O
retorno da nossa série de entrevistas traz desta vez Eduardo Slayer, o
vocalista da lendária banda de doom metal baiana. Aqui, ele nos falou sobre
como foi lançar a sua primeira demo tape e sobre as influências do grupo, o
porque de tanto tempo sem lançar material inédito, sobre o novo EP e a cena
local e nacional do metal na atualidade, sobre a tão aguardada apresentação no
PDR desse ano e os planos da The Cross para o futuro. Aumente o som e mergulhe
na conversa.
SoteroRockPolitano – Gostaria de começar a
entrevista falando um pouco sobre o fato da The Cross ser considerada a
primeira banda de doom metal da América Latina. A demo tape The Fall é o registro incontestável
deste fato. Como foi lança-lo e divulga-lo no início dos anos 1990 e como foi a
sua repercussão na época?
Eduardo Slayer – Primeiramente, obrigado por ceder esse espaço para o The
Cross. A demo-tape The Fall
inicialmente seria um split album com
a banda cearense Obskure, porém a gravadora Bazar Musical Records teve
problemas financeiros. Resolvi então transformar esse trabalho numa demo-tape e
divulga-la em fanzines do Brasil e de
várias partes do mundo. A The Fall
teve uma repercussão grande pelo fato do som da banda ser bem diferente do que
rolava na cena underground de então.
Foi nessa época que conseguimos distribuir o nosso material na Europa via a Holy
Records, uma gravadora francesa. Paralelo a isso, a Moribund Records distribuiu
a gente nos EUA. Foi desse jeito que ficamos conhecidos no exterior.
SRP – O grupo passou por um hiato de duas
décadas para gravar um novo registro. Porque o The Cross levou tanto tempo para
lançar um trabalho com canções inéditas?
ES – Resolvi terminar a
banda em 1998 por causa das constantes mudanças de formação. Não tinha como
gravar nada com uma formação tão instável.
SRP – O novo EP, Flames Through Priests, possui duas faixas novas com quase vinte
minutos de música, com uma sonoridade pesada e intensa. Nos fale um pouco sobre
o seu processo de criação. O que inspirou as novas composições?
ES – Gravamos esse EP
depois de quatro meses de ensaio para mostrar a que tínhamos voltado para a
cena. O processo de criação foi intenso e sombrio: eu e Elly criamos as músicas,
e as letras são minhas. A inspiração de “Sweet Tragedy” foi o vazio e a
angústia sentidos pelo homem contemporâneo. Já “Cursed Priest” é um diálogo com
um padre dentro de um confessionário, um padre que é questionado sobre a sua
falsa fé no cristianismo.
SRP – Mesmo sendo um trabalho de
inéditas, a banda incluiu o The Fall (1993)
como conteúdo extra no EP. O que levou o grupo a decidir colocá-lo na obra?
ES – Achamos que seria
interessante os fãs ouvirem o Flames
Through Priests lado a lado com a demo The
Fall, para comparar as músicas novas com o material que nos projetou no
cenário mundial.
SR – Os antigos e novos admiradores da
The Cross podem esperar um disco do conjunto para breve?
ES – Podem sim. O nosso primeiro disco sai em Julho.
Ele vai se chamar The Cross. Em Junho
sairá um single virtual com duas
faixas: “The Skull & The Cross” e um lado B instrumental, “Evil Doom Metal
– Part II”.
SRP – Falando agora sobre apresentações,
a banda voltou aos palcos agora em Fevereiro no Palco do Rock, um show que foi
considerado, de antemão, histórico para o underground baiano. Como foi a
apresentação? Vocês registraram esse momento especial de alguma forma?
ES – O show foi realmente
fantástico... foi muito bom ter esse momento junto aos verdadeiros fãs do underground. E sim, registramos o show
com cinco câmeras. Estamos estudando a possibilidade de lançar esse show em
DVD; não temos um nome para ele ainda, mas provavelmente será Live Hell (bem sugestivo, rs). Outra
alternativa seria liberar o show gratuitamente no nosso canal do YouTube.
SRP – Há pretensões da banda de cair na
estrada depois do show no PDR? Já existe uma agenda de shows do grupo?
ES – Existe várias
propostas para shows, mas o foco do The Cross hoje é a gravação do disco.
SRP – Pelas novas faixas se percebe ainda
bastante influência de Black Sabbath no som da banda. O que mais a The Cross
tem escutado ultimamente? Há algo novo em meio as influências tradicionais do
conjunto?
ES – Cada membro da banda
tem seus gostos pessoais. Eu, Eduardo Slayer, escuto muita coisa dentro do
heavy metal. Sobre influências novas? Temos, mas não seguimos as tendências
atuais. Eu particularmente gosto muito de bandas como Isole, Ahab, Novembers Doom,
Saturnus e My Dying Bride. Já Elly aprecia o trabalho do Avatarium, Krux,
Funeral, Disciples of Doom, Forsaken e Ghost B.C.
SRP – Tendo atuado no início da década de
1990 e retornando agora, como a The Cross enxerga a atual cena baiana e
nacional de metal? O que tem se mostrado positivo e negativo no cenário
atualmente?
ES – Como ficamos muito
tempo afastados da cena de Salvador, pude observar à distância a evolução do underground baiano nesses últimos 20
anos. Posso dizer o seguinte: muita coisa precisa melhorar. Sobre a cena nacional,
acho que ela cresceu muito, mas ainda existe, infelizmente, uma mídia bairrista.
Temos bandas ótimas que não conseguem espaço por causa disso.
SRP – Encerrando, abro sempre espaço para
o entrevistado deixar um recado para os nossos leitores. Se quiser deixar
alguma mensagem, fique à vontade!
ES – Primeiro lugar,
agradeço a oportunidade de estar aqui com vocês. Segundo, agradecer ao publico que
estava em nosso show do Palco do Rock. Espero que vocês gostem do nosso EP, e
em Julho sai o nosso disco. Absorvam o doom metal, que para mim é o melhor
entre os estilos do heavy metal. Escutem e tirem suas conclusões... Okill? See you in hell!
*Matéria originalmente publicada em 12/02/2016.