recurso foi lançado por grupos do cenário daqui,
mostrando a atividade que o estado vem tendo neste sentido. Os propósitos para
a disponibilização dos mesmos são diversos. Seja uma prévia do que virá de um
disco a ser lançado, para dar um gostinho aos seus seguidores (que já esperam por
algo há algum tempo), para marcar um retorno às atividades ou dar início a sua
carreira, ou para preencher o hiato entre um disco e outro, e deixando
registrado em estúdio a sua boa fase de shows. Isso e um pouco mais. Dentro
desse lado da cena, resolvi trazer para essa resenha alguns deles.
Na metade desse ano a banda Free?Gobar lançou o seu
trabalho de estreia com a canção Manipuladores, uma verdadeira porrada
influenciada por bandas da década de 1990 que pode fazer muita gente pular ou
fazer rodas de pogo, ou as duas coisas ao mesmo tempo sem problema algum. Um bom
punch de guitarra e cozinha certeira para os momentos de whiplash. Retornando
aos palcos depois de um ano de hiato, a Tentrio lançou há um pouco mais de uma
semana a música Antílope. Com nova formação, o trio instrumental manteve os
bons riffs de sempre e as surpresas sonoras características do grupo, dando
vazão para que cada instrumento aparecesse bem. Texturas fantasmagóricas
durante o seu desenvolvimento dão um ar misterioso ao single. Prestes a lançar
disco novo, a Bilic disponibilizou dois singles inéditos, um deles foi Bike,
que já mostra uma banda diferente em termos de direcionamento musical.
Um pouco
mais psicodélica, mas sem se desprender do seu passado, o que é bom e instiga a
curiosidade pelo seu próximo lançamento. Esse amadurecimento musical dos rapazes
fica mais claro em Pessoa Estranha, mais outra faixa que eles disponibilizaram
antes do seu próximo disco, dentro da coletânea NHL Music #2. Esta mostra mais
personalidade e mais psicodelismo com bons solos de guitarra. Mais um que vem
dando boas prévias do seu próximo trabalho é o Irmão Carlos, nesta semana ele
lançou a lyric vídeo de Seu Lugar, faixa com muito groove, balanço e todos os
elementos que o compositor consegue conectar. Do rock até a black music,
passando pela música popular brasileira, o Irmão Carlos compôs uma verdadeira
pedrada com ótimos arranjos e com letra inteligente que te faz dançar e
refletir ao mesmo tempo, assim como foi com Engrenagem da Ilusão, lançada um
pouco antes, dentro da coletânea produzida pelo próprio. Essas sinalizam coisas
boas pela frente.
Considerado uma das grandes apostas do cenário musical
baiano, o Giovani Cidreira lançou há poucos meses Vai Chover, composição feita
por ele e pelo Paulo Diniz (ex-Weise). O ex-vocalista da Velotroz surge com
essa canção singela e bem requintada em termos de sonoridade (mesmo com um
toque low-fi), com guitarras desconcertantes e clima atmosférico. Em relação ao
ano de 2015, a Cartel Strip Club andou um pouco distante dos palcos ultimamente,
porém a banda andou bem ocupada com seus trabalhos dentro do estúdio e lançou
Queen of Hearts, boa música de ótimos vocais e pegada indie dos anos 2000 e dos
longínquos 1990 e cheia de energia. Mesmo tendo a sua formação reduzida de sete
para, oficialmente, três integrantes, pouco foi mudado na qualidade do grupo.
Ainda lançaram a instrumental e um pouco mais psicodélica Autum, também na
coletânea NHL Music #2. Como uma das figuras mais importantes do cenário local
e tendo influenciado uma boa parte dos artistas em atividade o cantor e
compositor Messias (brincando de deus) lançou em agosto Inner Silence (louder
than ever version), single com uma bela parede de guitarras, programação e
teclado. Ela soa como uma música de transe e consegue levar o ouvinte a lugares
diferentes. Boa investida para o seu disco solo que sairá em breve. Ela ainda
ganhou uma interessante versão remix, se tornando um pouco mais agitada que a
original.
Depois do disco Plongée (2015), a cantora e
compositora Nalini Vasconcelos retornou ao estúdio para gravar Falling in Love.
Diferente do seu trabalho anterior, que foi mais fincado no folk, ela traz aqui
uma composição com mais guitarra, texturas atmosféricas e uma bateria bastante
presente, letra com voz doce e sussurrada em inglês e um clima britpop intenso que
gruda bem no ouvido. Depois de dois anos do seu disco de estreia, a Van der
Vous volta em uma gravação junto ao seu psicodelismo com um single de
característica mais low-fi, mas sem perder a sua essência. Poesia Lunática traz
uma sensação flutuante, bons efeitos de guitarra e interessante linha de baixo.
O volume baixo do vocal não compromete o desempenho da canção, que sacia a
vontade de seus seguidores por um novo registro.
Também sem lançar um disco
cheio desde 2011 e vindo de um single de 2013, a alagoinhense Universo Variante
trouxe Fio de Teseu, composição que mescla um pouco de samba, psicodelismo e
rock, tudo isso sem ser datado, com algumas boas estranhices em seus arranjos e
texto interessante. É divertida, pode te levantar o astral e a explosão final
do ótimo solo de guitarra, mais a guitarra base e o baixo e a bateria firmes
convidam o ouvinte a uma nova audição. De Camaçari, a Rivermann deixou
registrado neste ano a canção Ninguém é Tão Doce, onde mostra muito bem o
amadurecimento da banda ao longo dos anos com uma ótima melodia e letra, isso sem
se desprender das boas influências nas guitarras sonicyouthanas dentro do
momento noise que a faixa pede. Os feirenses da 32 Dentes também estrearam no
cenário este ano com o lançamento de um EP com três faixas. Peleja tem bastante
energia e é repleto de riffs que transitam entre o stoner e um pé no hard rock
em suas composições (Nada Além do Orgulho e Dolores) e uma balada no final
(Xôxa).
Estes foram alguns singles lançados neste ano de 2016
em suas mais diferentes circunstâncias e propósitos. Mas o mais interessante é
a importância da movimentação desses artistas solo e grupos dentro do cenário
no que se refere o registro dos seus trabalhos e ao bom nível feito de execução
nestes exemplos. É também uma maneira eficaz de fomentar a cena local e manter
o público interessado neste tipo de música atualizado e familiarizado com o que
está acontecendo. Investidas pontuais que acabam por fazer uma grande diferença
para o cenário como um todo. E faz mesmo!
Escute os singles clicando aqui:
Free?Gobar - Manipuladores: https://soundcloud.com/free-gobar/manipuladores-freegobar-1
Bilic – Pessoa Estranha: https://soundcloud.com/nhlmsc/05-bilic-pessoa-estranha?in=nhlmsc/sets/nhl-music-2
Irmão Carlos – Engrenagem da Ilusão: https://soundcloud.com/estudio-caverna-do-som/06-engrenagem-da-ilusao?in=estudio-caverna-do-som/sets/outro-jeito-da-bahia-pro-mundo
Messias – Inner Silence (dusseldorf mix): https://messias.bandcamp.com/track/inner-silence-d-sseldorf-mix
32 Dentes - Peleja: https://soundcloud.com/32dentesrock/sets/32-dentes-peleja-ep
*Matéria originalmente publicada em 22/11/2016.