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Débitos em dia.*


A última sexta foi mais uma Sexta From Hell e o Portal Soterorock foi conferir como foi o evento que ocorre sempre no início do final de semana, lá no The Other Place, na garagem do Hell’s Angels. Com uma programação pronta para praticamente todo o ano, a festa já vem se consolidando na cena e atraindo mais gente a cada edição. Nessa ocasião em especial, o line up tinha bandas que há muito tempo o site devia uma visita a seus shows.

Esse débito para uma das bandas, já existia desde os primórdios do site, quando começamos a dar mais espaço para bandas locais. A Jato Invisível foi um dos primeiros grupos a ser citado por aqui e desde então muita pedra rolou em datas e desencontros para ver o quarteto em ação ao vivo. Mas enfim aconteceu. A outra banda foi a Pâncreas, que já tinha um bom tempo sem vê-los ao vivo (desde 2014, no Palco do Rock) e só agora realizamos essa presença no show dos caras depois de mais de dois anos.

Quem abriu os trabalhos foi a Jato Invisível. Tocando junto há bastante tempo, o conjunto de Lauro de Freitas se saiu bem fazendo uma apresentação bem empolgante, fazendo um punk rock de canções autorais e alguns covers de boa presença, como o Me Perco Nesse Tempo, das Mercenárias. O baterista é um membro recente na banda, porém o entrosamento da cozinha se mostrou bem encaixado com a guitarra e o ânimo não caiu durante toda a apresentação. A canção Remédio foi um ponto alto da performance, assim como o baixo sendo trocado de mãos entre o Alex e a Sioux enquanto um dos dois assumia os vocais. Bem no final da apresentação eles tiveram um pequeno problema com o cabo do microfone, mas isso não era de responsabilidade deles e também não tirou a graça da performance.

Depois a Pâncreas subiu ao palco e fez um show igualmente animada. Com um bom humor já conhecido da banda, os quatro rapazes fizeram um bom punk rock que esquentou o lugar e me fez lembrar do primeiro momento que os vi anos atrás. Eles estão mais entrosados e o seu show em um palco menor melhora o seu desempenho. Rio Acima, A Morte te dá as Mãos e as versões de Remédio (Jato Invisível) e Help (Beatles) foram bons momentos. Teve telefone celular do guitarrista tocando antes de Eu Quero Você pra Mim, que parece ter legitimado a letra na qual, segundo Shinna (vocal), foi feita baseada na condição de assédio vivida constantemente pelo seu companheiro de banda. Mais uma boa e divertida performance.

Fechando a noite ainda teve a Ronco, que havia menos tempo tendo sido visitada, mas que trouxe uma boa surpresa em seu repertório. Mesmo ditando um ritmo diferente dos grupos anteriores, menos acelerado e não menos bom, o trio fez o seu stoner rock bem feito e cada vez mais calejado nos palcos daqui. Prezando por uma boa sonoridade ao vivo, os rapazes parecem mais íntimos com sua música, arriscando mais nuances que antes não faziam nelas e deixando o som mais redondo. Daikiri ficou bem interessante e A Suicida está cada vez mais psicodélica em seu interlúdio. A surpresa ficou a cargo da inclusão de um cover no seu set list (se eu não me engane é o primeiro cover que eles botam em um show), onde, assim como a Pâncreas fez com a Jato Invisível em Remédio, a Ronco tocou Santa Poeira, dos feirenses da Novelta. Mandou bem e agradou muita gente.


Ao fim, débitos foram pagos em uma noite boa para se curtir um bom rock na cidade. Foi divertido, surpreendeu em alguns momentos e mostrou a boa qualidade que a cena desfruta atualmente. O bar ainda tocava um bluegrass acelerado enquanto algumas pessoas ainda conversavam sobre os sons e outras jogavam sinuca. Belas motos ainda podiam ser admiradas, mas o tempo corria e o taxista da vez parecia querer quebrar essa velocidade de tão rápido que estava. Quase viajei no tempo, mas só quase!


*Matéria originalmente publicada em 18/04/2016.

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